Veruza Guedes
tem mais talento para a crônica do que ela possa imaginar. Dia desses postei um
poema aqui (http://ac2brasilia.blogspot.com.br) - Chuva de meninos - que falava da gurizada tomando banho na Rua 21
de Abril, em Cajazeiras, onde morei parte de minha infância. Veruza morava numa
rua ao lado e fez uma crônica que de certa forma dialoga com meu poeminha. Gostei
muito e viajei no tempo lendo a crônica, lembrando dos ferreiros e de alguns
personagens inesquecíveis presentes em seu texto. Vamos ler, gente:
Linaldo
Guedes
Na Rua 21 de
abril
* Veruza Guedes
A Rua 21 de
Abril tinha uma ladeira em espiral que dava para outras ruas de minha infância.
Todas elas eram boas de brincar. Quando chovia a molequeira corria pelas
biqueiras, escorregando nas calçadas de cimento lisinho. Se a chuva parava a
molequeira fazia uma oração esquisita pedindo a sua volta. Se a chuva se
recusava a voltar, lá íamos, todos molhados, explorar outras brincadeiras.
Mas o que
mais me chamava a atenção na Rua 21 de Abril eram os quintais que davam para
grandes descampados. Os adultos chamavam de lixão, mas nós víamos uma imensidão
de possibilidades para alimentar a nossa curiosidade e cair na conversinha mole
de seus moradores. Tenho a impressão de que as crianças da 21 de Abril eram
mais espertas do que nós.
Na minha casa
da Higino Tavares o quintal também dava para um enorme terreno, com uma casinha
de barro batido, onde uma velhinha simpática, a dona Chicola, criava muitos
gatos. Aquele quintal, cheio de mato, engolia meus brinquedos. Depois que algo
era jogado lá, dificilmente se recuperava.
Hoje quando
passo nessas ruas e não vejo mato algum sinto uma estranheza, um sentimento de
frustração por saber-se perdida. Nem o ferreiro bate mais a sua cantiga
solitária de ferro contra ferro levantando faíscas. Nem as galinhas de Dona
Murica ficam correndo pelas ruas em fuga.
Nem o Seu
Expedito passa mais a sorrir espantando as crianças. Nem Dona Toinha fuma mais
seu cachimbo na calçada. Nem Nazaré passa de tranças longas vendendo seu doce
de leite com casquinha. “-Rubis, deixou a bodega sozinha? - Eu não podia com
ela nas costas!”
fonte: ac2brasilia
Nenhum comentário:
Postar um comentário