sábado, 21 de maio de 2016

ARTES NO INTERIOR


Agnaldo Almeida
Artigo publicado no Jornal "A União", do dia 06 de setembro de 1985, Página 04, Opinião. Na época, o Jornalista respondia pela editoração geral do jornal.

Ilustração do Artista Plástico Cajazeirense, Marcos Pê.


A secretaria de Cultura decidiu, este ano, realizar o seu Festival de Artes em Cajazeiras. Não teria sido melhor sediá-la em João Pessoa mesmo? Qual o proveito que as artes e cultura terão, discutindo, no remoto interior, as suas propostas de renovação? Não seria mais útil debater a realidade artística e cultural da Paraíba no seu centro metropolitano, onde se localizam Universidade, Exposições, enfim onde se encontram as cabeças pensantes do que se pretende discutir e debater?
Aí está posto o dilema. Há os que pensam ser a Capital o único lugar onde as coisas podem acontecer, e, portanto, só daqui deveriam partir diretrizes não apenas nas artes e na cultura, mas em todo o resto das elucubrações do pensamento.
Ao contrário, entendem outros que a Paraíba, como aliás o Brasil, precisa de ser descobrir no interior. Na capital, junto de suas Universidades, de suas Faculdades de Letras e de seus Núcleos de Artes, estaria talvez um pensamento mais bem elaborado; se encontraria, é certo, a última notícia no campo das conquistas da linguagem e das técnicas no domínio das artes.         
Seria, porém, no Interior onde a cultura e as artes ainda poderão ser surpreendidas em estágio puro, prevalecendo a inquietação criadora sobre meros requisitos técnicas e formais.
Isolado com as suas tradições, o interior terá sabido resguardar uma cultura isenta de influências estranhas, comprometedoras de sua pureza singular, e, não dominando as técnicas formais, as suas manifestações artísticas ganharam em conteúdo.
Aqui se passa a mesma coisa que está hoje acontecendo nos grandes centros de apreciação de obra de arte e de cultura. A Europa está preferindo consumir literatura de outras artes do mundo, até aonde não ainda o grande equívoco das tiranias da forma e da técnica, exatamente por concluir que se exauriu a flama criativa de seus escritores, agora simplesmente dominados pelo virtuosíssimo técnico.
Ao revés, vivendo uma realidade original, livres dos modismos, artistas de outros quadrantes do mundo, isolados da efervescência tecnológica, estariam mais capacitados a oferecer uma visão francamente comovedora do fenômeno da obra de arte.
Ainda se poderia aduzir um outro argumento a justificar a decisão de deslocar um conclave de arte e cultura para o interior. É que precisamos de abandonar o vício antigo, já denunciado por escritor da Colônia, de os brasileiros ficarmos arranhando, como caranguejos, as rochas do Litoral em prejuízo do conhecimento das terras e das gentes interioranas. Vício que renasce até agora, pois a Universidade ainda não se faz presente, senão em momentos esparsos, nesse necessário encontro da hinterlândia. Desse vício também não estão isentos outros órgãos e serviços estaduais e federais com funções importantes, não apenas nos setores da arte e cultura, mas em outros de interesse imediato das populações interioranas, como agricultura e pecuária.
Assim, pois, o encontro de arte e cultura que se realiza em Cajazeiras, como outros que tiveram Areia por sede, atende, em parte, a necessidade de resgatar o Interior, colocá-lo na condição de participante da contemporaneidade, ainda que, no momento, não se dê conta da importância do que estão debatendo escritores e artistas, deslocados até sua acanhada vivência interiorana.



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