Padre Rolim não é patrimônio da Igreja. Nem da
família. Nem de Cajazeiras. Inácio de Sousa Rolim é patrimônio de todos. Da
Paraíba, do sertão, do Nordeste, do Brasil. Por isso, qualquer cidadão pode
falar de sua vida, de sua obra, de seu legado. Ou do menosprezo à memória dele,
e até de possível injustiça praticada pela Igreja e pelas autoridades civis,
como censurou em agosto deste ano o padre Francivaldo Nascimento, em
desabafo-denúncia divulgado pela TV Diário do Sertão. Não sei se
tal fala obteve a repercussão que a seriedade do assunto merece ou se as
palavras caíram em corrente inútil do vento midiático. Esta semana, revi o
vídeo produzido por José Dias Neto e Jocivan Pinheiro e o compartilhei em minha
linha do tempo do Face-book, para registro histórico.
O padre
Rolim nunca foi estudado com profundidade.
Explico. Não existe análise abrangente das
múltiplas dimensões de sua trajetória, com interpretação crítica que resulte na
formação de seu perfil completo. Os cajazeirenses nos habituamos a enaltecer suas
extraordinárias qualidades de estudioso e educador, esquecendo de acompanhar
seus passos em outras direções. Nos acomodamos, achando que a tarefa já fora
cumprida. Engano. Deusdedit Leitão, o mais cuidadoso pesquisador de nossa
história, deixou contribuição, até hoje inigualável, por meio sobretudo do
livro O educador dos sertões: vida e obra do padre Inácio de Sousa
Rolim, (1990), no qual ele corrige, inclusive, alguns enganos da biografia
pioneira de padre Heliodoro Pires, Padre mestre Inácio Rolim: um trecho
da colonização do Norte brasileiro e o padre Inácio Rolim, (1916). Além
disso, há inúmeras contribuições esparsas, desde o artigo de Belisário Cartaxo
(A Imprensa, 1903) a ensaios, reportagens e notas em revistas e jornais.
É pouco,
muito pouco.
Muito pouco para a grandeza de uma das figuras mais
expressivas do clero nordestino no século XIX. Falta a obra definitiva, de
preferência crítica e menos laudatória, que alcance as profícuas ações do padre
Rolim. Existem, é verdade, contribuições relevantes como o ensaio Padre-mestre
Inácio de Souza Rolim, um retrato esquecido, do saudoso dominicano,
professor da Universidade Federal Fluminense, Francisco Cartaxo Rolim, doutor
pela USP, respeitado autor de livros de Sociologia da Religião.
Dom José Gonzalez Alonso teve a iniciativa de
encarregar o então vigário de Triunfo, padre José Andrade, de recolher dados
para a elaboração de nova biografia do padre mestre. Pelo que sei, Andrade
juntou tudo o que lhe chegou às mãos, coletou informações em arquivos de capelas
e lugares por onde andou padre Rolim. Enfim, acumulou acervo desconhecido por
cronistas, historiadores, memorialistas acerca da ação sacerdotal do filho de
Mãe de Aninha. Esses dados demonstrariam que a missão do padre Rolim foi muito
além da conhecida dedicação à educação dos sertanejos. Quem sabe, podem abrir
clarões para a revisão da biografia do padre Rolim.
A diocese
abandonou o projeto?
Não se tem notícia dos resultados do esforço
realizado nem da sequência normal à minuciosa tarefa do padre Andrade. É lícito
esperar que o novo bispo, dom Francisco de Sales, dê uma chance à história do
padre Rolim, retomando a preocupação de seu antecessor na diocese. E impulsione
o projeto, dando-lhe apoio e consistência. Afinal, a criação da diocese de
Cajazeiras tem muito a ver com a figura e com os frutos duradouros da ação e do
prestígio que o padre Rolim projetou na Igreja brasileira e no Nordeste.
ROLIM, Francisco
Sales Cartaxo é autor do livro Guerra ao fanatismo: a diocese de
Cajazeiras no cerco ao padre Cícero (Recife: 2016).
Oi obrigada pela a informação
ResponderExcluirOi obrigada pela a informação
ResponderExcluirObrigado, digo eu, por você ter acessado essa página.
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