quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Um passeio pelas ruas de Cajazeiras. A cidade cresceu, não teve jeito.


Veruza Guedes tem mais talento para a crônica do que ela possa imaginar. Dia desses postei um poema aqui (http://ac2brasilia.blogspot.com.br- Chuva de meninos - que falava da gurizada tomando banho na Rua 21 de Abril, em Cajazeiras, onde morei parte de minha infância. Veruza morava numa rua ao lado e fez uma crônica que de certa forma dialoga com meu poeminha. Gostei muito e viajei no tempo lendo a crônica, lembrando dos ferreiros e de alguns personagens inesquecíveis presentes em seu texto. Vamos ler, gente:
Linaldo Guedes




Na Rua 21 de abril
* Veruza Guedes 

A Rua 21 de Abril tinha uma ladeira em espiral que dava para outras ruas de minha infância. Todas elas eram boas de brincar. Quando chovia a molequeira corria pelas biqueiras, escorregando nas calçadas de cimento lisinho. Se a chuva parava a molequeira fazia uma oração esquisita pedindo a sua volta. Se a chuva se recusava a voltar, lá íamos, todos molhados, explorar outras brincadeiras.

Mas o que mais me chamava a atenção na Rua 21 de Abril eram os quintais que davam para grandes descampados. Os adultos chamavam de lixão, mas nós víamos uma imensidão de possibilidades para alimentar a nossa curiosidade e cair na conversinha mole de seus moradores. Tenho a impressão de que as crianças da 21 de Abril eram mais espertas do que nós.

Na minha casa da Higino Tavares o quintal também dava para um enorme terreno, com uma casinha de barro batido, onde uma velhinha simpática, a dona Chicola, criava muitos gatos. Aquele quintal, cheio de mato, engolia meus brinquedos. Depois que algo era jogado lá, dificilmente se recuperava.

Hoje quando passo nessas ruas e não vejo mato algum sinto uma estranheza, um sentimento de frustração por saber-se perdida. Nem o ferreiro bate mais a sua cantiga solitária de ferro contra ferro levantando faíscas. Nem as galinhas de Dona Murica ficam correndo pelas ruas em fuga. 

Nem o Seu Expedito passa mais a sorrir espantando as crianças. Nem Dona Toinha fuma mais seu cachimbo na calçada. Nem Nazaré passa de tranças longas vendendo seu doce de leite com casquinha. “-Rubis, deixou a bodega sozinha? - Eu não podia com ela nas costas!”



fonte: ac2brasilia

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