sexta-feira, 22 de janeiro de 2016



Chuvas
José Antonio Albuquerque


A chuva tem um poder mágico sobre mim. Creio que sou um ser meteorológico. Minhas emoções se aguçam, ficam receptivas e tensas quando chove. Eu gosto de olhar a chuva, de sentir a chuva. Quando a chuva chega pela madrugada, gosto de sair e contemplá-la e fico ouvindo a sua pancada nas telhas e a água a escorrer pelas biqueiras. Tanto gosto da chuva mansa, fininha como as que vêm acompanhadas de relâmpagos e trovões. E o cheiro da terra molhada? Ah! Como me faz bem.

Quando a chuva “me pega” no meio da rua, procuro um abrigo e fico olhando as pessoas atravessando, apressadas, correndo. Uma pessoa andando pela calçada toma um banho de água misturada com lama à passagem de um carro bem perto do meio fio. Tudo indica que o gesto foi de propósito. Nesta ocasião os palavrões vêm logo em seguida e o motorista simplesmente ri.

Nunca perguntei a minha mãe, mas acho que nasci numa noite de muita chuva, anunciada por muitos relâmpagos e trovoadas. Só pode ter sido, porque a chuva faz parte da minha vida, me traz felicidade, ternura e sinto vontade até de fazer poesia, mas me falta o dom.

Será que a chuva não é o céu chorando pelo sofrimento de tantos que passam fome, que vivem na pobreza e que são massacrados pelas injustiças praticadas pelos próprios homens?

Será que a chuva não é o céu chorando em lugar das pessoas que já não têm mais lágrimas para derramar depois de ter passado tanto dor e muito sofrimento?

Será que as chuvas que vêm acompanhadas de fortes relâmpagos e raivosos trovões, não são para alertar os homens, fazendo um apelo para que possam ser mais humildes, mais humanos, mais cristãos?

Mas é esta água pura que jorra dos açudes do céu que inundam os rios, enchem as barragens, transbordam nas grotas e aumenta a água salgada dos oceanos, que nos servimos dela no dia a dia e sem ela não teríamos condições de sobreviver.

É a água que corre nas biqueiras das casas que faz a alegria da molecada, em dias de boas chuvas, misturando-se meninos e meninas e disputando no empurrão o melhor lugar em baixo dela. Como é bom e gostoso tomar banho de chuva. A água é muita gelada, chega deixa os lábios roxos de frio.

Como é bom e gostoso tomar banho de chuva. É como partilhar das alegrias das nuvens que derramam as águas abundantes para molhar a terra que fará nascerem as sementes e acontecer o milagre da multiplicação.

Qual é o sertanejo que não gosta de chuva? Qual o homem do campo, que ao plantar a semente no chão, não olha para o céu e não pede chuva “para este sertão sofredor? ”

Anos atrás fiz uma pequena barragem numa “garra de terra” que possuo. Na segunda chuva, depois de concluída, arrombou-se. Meus amigos ficaram surpresos com minha felicidade e indagaram: você não está triste? E respondi: prefiro vê-la arrombada pelo volume de água do que seca, pela ausência da chuva. Na noite em que a barragem arrombou, um pluviômetro, que só mede até 135 mm, simplesmente “sangrou”. Não tenho ideia quantos mm deu a chuva que levou a parede do meu açude. Os mais entendidos disseram que a mesma ultrapassou os 200 mm. É provável.

Mesmo quando o céu chora, lágrimas de chuva, mesmo quando os trovões se esgoelam de raiva e os relâmpagos com sua virulência enviam os seus raios em busca da terra, depois de tudo vem a bonança, vem o sol, vem o sorriso do homem do campo quando vê a semente que plantou nascer e frutificar.

Depois da chuva o vento sussurra e se acalma. As águas voltam ao seu leito normal, tudo é silêncio e melancolia. Mesmo assim voltamos a plantar os olhos no céu aguardando novas chuvas.

É assim a vida do sertanejo, que durante doze meses, só vê chuva num período pequeno do ano, quando ela vai embora já fica com saudade e aguardando o ano novo.

E a chuva continua rolando, como lágrima em nossa face, mas o céu não está chorando... 1958?

Os estudiosos alertam que o ano de 2016 será ruim de chuva e que poderá ser igual ao ano de 1958, quando foi registrada uma das secas do nordeste brasileiro.







fonte: GAZETA DO ALTO PIRANHAS

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