Francelino Soares - para o Gazeta do Alto Piranhas.
Está aí, em foto da época, o retrato fiel do
movimento na “feira livre”,
no centro da cidade.
no centro da cidade.
Bodegas…
Ah! As bodegas, termo oriundo do lexicogênico latino – o acusativo da 1ª
declinação aphotecam – do qual se geraram os termos botica/boticário
e bodega/bodegueiro e significa pequena venda/pequeno armazém A
quantos elas, ainda hoje, conduzem um exercício de memória. Em Cajazeiras,
fazendo-as circular pelas lembranças de outros tempos, elas eram muitas,
distribuídas pelas ruas ou pelos bairros citadinos.
Quando
ainda não se falava nos modernos supermercados, era nelas que se faziam,
durante os dias da semana, as pequenas compras para suprirem-se as necessidades
domésticas. Sim, nos dias da semana, porque, aos sábados, o movimento se
concentrava na “feira livre”, que se realizava na Praça dos Carros – Praça
Coração de Jesus –, esparramando-se pelas ruas Juvêncio Carneiro, Epifânio
Sobreira, Padre Manoel Mariano e Tamarina, para onde acorriam os feirantes
(vendedores e compradores), aqueles advindos dos sítios localizadas nas
circunvizinhanças, e estes, dos mais distantes pontos da cidade.
O fato é
que, das 4 h da manhã às 5 h da tarde, o movimento era enorme: espalhados pelo
calçamento, viam-se sacos e mais sacos de feijão, milho, arroz, além de carne
seca (hoje, carne de sol), carne de jabá (depois, rebatizadas de “carne ceará”
ou carne de charque), toucinho. galinhas, patos, capotes e até bacorinhos, fumo
de rolo, goma, tapioca, beiju, tubérculos (batata doce, inhame e macaxeira),
rapadura, batida, alfenim, méis (ou meles) de engenho e capuxu, chouriço e as
mezinhas empregadas nos “remédios caseiros”: aroeira, quixaba, eucalipto,
quebra-pedra, andiroba…
Era uma
verdadeira “feira de mangai”, como diria Sivuca e Glorinha Gadelha: desde
folhetos de cordel e bonecas de pano, até melancia, caju, cajá e cajarana… e
aquilo que fazia a alegria da meninada: pitomba, groselha, romã, tamarindo,
macaúba, jatobá, rosário de coco, castanha assada, amendoim in natura, doce
quebra-queixo, pirulito, rolete de cana, cavaco chinês e as deliciosas
“raspadinhas”.
Deve-se
dizer que, além de tudo isso, ainda havia os famosos jogos de bacará ou de
carteado, ali, à luz do dia, sem que ninguém viesse incomodar, Ah!, sim: a
feira de muares: cavalos, éguas, jegues e afins realizava-se, também aos
sábados, bem próximo do cemitério, exatamente no oitão da residência do Prof.
Antônio de Souza (amado mestre-escola).
Quanto às bodegas, ainda me
lembro de algumas que povoaram a minha infância e que eram conhecidas pelos
nomes dos seus proprietários, nomes respeitados no comércio cajazeirense de
antanho: ali mesmo, nas proximidades da “feira livre”, negociavam Ioiô,
Braguinha, Juvenal Ricarte; descendo pela rua Padre Manoel Mariano: Gino (o do
jogo do bicho), Jacinto Ricarte, Antônio Ricarte, Estelício Diniz, Trajano
Lopes, (beneficiamento de arroz), Arcanjo (primeiro armazém atacadista da
cidade); já pelas confluências da rua Juvêncio Carneiro e de sua travessia:
Chico Mamede, Zé Travassos, Chico Pereira, Décio Saraiva; na rua Bonifácio
Moura: Raimundo Limeira, Sinfrônio; em busca da Siqueira Campos e da rua que
era chamada dos Dez Chalés: Zenaide, Maria Catolé, Zé de Moça, Zé Biquinho; na
chamada rua da Tamarina: Andriola, Zecão, Zuca Ribeiro; já pelos caminhos do
Alto Cabelão: Joca Claudino (que, inclusive, mantinha a entrega de leite
fresquinho e quentinho, vindo de sua vacaria, localizada nas proximidades),
Zuca/Luca Ludgero, Cherim e, quem souber mais que me informe, ajudando-me a
preservar esta página que vai dedicada àqueles que, cada um à sua maneira,
ajudaram a desenvolver o hoje profícuo comércio cajazeirense naquilo que era
chamado o comércio dos secos e molhados ou, mais romanticamente, das estivas e
cereais.
fonte: Blog do Christiano Moura
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