Seu Otrope - Um dos primeiros exibidores
mambembe de Cajazeiras
Mariana Moreira
Rolos de filmes nas mãos e sonhos tantos que
alimentavam cabeças de milhares de crianças e adolescentes embevecidos como os
golpes de Karatê e a agilidade dos danatrãos bandidos e mocinhos do velho oeste
americano. Todos eram Kung fu e Búfalo Bill naquele mundo mambembe que povoavam
as nobres salas de cinema de São Gonçalo e Ipaumirim. Finais de semanas
iluminados pela azulada luz de projetores e legendas parcialmente lidas por
bocas semianalfabetas.
Este o universo do seu Otrope. De sobrenome: Cinema, como cinema foi também sua vida, iniciada no antigo Cine Moderno de João Bichara, onde aprendeu a técnica de manusear os projetores. Sua oficina era a própria cozinha de sua casa, assistido apenas por dois gatos de olhos espertos. Ali ele selecionava os filmes a serem exibidos, confeccionavam os cartazes e fazia os bancos da bilheteria, cada vez mais deficitária nesses tempos de Globo e Roque Santeiro; ladrões da capacidade do sonhar.
Conheci mais recentemente o seu Otrope, em matéria que fiz para A União no início deste ano. A vitalidade com que aquele velho de 60 anos me falava de cinema e de sua paixão pelos projetores e pelas abandonadas salas de exibição espalhadas pelas poeirentas cidadezinhas sertanejas era emocionante. Cinema cujo único conforto eram toscos bancos de madeira.
Este o universo do seu Otrope. De sobrenome: Cinema, como cinema foi também sua vida, iniciada no antigo Cine Moderno de João Bichara, onde aprendeu a técnica de manusear os projetores. Sua oficina era a própria cozinha de sua casa, assistido apenas por dois gatos de olhos espertos. Ali ele selecionava os filmes a serem exibidos, confeccionavam os cartazes e fazia os bancos da bilheteria, cada vez mais deficitária nesses tempos de Globo e Roque Santeiro; ladrões da capacidade do sonhar.
Conheci mais recentemente o seu Otrope, em matéria que fiz para A União no início deste ano. A vitalidade com que aquele velho de 60 anos me falava de cinema e de sua paixão pelos projetores e pelas abandonadas salas de exibição espalhadas pelas poeirentas cidadezinhas sertanejas era emocionante. Cinema cujo único conforto eram toscos bancos de madeira.
Como emocionante foi sua constatação de que a
televisão estava engolindo o cinema. A tristeza que vi naqueles olhos, já cansados
da aventura quixotesca de guerrear contra moinhos de ventos montados pela Rede
Globo e toda estrutura de comunicação de massa, que patroniza o homem,
limitando o raio de criatividade e sonhos. Para seu Otrope as nossas crianças
estavam sendo furtada de sua potencialidade de reinventar o mundo a partir dos
dramas cinematográficos exibido nas pobres, sujas e rotas telas.
Hoje, novos heróis da informática substituem a
espada e revolver pelo raio laser. Cavalos e carruagens foram tragados pelas
naves espaciais pelos veículos portentosos. Na velha torre do castelo não mais
está a linda princesa atormentada pelo dragão, esperando a salvação de um Príncipe
Valente. Sinhozinho Malta e Viúva Porcina são os novos efêmeros heróis
nacionais, dividindo com He-Men as glórias e preferências.
E coração do guerreiro parou. Na tela apenas os
créditos em preto e branco. O sonho termina e vira-se uma página bonita que não
mais será reeditada. Quantos cresceram no alimento de suas limitadas telas.
Hoje o velho projetor de seu Otrope está silencioso. A luz apagou-se e o único
brilho azulado são televisores em nossas salas de estar. O nosso mambembe menestrel
fechou os olhos para nossos sonhos. Enterrados estão todos eles, como Chaplin,
Hitckcock, Wells.
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