A foto acima, mostra como era e como estava a estrutura da antiga ponte sobre o sangradouro do açude grande de Cajazeiras. Se fosse seguido os trâmites que o bom censo recomenda, bastava apenas ter feito uma restauração. O rito agradecia e a história também. Entretanto, como tem mostrado a tradição a marca registrada da indiferença com o passado deixado pelas nossas origens, reza na cartilha que essa conversa de preservação não convém para os que mandam na cidade.
Que Cajazeiras é a cidade da Paraíba que mais
agride sua história, o seu passado; disso não se tem dúvida alguma. Basta um Tur pelas suas ruas, avenidas e praças, que se vai percebendo a mudança e o
rastro de destruição dos seus equipamentos antigos - prédios, monumentos,
fachadas.
Nesse rastro impiedoso da devastação de sua memória que tem atravessado décadas, um fato grotesco
marcou muito na sua sociedade, principalmente na parte social composta por
artistas, jornalistas, historiadores e intelectuais em particular, foi a derrubada da velha ponte sobre o
sangradouro do açude público Epitácio Pessoa - o popular Açude Grande.
Quem viveu esse momento, como eu vivi, lembra
in loco do fatídico dia que passamos frente uma decisão arbitrária do então
prefeito Epitácio Leite Rolim, de mandar derrubar a quase (esse ano estaria com cem anos) centenária
ponte, simplesmente, pelo fato dos pilares da ponte estarem impedindo a vegetação
aquática de descer pela sangria do açudo. Nesse contundente relato da jornalista
Mariana Moreira, publicado no Jornal A União na década de 80, com o título: 'Os Deserdados Filhos da Ponte', possamos
perceber como tudo aconteceu. Veja a seguir, abaixo.
Foto da destruição da velha ponte: Acervo de Cleudimar Ferreira |
Os deserdados filhos da ponte
Mariana Moreira
A imagem permanece dramática em minha memória.
As tábuas e pilares quase centenários e históricos sucumbindo, em razão de
minutos, ante a forço bruta das maquinas e a incoerência de homens, vestidos de
governantes e preocupados somente com o exercício autoritário do poder. A
história da cidade é negligenciada em detrimento de antipatias pessoas que
ferem as nossas esperanças e ideias democráticas.
A derrubada da velha ponte do açude grande de
Cajazeiras foi uma medida insensata e que reflete a orientação dos nossos
administradores em não zelar pela nossa memória histórica. Construída nos anos
e 1915 e 1916, na administração do coronel Sabino Coelho, aglutinando esforços
e homens, a velha ponte exercia fator de integração entre o centro e a zona
note da cidade, funcionando como canal de comunicação para pessoas, animais e ideias.
Nas lágrimas de Sonia e no desespero de Wilma o
reflexo cristalino de nossos íntimos desperdiçados pelos golpes das marretas e
dos cabos de aço frios, manipulados por homens a arrastarem para a imbecilidade
e a destruição os pilares e tábuas sob os quais debruçavam nossas cabeças e
mentes, arquitetando sonhos e idealizando novos mundos, banhados pelo céu “púrpura”
do pôr do sol que morria no horizonte sertanejo.
Uma medida insensata porque não veio respaldada
pelas recomendações de engenheiros e técnicos, alguns deles com participação na
esfera oficial do poder, que condenaram a demolição da ponte por ser esta uma
medida incompatível com a solução ideal para o açude que, supostamente,
ameaçava arrombar. Rumores fundamentados mais m sensacionalismo e promoções
idiotas de alguns que em dados concretos e manados do consenso.
E os pilares continuaram sendo arrastados pelos
tratores e cabos de aço, tão fortes que suplantaram as nossas tentativas de
argumentar e venceram a nossa impotência ante o poder, manuseado de maneira antidemocrática
e suicida. As águas do açude continuaram correndo pelo sangradouro como a levar
a nossa revolta e frustração e outras gentes e a outros mundos, cerando fileiras
em tono do nosso íntimo, agredido e desfraldando bandeiras que são esfarrapadas
pelas fortes tormentas que não podemos controlar.
A derrubada da ponte por ser um monumento da
memória história da cidade e integrante d uma área pública carecia se amplamente
discutida e analisada em todas as instâncias da sociedade cajazeirense,
abrangendo vereadores, artistas, comerciantes, jornalistas, historiadores,
historiadores, engenheiros. Enfim, toda a população. Mas, pela pressão de um pequeno
grupo de comerciantes e respaldado pelo exercício antidemocrático de poder,
opta-se pela solução mais radical, mais dramático e elimina-se uma ponte sesquicentenária
repleta de história e vida.
Sem tomar conhecimento dos projetos e tentativas
arquitetadas para salvar o açude grande de Cajazeiras de sua morte lenta e
gradual, à revelia dos gritos e protestos, a velha ponte caiu. Hoje, apenas um esqueleto
de concreto atesta a amputação de um dos nossos membros vitais. E é esta a
cidade que sediará o IX Festival de artes da Paraíba(?)
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