sábado, 1 de outubro de 2016

Em 1987, Mariana Moreira, escreveu e publicou no jornal A União, esse artigo sobre o trabalho do Artista Plástico Marcos Pê.


Pedra do Sol: A agrestidade sempre presente


Marcos Pê: Mistura de Arte
Mariana Moreira  - Da Sucursal


“A essência do artista está na coragem de mostrar o seu interior sem se perder a normas ou padrões”. A frase traz o cheiro das manifestações revolucionárias que sacudiram o panorama cultural brasileiro no caldeirão do movimento modernista alinhavado na década de 20, e que, mais de 60 anos depois agita o monótona universo artístico cajazeirense, enclausurado entre as paredes suspensas do Atelier de Artes Plásticas do Núcleo de Extensão Cultural (leia-se NEC) – uma experiência capitaneada pela Universidade Federal da Paraíba e que precisa de uma reavaliação urgente sob pena de perecer por inanição criativa.

O revolucionário (ou vilão) do enredo é o artista plástico Marcos Pê, cajazeirense e hoje vivendo em Teresina, onde tenta, através da prática cotidiana de exercícios de malabarismo e auxiliado pelo sufocante sol piauiense, conciliar asa vertentes da artista plásticos, poeta, compositor, arte finalista e ator (esta última momentaneamente arquivada pela decantada necessidade de sobrevivência). Inaugurando, em Cajazeiras, a Mostra de Artes Plásticas, que fica em cartaz na Biblioteca Pública Municipal té o próximo dia 24, ele busca o que para muitos artistas, é o maior percalço na aceitação do seu trabalho: fazer com que as pessoas dispam-se da empatia angustiante frente a uma obra de arte e vence o estágio da avaliação contemplativa mergulhando no trabalho de interpretação crítica da tela e do próprio sentimento do seu autor;


Os caminhos seguidos por Marcos Pê para vencer a empatia enveredam por uma temática variada, sem a compulsoriedade do academicismo de escolas ou conceitos, mesclando traços primitivistas, surrealistas, naturalistas, inspirados na agressividade da vida nordestina ou na simples forma geométrica de uma figura circular. Assim, a profusão de estilos une-se a música e a poesia na perseguição retirante à valorização do ator-criador e do consumidor que não carece vir rotulado com a etiqueta do “made in”. A poesia nasce da mistura criativa dos cajazeirenses Gregório Guimarães e Josival Pereira e dos piauienses Adolfo Araújo, Rangel Lins e Alaides Barbosa,, acompanhando cada tela, enxertando-as com um sabor de tradução verbal e carnal porque processa uma simbiose que extrapola os limites da individualidade. O social, porém, não  alcança as raias das ruas e praças, no usufruto popular, porque, para Marcos Pê a pintura ainda se enfeuda nos castelos burgueses, servindo ao leite da elite.

Zelando pela primazia de “uma questão de mudança” a Mostra de Artes Plásticas de Marcos Pê buscou também na música o derradeiro elemento de sublevação, na voz atrasadamente protestante de Jocélio Amaro, navegando nas saudades de Um Vandré contestador da década de 60 e de um Fágner de outros anos idos. Mas ele chaga, “vem que o dia tem pressa, a noite chega e o dia escurece... O espaço existe. E é todo teu”, como evangeliza Adolfo Araújo.

Espera: A arte como feminino

Na esteira das mudanças Marcos Pê pega carona no verbo e faz, na qualidade do ex-rebento, uma avaliação do que é hoje, o Atelier de Artes Plásticas de Cajazeiras, tão descartável quanto sua proposta atual, algo vazio, indefinido, onde um grupo de artistas está sendo utilizado para a prestação de serviços a determinadas pessoas, sem o legítimo reconhecimento do seu talento e do seu potencial criativo. Esse mesmo NEC - braço tronco da Universidade, fechou suas portas para a Mostra de Marcos Pê, num gesto seguido por outras pessoas e entidades que se arvoram em promotores culturais, citando Prefeitura Municipal, Telma Cartaxo, João de Deus Quirino, V Campus da UFPB. O respaldo veio mesmo da iniciativa privada, através do Grupo Claudino, de Teresina, que se fez de mecenas e vem dando todo suporte logístico para que o artista arrebente sua veio criativa, sentindo uma avidez “em cada traço, em cada palavra, em cada gesto e em cada passo”.









fonte: Jornal A União, Janeiro de 1987, dia 20 - Terça-Feira, página 06, Geral.

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