Luiz Alves.
Sou paraibano, sertanejo, com duas
naturalidades. Em São José de Caiana (sítio Pintos), Vale do Piancó, nasci
enquanto ser humano. Em Cajazeiras, enquanto ser político consciente, engajado,
participativo. Vim para a Cidade que
Ensinou a Paraíba a Ler aos 10 anos e meio, para um internato no
Seminário Nossa Senhora da Assunção, que tinha como Reitor nada menos que o
próprio bispo da Diocese, dom Zacarias Rolim de Moura, exímio professor de
Latim e Português, versado na cultura greco-romana.
Agradava-me a vida no Seminário. Excetuadas as horas de repouso, o tempo se repartia em três atividades: o estudo, as orações, o recreio, com variados tipos de esporte. Muito bom. Decepcionei-me, entretanto, com os colegas. Demorei a me acostumar com a vida longe da família, no meio de crianças e adolescentes (em torno de 60) que eu imaginara bem-comportados, estudiosos, puros, em busca da santidade. Na verdade, um punhado de "diabinhos" – salvo exceções – que tripudiavam sobre os mais fracos, aproveitavam as deficiências para apelidar cruelmente os outros: “burra- cega, guaxinim, mão-pelada, enterra-vivo, bacorinho, porco-espinho, etc.)". Eu ganhara o nome de Castello Branco, porque me achavam parecido com o marechal-presidente. Que tranquilidade! Até me soava como homenagem; algum tempo depois, é que viria considerar uma ofensa o tal apelido.
O ano era 1965. O Brasil vivia sob o regime ditatorial instalado em 1964, mas eu não sabia de nada. Nem o Concílio Vaticano II era comentado nas aulas ou nas prédicas do bispo e dos padres que nos acompanhavam. Eu só identificara duas mudanças: uma, que me frustrou: o uso da batina, abolido para os seminaristas e opcional para os sacerdotes, e outra que me agradou: a celebração da Missa em língua portuguesa e com o celebrante de frente para o povo. Eu estava acostumado a ajudar o padre Nicolau em Ave Maria (distrito de São José de Piranhas) nas missas celebradas em latim e com o sacerdote de costas para os fiéis.
Certo dia, aí pelo final de outubro (1965), encontrava-me sozinho, pensativo, avaliando as mudanças que tinham acontecido em minha vida, quando escuto um grito:
– Vamos enforcar Castello Branco!
A voz era do padre Gervásio1, professor de música, um sacerdote culto, admirado por todos. Castello Branco2 era eu. Enquanto tentava adivinhar o que se passava, dobra o corredor um grupo de uns dez meninos, padre Gervásio à frente. Este me agarra pelo curto pescoço e sai me arrastando enquanto os colegas gritavam sem contemplação: "Enforca, Enforca!". Chegando ao pátio e sem direito a discurso, padre Gervásio simula meu enforcamento. Fiquei assustado, meio sem jeito. Ninguém me explicou as razões dessa brincadeira, para mim, de muito mau gosto.
Só vim compreender o que acontecera com a chegada ao Seminário no ano seguinte de um jovem originário de Serra Grande, meu quase conterrâneo, Edival Nunes da Silva, que não recebeu apelido algum. Era simplesmente Edival. Mas anos depois ficaria conhecido nacional e internacionalmente como CAJÁ, apelido que lhe foi outorgado não em referência à fruta, mas exatamente à nossa histórica cidade, berço da cultura paraibana, a Terra do Padre Rolim.
Agradava-me a vida no Seminário. Excetuadas as horas de repouso, o tempo se repartia em três atividades: o estudo, as orações, o recreio, com variados tipos de esporte. Muito bom. Decepcionei-me, entretanto, com os colegas. Demorei a me acostumar com a vida longe da família, no meio de crianças e adolescentes (em torno de 60) que eu imaginara bem-comportados, estudiosos, puros, em busca da santidade. Na verdade, um punhado de "diabinhos" – salvo exceções – que tripudiavam sobre os mais fracos, aproveitavam as deficiências para apelidar cruelmente os outros: “burra- cega, guaxinim, mão-pelada, enterra-vivo, bacorinho, porco-espinho, etc.)". Eu ganhara o nome de Castello Branco, porque me achavam parecido com o marechal-presidente. Que tranquilidade! Até me soava como homenagem; algum tempo depois, é que viria considerar uma ofensa o tal apelido.
O ano era 1965. O Brasil vivia sob o regime ditatorial instalado em 1964, mas eu não sabia de nada. Nem o Concílio Vaticano II era comentado nas aulas ou nas prédicas do bispo e dos padres que nos acompanhavam. Eu só identificara duas mudanças: uma, que me frustrou: o uso da batina, abolido para os seminaristas e opcional para os sacerdotes, e outra que me agradou: a celebração da Missa em língua portuguesa e com o celebrante de frente para o povo. Eu estava acostumado a ajudar o padre Nicolau em Ave Maria (distrito de São José de Piranhas) nas missas celebradas em latim e com o sacerdote de costas para os fiéis.
Certo dia, aí pelo final de outubro (1965), encontrava-me sozinho, pensativo, avaliando as mudanças que tinham acontecido em minha vida, quando escuto um grito:
– Vamos enforcar Castello Branco!
A voz era do padre Gervásio1, professor de música, um sacerdote culto, admirado por todos. Castello Branco2 era eu. Enquanto tentava adivinhar o que se passava, dobra o corredor um grupo de uns dez meninos, padre Gervásio à frente. Este me agarra pelo curto pescoço e sai me arrastando enquanto os colegas gritavam sem contemplação: "Enforca, Enforca!". Chegando ao pátio e sem direito a discurso, padre Gervásio simula meu enforcamento. Fiquei assustado, meio sem jeito. Ninguém me explicou as razões dessa brincadeira, para mim, de muito mau gosto.
Só vim compreender o que acontecera com a chegada ao Seminário no ano seguinte de um jovem originário de Serra Grande, meu quase conterrâneo, Edival Nunes da Silva, que não recebeu apelido algum. Era simplesmente Edival. Mas anos depois ficaria conhecido nacional e internacionalmente como CAJÁ, apelido que lhe foi outorgado não em referência à fruta, mas exatamente à nossa histórica cidade, berço da cultura paraibana, a Terra do Padre Rolim.
Luiz Alves, advogado e consultor nas áreas de Associativismo, Cooperativismo e Economia Solidária, trabalhou na década de 70 como redator e repórter no Departamento de Rádio Jornalismo das emissoras DRC e Rádio Alto Piranhas de Cajazeiras.
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1 Monsenhor Gervásio Fernandes Queiroga. Nasceu em 1934 em Uiraúna (PB); é doutor em Direito Canônico e mestre em Filosofia e Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, bacharel em Ciências Jurídicas pela UFPB, Assessor da CNBB e fundador do Instituto Jesus Missionário dos Pobres.
1 Monsenhor Gervásio Fernandes Queiroga. Nasceu em 1934 em Uiraúna (PB); é doutor em Direito Canônico e mestre em Filosofia e Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, bacharel em Ciências Jurídicas pela UFPB, Assessor da CNBB e fundador do Instituto Jesus Missionário dos Pobres.
2 Humberto de Alencar Castello Branco (1897-1967). Foi um dos principais articuladores do
Golpe de Estado de 1º de abril de 1964, na condição de marechal do Exército, e
o primeiro Presidente da República do ciclo da ditadura militar, que durou 21
anos (1964-1985). Governou de 1964 a 1967, ano em que morreu num acidente aéreo
mal explicado em Fortaleza, sua cidade natal.
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