Pedra do Sol: A agrestidade sempre presente
Marcos Pê: Mistura de Arte
Mariana Moreira - Da Sucursal
“A
essência do artista está na coragem de mostrar o seu interior sem se perder a
normas ou padrões”. A frase traz o cheiro das manifestações revolucionárias que
sacudiram o panorama cultural brasileiro no caldeirão do movimento modernista
alinhavado na década de 20, e que, mais de 60 anos depois agita o monótona
universo artístico cajazeirense, enclausurado entre as paredes suspensas do
Atelier de Artes Plásticas do Núcleo de Extensão Cultural (leia-se NEC) – uma
experiência capitaneada pela Universidade Federal da Paraíba e que precisa de
uma reavaliação urgente sob pena de perecer por inanição criativa.
O
revolucionário (ou vilão) do enredo é o artista plástico Marcos Pê,
cajazeirense e hoje vivendo em Teresina, onde tenta, através da prática
cotidiana de exercícios de malabarismo e auxiliado pelo sufocante sol
piauiense, conciliar asa vertentes da artista plásticos, poeta, compositor,
arte finalista e ator (esta última momentaneamente arquivada pela decantada
necessidade de sobrevivência). Inaugurando, em Cajazeiras, a Mostra de Artes
Plásticas, que fica em cartaz na Biblioteca Pública Municipal té o próximo dia
24, ele busca o que para muitos artistas, é o maior percalço na aceitação do
seu trabalho: fazer com que as pessoas dispam-se da empatia angustiante frente
a uma obra de arte e vence o estágio da avaliação contemplativa mergulhando no
trabalho de interpretação crítica da tela e do próprio sentimento do seu autor;
Os
caminhos seguidos por Marcos Pê para vencer a empatia enveredam por uma temática
variada, sem a compulsoriedade do academicismo de escolas ou conceitos,
mesclando traços primitivistas, surrealistas, naturalistas, inspirados na
agressividade da vida nordestina ou na simples forma geométrica de uma figura
circular. Assim, a profusão de estilos une-se a música e a poesia na
perseguição retirante à valorização do ator-criador e do consumidor que não
carece vir rotulado com a etiqueta do “made in”. A poesia nasce da mistura
criativa dos cajazeirenses Gregório Guimarães e Josival Pereira e dos
piauienses Adolfo Araújo, Rangel Lins e Alaides Barbosa,, acompanhando cada
tela, enxertando-as com um sabor de tradução verbal e carnal porque processa uma
simbiose que extrapola os limites da individualidade. O social, porém, não alcança as raias das ruas e praças, no
usufruto popular, porque, para Marcos Pê a pintura ainda se enfeuda nos
castelos burgueses, servindo ao leite da elite.
Zelando
pela primazia de “uma questão de mudança” a Mostra de Artes Plásticas de Marcos
Pê buscou também na música o derradeiro elemento de sublevação, na voz
atrasadamente protestante de Jocélio Amaro, navegando nas saudades de Um Vandré
contestador da década de 60 e de um Fágner de outros anos idos. Mas ele chaga,
“vem que o dia tem pressa, a noite chega e o dia escurece... O espaço existe. E
é todo teu”, como evangeliza Adolfo Araújo.
Espera: A arte como feminino
Na
esteira das mudanças Marcos Pê pega carona no verbo e faz, na qualidade do
ex-rebento, uma avaliação do que é hoje, o Atelier de Artes Plásticas de
Cajazeiras, tão descartável quanto sua proposta atual, algo vazio, indefinido,
onde um grupo de artistas está sendo utilizado para a prestação de serviços a
determinadas pessoas, sem o legítimo reconhecimento do seu talento e do seu
potencial criativo. Esse mesmo NEC - braço tronco da Universidade, fechou suas
portas para a Mostra de Marcos Pê, num gesto seguido por outras pessoas e
entidades que se arvoram em promotores culturais, citando Prefeitura Municipal,
Telma Cartaxo, João de Deus Quirino, V Campus da UFPB. O respaldo veio mesmo da
iniciativa privada, através do Grupo Claudino, de Teresina, que se fez de
mecenas e vem dando todo suporte logístico para que o artista arrebente sua
veio criativa, sentindo uma avidez “em cada traço, em cada palavra, em cada gesto
e em cada passo”.
fonte: Jornal A União, Janeiro de 1987, dia 20 - Terça-Feira, página 06, Geral.
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