Aproveitando a trégua da campanha
eleitoral, em que a gente não pode “assuntar” a política paroquial, vamos
continuar as reminiscências do período militar e seus reflexos na nossa
comunidade. Hoje vou tratar de fazer uma espécie de tentativa de análise do
episódio mais momentoso que aconteceu por aqui no “outono” desse período, que
numa recente crítica feita pelo muito satanizado Gen. Nilton Cruz, que afirmou
que um golpe militar era “uma arrumação da casa, mas ninguém passa 21 anos para
arrumar uma casa…”
Sucedeu em 1975, ano passado completou
40 anos (deus, como tô ficando velho!!), e eu cursava o ensino médio em Recife,
pois por aqui não haviam cursinhos que preparassem para os vestibulares dos
cursos de “primeira linha”, então a gente aos quinze, dezesseis anos ia ser
estudante nas capitais. Morava em Recife, e logo cedo, fomos acordados por um
telefonema, avisando sobre o caso, e que tinha explodido uma bomba no Cine
Apolo XI, e que a cidade sido invadida pela Polícia Federal. A noite, com
grande destaque, a gente assistiu Cajazeiras na grande mídia, inclusive com
fotos onde apareciam Dr. Epitácio, e Dr. Iemirton Braga (que eu me lembro),
tratando dos feridos, tudo isso apresentado por Cid Moreira, o top dos apresentadores
do Jornal Nacional.
Mas como já disse eu não estava presente
nesse momentoso episódio, e acompanhei à distância. Vou me servir o que me
contara os amigos que presenciaram o episódio em si e o restante do desenrolar
desses acontecimentos, em espacial Sabino Filho e Ferreirinha.
No Apolo, como era de praxe então a
gente ia assistir os filmes que lá passavam, juntamente com o Cine Éden e, mais
raramente no Cine Pax, o cinema, era uma das poucas atividades de lazer que nos
eram oferecidas: o filme que lá passava era “A Piscina”, com Romy Schneider, e
como era um filme meio velho, estava faltando algumas partes, então ele
terminou antes do normal. Todo mundo saiu do Apolo, e quando a turma estava na
Rua Victor Jurema, à altura de onde funcionava o posto do INPS, ocorreu a
explosão.
O que se sabe é que depois de encerrada
a sessão, o Didi, soldado que era destacado para fazer a segurança do cinema (e
assistir aos filmes), dando uma vistoria, descobriu em baixo de uma poltrona,
uma bolsa tiracolo entre grande e média e chamou o projetista para entrega-la,
supondo que tivesse sido esquecida. Nesse momento, aconteceu a explosão,
matando imediatamente o projetista Manoelzinho, que vivia no Seminário, e antes
o conheci pois era o goleiro de nosso time de peladas, e causando gravíssimos
ferimentos em Didi, que depois veio a óbito. Era ele que apareceu como vítima nas
fotos tiradas no hospital, que foram divulgadas pela TV globo. Também ficou
ferido um retardatário que ficou vendo os cartazes dos próximos filmes, afixados
na antessala do cinema.
Como a bolsa foi achada embaixo de uma
cadeira que usualmente era ocupada por D. Zacarias, nosso bispo diocesano e
cinéfilo, o que se tem de absoluta certeza, é que o alvo era esse religioso,
uma das mais importantes figuras de nossa região no século passado.
Então, ato contínuo, logo que se
divulgou a notícia, foi disponibilizado um, segundo me contaram impressionante
aparato coordenado pela Polícia Federal, praticamente invadiram a cidade,
contando inclusive com helicóptero. Eram tantos, que uns asilados bebendo e
vendo um cachorro ficar a vigiá-los, um disse será que não é um polícia Federal
disfarçado de cachorro??
Todos que tinham alguma relação, tanto
com a sessão, como outros, o nosso “comunista oficial” Sabino Barbado, Bosco
Barreto (que era do MDB, oposicionista), como o nosso inventor da oficial da
cidade, Inácio Assis, foram interrogados. Inácio disse que se quisesse fazer
uma bomba, ela destruiria era o quarteirão, e achava que esta era feita de
forma primitiva, ou artesanal.
Atingiu o teto de gesso (abriu um
buraco) e como era feita com pregos, alguns chegaram a danificar a tela,
situada a mais de dez metros.
Como soube, Ferreirinha, e Paulo Antônio
(Guedes), depois de descartados como autores, foram convocados para duas longas
sessões de reconhecimentos, no hotel do Brejo das Freiras, e apresentadas,
centenas de fotos para que algum se lembrasse. Nossa cidade ficou na Grande
Mídia por mais ou menos uma semana, e como nada se descobriu, nem houveram
outros desdobramentos, o caso foi esfriando.
Agora resta a questão quem praticou esse
atentado contra nosso bispo.
Como não disponho de espaço, deixo para
a próxima semana para analisar a perquiris suas razões, mas pode ser que traga
ainda menos luz ao mais momentoso caso dessa época.
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