Chuvas
José Antonio Albuquerque
A chuva tem um poder mágico sobre mim.
Creio que sou um ser meteorológico. Minhas emoções se aguçam, ficam receptivas
e tensas quando chove. Eu gosto de olhar a chuva, de sentir a chuva. Quando a
chuva chega pela madrugada, gosto de sair e contemplá-la e fico ouvindo a sua
pancada nas telhas e a água a escorrer pelas biqueiras. Tanto gosto da chuva
mansa, fininha como as que vêm acompanhadas de relâmpagos e trovões. E o cheiro
da terra molhada? Ah! Como me faz bem.
Quando a chuva “me pega” no meio da rua,
procuro um abrigo e fico olhando as pessoas atravessando, apressadas, correndo.
Uma pessoa andando pela calçada toma um banho de água misturada com lama à
passagem de um carro bem perto do meio fio. Tudo indica que o gesto foi de
propósito. Nesta ocasião os palavrões vêm logo em seguida e o motorista
simplesmente ri.
Nunca perguntei a minha mãe, mas acho
que nasci numa noite de muita chuva, anunciada por muitos relâmpagos e
trovoadas. Só pode ter sido, porque a chuva faz parte da minha vida, me traz
felicidade, ternura e sinto vontade até de fazer poesia, mas me falta o dom.
Será que a chuva não é o céu chorando
pelo sofrimento de tantos que passam fome, que vivem na pobreza e que são
massacrados pelas injustiças praticadas pelos próprios homens?
Será que a chuva não é o céu chorando em
lugar das pessoas que já não têm mais lágrimas para derramar depois de ter
passado tanto dor e muito sofrimento?
Será que as chuvas que vêm acompanhadas
de fortes relâmpagos e raivosos trovões, não são para alertar os homens,
fazendo um apelo para que possam ser mais humildes, mais humanos, mais
cristãos?
Mas é esta água pura que jorra dos
açudes do céu que inundam os rios, enchem as barragens, transbordam nas grotas
e aumenta a água salgada dos oceanos, que nos servimos dela no dia a dia e sem
ela não teríamos condições de sobreviver.
É a água que corre nas biqueiras das
casas que faz a alegria da molecada, em dias de boas chuvas, misturando-se
meninos e meninas e disputando no empurrão o melhor lugar em baixo dela. Como é
bom e gostoso tomar banho de chuva. A água é muita gelada, chega deixa os
lábios roxos de frio.
Como é bom e gostoso tomar banho de
chuva. É como partilhar das alegrias das nuvens que derramam as águas
abundantes para molhar a terra que fará nascerem as sementes e acontecer o
milagre da multiplicação.
Qual é o sertanejo que não gosta de
chuva? Qual o homem do campo, que ao plantar a semente no chão, não olha para o
céu e não pede chuva “para este sertão sofredor? ”
Anos atrás fiz uma pequena barragem numa
“garra de terra” que possuo. Na segunda chuva, depois de concluída,
arrombou-se. Meus amigos ficaram surpresos com minha felicidade e indagaram:
você não está triste? E respondi: prefiro vê-la arrombada pelo volume de água
do que seca, pela ausência da chuva. Na noite em que a barragem arrombou, um
pluviômetro, que só mede até 135 mm, simplesmente “sangrou”. Não tenho ideia
quantos mm deu a chuva que levou a parede do meu açude. Os mais entendidos
disseram que a mesma ultrapassou os 200 mm. É provável.
Mesmo quando o céu chora, lágrimas de
chuva, mesmo quando os trovões se esgoelam de raiva e os relâmpagos com sua
virulência enviam os seus raios em busca da terra, depois de tudo vem a
bonança, vem o sol, vem o sorriso do homem do campo quando vê a semente que
plantou nascer e frutificar.
Depois da chuva o vento sussurra e se
acalma. As águas voltam ao seu leito normal, tudo é silêncio e melancolia.
Mesmo assim voltamos a plantar os olhos no céu aguardando novas chuvas.
É assim a vida do sertanejo, que durante
doze meses, só vê chuva num período pequeno do ano, quando ela vai embora já
fica com saudade e aguardando o ano novo.
E a chuva continua rolando, como lágrima
em nossa face, mas o céu não está chorando... 1958?
Os estudiosos alertam que o ano de 2016
será ruim de chuva e que poderá ser igual ao ano de 1958, quando foi registrada
uma das secas do nordeste brasileiro.
fonte: GAZETA DO ALTO PIRANHAS
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