No auge do seu oficio como jornalista, Nonato
Guedes foi testemunha ocular como qualquer um cajazeirense do seu tempo, da luta
dos atores de sua terra em busca de um espaço apropriado, onde pudesse representar
suas produções teatrais.
Nesse artigo, ele escreve com detalhes os
momentos de euforia vividos pelos nossos amadores, com a notícia dado pelo governador
Wilson Braga, de que o governo do Estado, definitivamente, iria construir um
teatro na cidade.
Entretanto, é bom ser citado, que até o
governador Braga trazer a boa nova para classe cênica de Cajazeiras, muita
força de vontade rolou pelos poros daqueles que estiveram à frente da luta pela
construção desse espaço cênico.
Essa luta do povo de Cajazeiras, que varou
décadas pela construção de seu teatro, hoje devidamente edificado e em ampla
reforma e ampliação pelo Governo do Estado, não foi prematuramente um devaneio contemporâneo
da sua classe teatral, mas sim, um sonho antigo automatizado desde as primeiras
produções teatrais que se tem conhecimento na cidade.
Algumas dessas produções, foram protagonizadas pelas
emblemáticas esquetes montadas nos anos 40, por padres salesianos na Ação Católica,
entre esses, com destaque para o Padre Luiz Gualberto de Andrade, que dividiu os
palcos improvisados da cidade com as isoladas ações nesse campo da dramaturgia,
com grupos de nomes pouco sugestivo na linguagem teatral, como por exemplo, Os Romeiros do Futuro; e doravante, puncionadas pelas montagens
clássicas nos tempos do TAC de Hidelbrando Assis, e agudamente abraçada com
mais consistência política nos idos de 70 e 80, pela intensa movimentação de
sua dramaturgia moderna, tendo à frente as resistências intervenções da Metac, Tac e Grutac,
depois Cajá, Boiada e Terra.
Nessa insigne regularidade que as produções
desses grupos teatrais apresentavam, fez de Cajazeiras, a primazia na produção
teatral do sertão e com a demanda em ascensão, surgiram eventos de destaques
nesse campo, como a realização das versões do Festival de Teatro Rápido, transformado
nos anos 80, no Sertanejo de Artes Cênicas e muito além de um sonho, com a decolagem meteórica nos primeiros anos da década de 90, de seus atores, cito entre eles os casos de Nanego Lira, Sôia Lira, Ana de Lira e Marcélia Cartaxo, rumo ao estrelato na dramaturgia nacional.
Veja abaixo o texto de Nonato
Guedes, publicado no Jornal A União, em 1983, dia 25, (uma Quarta-feira), Pág. 07
- Estado, há 33 anos atrás.
O
SONHO DE UM TEATRO
Nonato Guedes
Embora seja tida como política conservadora, a
cidade de Cajazeiras sempre teve uma posição de vanguarda do ponto de vista
cultural, e, sobretudo nos últimos anos, as iniciativas nesse campo ali tem
florescido como uma regularidade ininterrupta. A cidade vive um processo de
efervescência e de reinventarão cultural, onde manifestações as mais variadas
se sucedem, desafiando a pobreza dos recursos matérias e a própria situação
socioeconômica da população, que em tese torna a cultura um produto de luxo
numa terra castigada pela seca e pela falta de emprego.
O poder público local, por outro lado, acossado
pelas suas limitações, nem sempre tem condições de bancar o mecenas dos grupos
criativos que proliferam. Nem por isso a resistência dos vanguardeiros
cajazeirenses se esgota. Eles recorrem a outras fontes menos combalidas ou
apelam para o improviso das promoções artesanais, contanto que os espaços não
fiquem vazios nem a imaginação posta de quarentena.
Na década de 70, participei ativamente de
alguns movimentos que pipocavam em Cajazeiras. Éramos um punhado de jovens
idealistas empenhados em declarar guerra ao maramos e a inanição do espírito. A
“senha” era não ficar indiferente, e, por isso, mexíamos com tudo, desde
grêmios estudantis a certames de poesia, encenações teatrais, festivais de
música e tertúlias cineclubísticas, numa movimentação tão intensa que acabava
atraindo inevitável repercussão regional. Como pano de fundo dessa “cruzada”
havia a já tradicional Semana Universitária, uma promoção sempre polêmica, mas
invariavelmente concorrida.
Divergências à parte, a luta comum desses
grupos era para a construção de um teatro ou um Centro Cultural que viabilizasse
as manifestações em ebulição. Ubiratan di Assis, Gutemberg Cardoso, Tarcísio
Siqueira, Carlos Alberto Assis Montenegro, Josival Pereira, entre muitos outros,
já não se conformavam em extravasar talentos entre as paredes apertadas do
Colégio Diocesano, onde nem a acústica ajudava, ou em tomar de empréstimo os
salões do cine Apolo XI ou do cine Éden, a preços nem sempre acessíveis, para
poder protagonizar tudo a que tinham direito na sua inquietude mental.
Durante muito tempo concordaram em abrir mão desse
sonho, em nome de outras prioridades que o homem do sertão estava a exigir. Mas
a certeza de novos e bons tempos continuava alimentando as ilusões desse bando
de obstinados, e dos outros que pegaram carona no caminho. Segunda-feira
última, o governador Wilson Braga, que como deputado testemunhou essa luta
titânica, levou-me, de surpresa, a Cajazeiras e lá me mostrou o terreno do
futuro teatro.
A crise econômica é mais grave, na região, mas
a cultura passa a também ser prioridade em meio à mágica dos orçamentos
apertados. Não seria um investimento cara – o terreno já é do Estado, está
ocioso, falta apenas ter ocupação. Reencontrei Gutemberg Cardoso, eufórico,
exigente, dando palpites como se fosse um engenheiro ou um “expert” em
dimensões de obras públicas. E o governador garantindo que comprou essa briga.
Não posso deixar de acreditar que enfim “o sonho será realidade. ” Lembra,
Ubiratan? ...
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