quinta-feira, 10 de março de 2016

O TREM

Francelino Soares - para o Gazeta do Alto Piranhas


Há pessoas cuja sensibilidade sempre aflora quando ouvem uma música ou veem uma foto antiga como a que ilustra a nossa Coluna de hoje. Tanto é que, ouvindo hoje aquela antiga música, Mangaratiba, (composição da dupla Luís Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949) – Ôi, lá vem o trem / Rodando estrada arriba / Pr’aonde é que ele vai? / Mangaratiba… Mangaratiba… Mangaratiba –, ela trouxe-me à memória, mais uma vez, uma antiga imagem semelhante a uma outra que já lhes havia mostrado na 2ª Coluna deste espaço saudosista, já há mais de um ano.

O fato é que cabe agora a pergunta: por que o trem exerce sobre nós este fascínio enorme? Havia um cenário que nos foi apresentado pela RVC – Rede Viação Cearense – e cuja presença nos deleitou, desde o ano de 1926 até 1971, e que era composto pela velha Estação Ferroviária, os componentes do “Maria Fumaça” (máquina, restaurante, carros de primeira e segunda classes), plataforma de embarque e o próprio “apito do trem”, elementos que ainda nos causam um indizível encantamento.

Era, sobretudo, aos sábados à tarde e domingos pela manhã que a Estação ficava apinhada de transeuntes. Era aquele vaivém que sempre levava alguém que nos deixava saudades ou trazia outrem que esperávamos com alegria… Na barafunda do ambiente, vendedores ambulantes – roletes de cana, rosário de coco, sequilhos, amendoim (chamávamos “midubim”), castanhas, cocadas de coco, macaúbas, cavaco chinês… – ajudavam a compor o cenário.

A Estação continua ali, intacta, quase intocável, porém tem a sua imagem encoberta pelo Fórum Ferreira Júnior… Os trilhos?… (chamávamos de as “linhas do trem”), embora eles não mais existam, ainda os vejo na minha mente. Tentem os leitores mais idosos identificar os personagens que compõem o cenário, obtido um certo domingo, pela manhã, nos anos 20, quando pontificavam as figuras ainda lembradas de Seu Perez, chefe da Estação, e de Seu Uchoa, chefe de trem, cujas estórias buscarei contá-las oportunamente.



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