por Cleudimar Ferreira
Porque não temos a nossa
cabaçal tocando?
No dia 11 deste
mês de janeiro, Cajazeiras foi a praça não para ver a banda passar cantando
coisas de amor, mas para ver a banda tocar cultura popular viva, autêntica, que só o Nordeste tem. Só
que a banda da vez não era a Banda de Música Santa Cecilia; Também não era camarata
da cidade; ou mais remota ainda; também não era a sua Banda Cabaçal. Era a
genial Banda Cabaçal da Cidade de Serra Grande/PB, uma cidadezinha simpática do
Vale do Piancó, que fica situada sobre um elevado, na microrregião de
Itaporanga.
Pois bem, se comparada
com Cajazeiras, é como se Serra Grande fosse uma gota d’água no Açude Grande,
já que a mesma, acho, deve ter hoje pouco mais de quatro mil habitantes. Entretanto,
como em terra de gigante, todo pequinês é grande, o que difere Serra Grande de
Cajazeiras, é a força incomum dos seus agentes culturais de preservar suas
tradições e a cultura popular de seu povo. Um diferencial que em nossa querida Cajazeiras,
nossos abnegados agentes da cultura, parece ter perdido as referências nesse
sentido, ou não souberam, ou não aprenderam a fórmula ideal para não ficar “atoa
na vida” e assim, arregaçar as mangas da inoperância, que dê pelos menos ânimo
para cobrar do poder público, aquilo que é assegurado por direito, que é o de preservar
as raízes culturais de um povo que cresceu debaixo de um chavão, que alto proclamou chamar de “Terra da
Cultura”.
Antiga Banda Cabaçal de Cajazeiras, em 1938.
Por que não temos a nossa cabaçal tocando? Digo isso porque
em tempos de NEC; de leis de incentivos à produção cultural; de FIC Estadual,
FUMINC e tantos outros vieses que se expõem, aos olhos de quem produzem arte
nesse Estado, o nosso Grupo de Reisado, a nossa antiga Banda Cabaçal, continuam
no seu adormecimento profundo, no mais absoluto silêncio de quem parece que não
acordará jamais. Talvez, seja o fato que a cultura de Cajazeiras vive hoje em
outro patamar de inferioridade, ou obsoleta para os novos ritos culturais da contemporaneidade,
e, portanto, é mais interessante investir em risos e abraços de incentivos a
cultuara popular na Comunidade pifeira do Sítio Antas em São José de Piranhas,
ou mesmo, na já consolidada Banda Cabaçal de Serra Grande.
Será que, apesar
dos mixuruquíssimos valores do FUMINC para a cultura local, não sobraria alguns
trocados para revitalização do Grupo de Reisado e para a nossa amarelada Banda
Cabaçal, que só existe em preto e branco na imaginação dos cajazeirenses. Será
que, na falta de uma inteligência na cidade, com capacidade de elaborar e executar um
projeto, com poder de convencimento na Comissão Técnica de Análises de Projetos do FIC, não seria o caso da Gestão Municipal, emprestar um de
seus agentes culturais para a tarefa!? Ou seria uma outra solução, copiar a
fórmula que Serra Grande adotou para barganhar valores do FIC e assim, tirar do
ostracismo a nossa lendária Banda Cabaçal?
Desse modo, nem
tudo está perdido na terra da cultura. E se Serra Grande que não tinha (salve-se a minúscula Secretaria Municipal de Cultura) praticamente
nada, mas criou a sua Banda; como consolo, o nosso socorro viria do que nós temos; já que temos a Secult; temos NEC; temos
a 9ª Região de Cultura; o Coletivo Cultucar; e temos ainda, a Casa da Cultura
Independente e por assim segue outras instituições. Porisso e por muito mais, ir a Praça Nego Zé ver os senhores do
pífano de Serra Grande tocar, não houve programa melhor. E não haveria coisa
melhor, se a apresentação fosse de uma manifestação popular originária na
própria cidade de Cajazeiras.
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