sábado, 10 de setembro de 2016

Teatro de Cajazeiras, muito além de um sonho.

Cleudimar Ferreira




No auge do seu oficio como jornalista, Nonato Guedes foi testemunha ocular como qualquer um cajazeirense do seu tempo, da luta dos atores de sua terra em busca de um espaço apropriado, onde pudesse representar suas produções teatrais.

Nesse artigo, ele escreve com detalhes os momentos de euforia vividos pelos nossos amadores, com a notícia dado pelo governador Wilson Braga, de que o governo do Estado, definitivamente, iria construir um teatro na cidade.

Entretanto, é bom ser citado, que até o governador Braga trazer a boa nova para classe cênica de Cajazeiras, muita força de vontade rolou pelos poros daqueles que estiveram à frente da luta pela construção desse espaço cênico.

Essa luta do povo de Cajazeiras, que varou décadas pela construção de seu teatro, hoje devidamente edificado e em ampla reforma e ampliação pelo Governo do Estado, não foi prematuramente um devaneio contemporâneo da sua classe teatral, mas sim, um sonho antigo automatizado desde as primeiras produções teatrais que se tem conhecimento na cidade.

Algumas dessas produções, foram protagonizadas pelas emblemáticas esquetes montadas nos anos 40, por padres salesianos na Ação Católica, entre esses, com destaque para o Padre Luiz Gualberto de Andrade, que dividiu os palcos improvisados da cidade com as isoladas ações nesse campo da dramaturgia, com grupos de nomes pouco sugestivo na linguagem teatral, como por exemplo, Os Romeiros do Futuro; e doravante, puncionadas pelas montagens clássicas nos tempos do TAC de Hidelbrando Assis, e agudamente abraçada com mais consistência política nos idos de 70 e 80, pela intensa movimentação de sua dramaturgia moderna, tendo à frente as resistências intervenções da Metac, Tac e Grutac, depois Cajá, Boiada e Terra.

Nessa insigne regularidade que as produções desses grupos teatrais apresentavam, fez de Cajazeiras, a primazia na produção teatral do sertão e com a demanda em ascensão, surgiram eventos de destaques nesse campo, como a realização das versões do Festival de Teatro Rápido, transformado nos anos 80, no Sertanejo de Artes Cênicas e muito além de um sonho, com a decolagem meteórica nos primeiros anos da década de 90, de seus atores, cito entre eles os casos de Nanego Lira, Sôia Lira, Ana de Lira e Marcélia Cartaxo, rumo ao estrelato na dramaturgia nacional. 

Veja abaixo o texto de Nonato Guedes, publicado no Jornal A União, em 1983, dia 25, (uma Quarta-feira), Pág. 07 - Estado, há 33 anos atrás.        


O SONHO DE UM TEATRO
Nonato Guedes


Embora seja tida como política conservadora, a cidade de Cajazeiras sempre teve uma posição de vanguarda do ponto de vista cultural, e, sobretudo nos últimos anos, as iniciativas nesse campo ali tem florescido como uma regularidade ininterrupta. A cidade vive um processo de efervescência e de reinventarão cultural, onde manifestações as mais variadas se sucedem, desafiando a pobreza dos recursos matérias e a própria situação socioeconômica da população, que em tese torna a cultura um produto de luxo numa terra castigada pela seca e pela falta de emprego.

O poder público local, por outro lado, acossado pelas suas limitações, nem sempre tem condições de bancar o mecenas dos grupos criativos que proliferam. Nem por isso a resistência dos vanguardeiros cajazeirenses se esgota. Eles recorrem a outras fontes menos combalidas ou apelam para o improviso das promoções artesanais, contanto que os espaços não fiquem vazios nem a imaginação posta de quarentena.

Na década de 70, participei ativamente de alguns movimentos que pipocavam em Cajazeiras. Éramos um punhado de jovens idealistas empenhados em declarar guerra ao maramos e a inanição do espírito. A “senha” era não ficar indiferente, e, por isso, mexíamos com tudo, desde grêmios estudantis a certames de poesia, encenações teatrais, festivais de música e tertúlias cineclubísticas, numa movimentação tão intensa que acabava atraindo inevitável repercussão regional. Como pano de fundo dessa “cruzada” havia a já tradicional Semana Universitária, uma promoção sempre polêmica, mas invariavelmente concorrida.

Divergências à parte, a luta comum desses grupos era para a construção de um teatro ou um Centro Cultural que viabilizasse as manifestações em ebulição. Ubiratan di Assis, Gutemberg Cardoso, Tarcísio Siqueira, Carlos Alberto Assis Montenegro, Josival Pereira, entre muitos outros, já não se conformavam em extravasar talentos entre as paredes apertadas do Colégio Diocesano, onde nem a acústica ajudava, ou em tomar de empréstimo os salões do cine Apolo XI ou do cine Éden, a preços nem sempre acessíveis, para poder protagonizar tudo a que tinham direito na sua inquietude mental.

Durante muito tempo concordaram em abrir mão desse sonho, em nome de outras prioridades que o homem do sertão estava a exigir. Mas a certeza de novos e bons tempos continuava alimentando as ilusões desse bando de obstinados, e dos outros que pegaram carona no caminho. Segunda-feira última, o governador Wilson Braga, que como deputado testemunhou essa luta titânica, levou-me, de surpresa, a Cajazeiras e lá me mostrou o terreno do futuro teatro.

A crise econômica é mais grave, na região, mas a cultura passa a também ser prioridade em meio à mágica dos orçamentos apertados. Não seria um investimento cara – o terreno já é do Estado, está ocioso, falta apenas ter ocupação. Reencontrei Gutemberg Cardoso, eufórico, exigente, dando palpites como se fosse um engenheiro ou um “expert” em dimensões de obras públicas. E o governador garantindo que comprou essa briga. Não posso deixar de acreditar que enfim “o sonho será realidade. ” Lembra, Ubiratan? ...



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