Os
caminhos traçados pelos primórdios do teatro amador de Cajazeiras para chegar onde está na atualidade ou no
que representa hoje, com seus atores semiprofissionais, afoitos, rompendo as cortinas dos teatros
por aí a fora; sendo seus talentos expostos nas salas e as ecléticas massas culturais consumistas; justificados através dos brilhantes
trabalhos feitos no cinema nacional e na TV; comprova que durante décadas, os persistentes passos dados por esses artistas da representação só podiam
desencadear na contemporaneidade, numa trilha de sucesso e de preenchido ego para
história da dramaturgia cajazeirense.
Caminhos
doravante duros, guardados em páginas
amarelados de jornais, porém, compensadores nos dias atuas; revelam como foram as lutas, pelejas e dificuldades a
fins dos nossos atores amadores. Nesse pequeno escrito por Francisco de Assis, publicado
no jornal “A União” do dia 28 de agosto de 1980 - quarta-feira, página 6 -
Interior, ele ensaia esse passado de lutas, quase que de forma apelativa, buscando tocar o sentimentalismo das nossas autoridades públicas da sua época.
No ordinário
artigo de Francisco de Assis, nesse tempo, iniciante diretor teatral do grupo “Um
Grupo”, que era formado pelo próprio autor do texto, e pelos atores amadores: Gleryston
Oliveira - hoje radialista militante na imprensa cearense, Marcos de Andrade, Elizabeth,
Danilo Moésia e Cleudimar Ferreira.
Francisco de Assis, relata essas dificuldades
e os sonhos da classe, impulsionados pelas lendárias apresentações dos dramas circenses, onde o destaque eram os lendários palcos giratórios, onde peças populares como "A Louca do Jardim", "O Ébrio" e "Sansão e Dalili" complementavam as atrações circenses. Ele expõe a falta de espaços para ensaios; para apresentações
e o não apoio financeira para as produções amadoras na cidade por parte das
instituições públicas. Veja o texto abaixo.
Apresentação da peça"397"- Grupo Cênica Boiada, 1980.
Em destaque, Gutemberg Cardoso. Embaixo,
agachado, José Rigonaldo.
por: Francisco
de Assis Silva Oliveira
A
saudade das coisas passadas nos faz buscar coisas novas. E é no passado onde
fomos encontrar os melhores momentos nos palcos dos circos, anunciando artistas
internacionais, leões africanos, gorilas, ciclistas e os “dramas” no final.
“Coração de Luto”... “O Ébrio”, fazia cortar corações das mais jovens donzelas,
aos mais carrancudos dos “cabelos grisalhos”. E público vibrava, aplaudia,
chorava... Delirava! A vinda de um novo “Circo” era uma curiosidade que
provocava lero-lero, tudo girando em torno do qual seria o “Drama” de hoje.
Todas as noites parecia que a lona iria desabar com toda aquela multidão
chorosa, ansiosa por um novo espetáculo.
Estamos
mais recentemente agora, há uns 10 anos atrás, onde já não mais os “Dramas”
circenses não são tão procurados. O palco é outro. Um dos primeiros locais de
encenação é onde hoje fica localizada a Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras. E o Teatro Amador da Cajazeiras – TAC, é o mais destacado. Regularmente
eram mostrados textos criados pelos próprios componentes do grupo, destacando
entre eles Geraldo Ludgero, já falecido, Francisquinha Oliveira, Nazaré e
outros. Depois nós mesmos criávamos e apresentávamos nossos próprios
espetáculos. E o público começou a “assiduar”, a participar e a exigir mais
apresentações. Cajazeiras não poderia mais parar por aí. Já não estávamos mais
precisando de bons momentos de diversão vindos de fora. Nós já tínhamos nossas
próprias apresentações.
Finalmente
chagamos aos anos 80, depois de uma longa pausa. Os grupos teatrais de cajazeirenses
já não mais são como antes. Os espetáculos já não são mais apresentados com
frequência. Só nas amostras de Teatro Rápido, eles desentocam, saem do marasmo,
e mostram trabalhos criados com muito esforço.
Conversando
com um dos componentes do “Um Grupo” - Danilo Moésia, este me dia que “o
problema é sério, pois as autoridades competentes em que nós devíamos encontrar
todo apoio, a única coisa que encontramos é “cara feia” e desinteresse. Essas
pessoas deveriam ter ligação mais direta com o teatro e fazer algo para que
realmente Cajazeiras possa se destacar fora, como uma cidade que faz Teatro
Mesmo”.
Já,
Marcos de Andrade, também do “Um Grupo”, falou a respeito dos atuas problemas
enfrentado pelo grupo: “um deles é a falta de local para os ensaios, pois o
local usado, o Colégio Diocesano é de propriedade privada”. Acrescentou ainda que:
“no momento estamos preparando a montagem da peça “Dois Perdidos Numa Noite Suja”,
de Plinio Marcos. Como não dispomos de dinheiro suficiente, enviamos oficio ao
NEC – Núcleo de Extensão Cultural, aqui em Cajazeiras, requisitando verba no
valor de Cr$ 7.835,00 para montagem do referido texto. Esse dinheiro se
destinaria a construção do cenário, que é de vital importância para uma boa
apresentação”. Indagado onde seria apresentada a peça, ele acrescentou ainda
que “o melhor lugar, o Cine Teatro Apolo XI, dificilmente é cedido aos grupos”.
Como se sabe o prédio pertence a Diocese local.
“Gostaríamos,
na ocasião, de pedir ao Bispo de Cajazeiras Dom Zacarias Rolim Moura, que
quando se fizer necessário, ceda o Apolo XI para apresentações, senão o teatro
aqui nunca irá pra frente”. Como se ver, é um Drama se mostrar textos ao
público cajazeirense.
Há um
ano atrás, mais ou menos, o Sr. Governador Tarcísio de Miranda Burity, prometeu
uma Casa de Teatro para nossa cidade e até o presente nada foi feito de
concreto, enquanto isso os representantes do Grupo Boiada, Terra, Os
Brasileirinhos, etc., continuam na expectativa, esperando uma medida séria,
referente ao assunto.
Agora
fico pensando: Nem os velhos espetáculos de circo temos mais... Por onde eles
andam? Será que o espetáculo vai parar?
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