Crônica publicada no Jornal A União, edição de 08/novembro/1984.
escrito por Mariana Moreira
As esquinas de Cajazeiras, embora não mais centenárias, ainda guardas algumas surpresas que nos extasiam, beirando a embriaguez. Um entorpecimento que anestesia como a picada de um escorpião que paralisa as nossas entranhas, espalha seus venenos em nossas veias, aguçando nossas irracionalidades e imbecilidades em busca de explicações do inquestionável.
Esbarramos em Rosa Bêbada que nos lança
na cara o permanente hálito de aguardente. Em sua lucidez alcoólica enxergamos
que a lucidez pacata é uma mera ilusão dos alquimistas que não previram que
este estágio entre o primeiro grito e o suspiro final é um intervalo diante do
microcosmo divagações. Perdidos em nossas introspecções somos vermes que
passeiam pela carne podre, degenerada pela inexorabilidade do tempo.
O padeiro grita em nossos ouvidos: Olhe
o pão. E minha barriga acusa fome. Me intoxico com o bromato de potássio,
deixando escorrer pelo canto da boca o veneno mel que sacia e mata. O prazer e
sensualidade de nossos corpos também sentem fome. Anseiam por outros desejos e
outras emoções, pungentes e incontroláveis. Buscamos novos sonhos e os
horizontes morrem, pacificamente, nas águas sujas do açude grande.
Os nossos fantasmas são tão nossos que
não queremos dividi-los com mais ninguém. Usufruímos a regalia de sermos
assombrações de nós mesmos. Almas penadas em busca de perdão. Nos confessionários
vomitamos nossos pecados e buscamos o perdão divino, traduzindo na benevolência
que os costumes e tradições nos imprimem.
Vagando pelo intricado das esquinas
perdemo-nos nos labirintos povoados de ninotauros que são meras extensões de
nossos membros. Braços e pernas monstruosos que se desprendem de nossos troncos
como hidras proscritas que alçam voos das cabeças das medusas de nossas consciências.
Em cada esquina. Em cada flagrante da
cidade, uma imensidão se perde no azul cinza do sertão, isento de poluição, mas
contaminado pela fumaça de nossos míopes de seres crescidos na fome. As
esquinas e a cidade compartimentando a vida, espreitando nossos passos e
arquitetando suas armadilhas, que nos prendem, asfixiando nossas opções de
buscar um ar que foge para continentes imaginários que nossas idiotas cabeças supõem
existir.
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