Agnaldo Almeida
Artigo publicado no Jornal
"A União", do dia 06 de setembro de 1985, Página 04, Opinião. Na época, o Jornalista respondia pela editoração geral
do jornal.
Ilustração do Artista Plástico Cajazeirense, Marcos Pê.
A secretaria de Cultura
decidiu, este ano, realizar o seu Festival de Artes em Cajazeiras. Não teria
sido melhor sediá-la em João Pessoa mesmo? Qual o proveito que as artes e
cultura terão, discutindo, no remoto interior, as suas propostas de renovação?
Não seria mais útil debater a realidade artística e cultural da Paraíba no seu
centro metropolitano, onde se localizam Universidade, Exposições, enfim onde se
encontram as cabeças pensantes do que se pretende discutir e debater?
Aí está posto o dilema. Há
os que pensam ser a Capital o único lugar onde as coisas podem acontecer, e,
portanto, só daqui deveriam partir diretrizes não apenas nas artes e na
cultura, mas em todo o resto das elucubrações do pensamento.
Ao contrário, entendem
outros que a Paraíba, como aliás o Brasil, precisa de ser descobrir no
interior. Na capital, junto de suas Universidades, de suas Faculdades de Letras
e de seus Núcleos de Artes, estaria talvez um pensamento mais bem elaborado; se
encontraria, é certo, a última notícia no campo das conquistas da linguagem e
das técnicas no domínio das artes.
Seria, porém, no Interior
onde a cultura e as artes ainda poderão ser surpreendidas em estágio puro, prevalecendo
a inquietação criadora sobre meros requisitos técnicas e formais.
Isolado com as suas
tradições, o interior terá sabido resguardar uma cultura isenta de influências
estranhas, comprometedoras de sua pureza singular, e, não dominando as técnicas
formais, as suas manifestações artísticas ganharam em conteúdo.
Aqui se passa a mesma coisa
que está hoje acontecendo nos grandes centros de apreciação de obra de arte e
de cultura. A Europa está preferindo consumir literatura de outras artes do
mundo, até aonde não ainda o grande equívoco das tiranias da forma e da
técnica, exatamente por concluir que se exauriu a flama criativa de seus
escritores, agora simplesmente dominados pelo virtuosíssimo técnico.
Ao revés, vivendo uma
realidade original, livres dos modismos, artistas de outros quadrantes do
mundo, isolados da efervescência tecnológica, estariam mais capacitados a
oferecer uma visão francamente comovedora do fenômeno da obra de arte.
Ainda se poderia aduzir um
outro argumento a justificar a decisão de deslocar um conclave de arte e
cultura para o interior. É que precisamos de abandonar o vício antigo, já
denunciado por escritor da Colônia, de os brasileiros ficarmos arranhando, como
caranguejos, as rochas do Litoral em prejuízo do conhecimento das terras e das
gentes interioranas. Vício que renasce até agora, pois a Universidade ainda não
se faz presente, senão em momentos esparsos, nesse necessário encontro da hinterlândia.
Desse vício também não estão isentos outros órgãos e serviços estaduais e
federais com funções importantes, não apenas nos setores da arte e cultura, mas
em outros de interesse imediato das populações interioranas, como agricultura e
pecuária.
Assim, pois, o encontro de
arte e cultura que se realiza em Cajazeiras, como outros que tiveram Areia por
sede, atende, em parte, a necessidade de resgatar o Interior, colocá-lo na
condição de participante da contemporaneidade, ainda que, no momento, não se dê
conta da importância do que estão debatendo escritores e artistas, deslocados
até sua acanhada vivência interiorana.
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