Toda
efervescência dos anos 80, em um evento que marcou o movimento de teatro amador do
sertão de Cajazeiras.
por: Cleudimar Ferreira
Dentro do calendário cultural do passado
da cidade de Cajazeiras, em destaque, o que movimentou a produtiva década de 80
nas diversas linguagens da arte; nesse caso, o segmento teatral; nenhum outro
evento foi tão especial como Festival Sertanejo (Encontro de Artes Cênicas).
Era um congraçamento, uma efervescência beirando a um quase frenesi. Um
encontro de paixões que pulsava nas veias de uma juventude, que praticava sua
arte por pura sensibilidade, carregada de intimidade e desejo em fazer cultura,
num período onde a arte no sertão paraibano, ainda não atingira sua maturidade
que pudesse convencer, ou mesmo despertar em um público interiorano, a prática
do consumo cultural; e seu engajamento como importância social, necessária no
contexto dos movimentos culturais da época.
Foi nesse tempo de sentimento arredio,
porém temperado de desprezo, onde tudo era encarado como amadorismo; distante
do sonho de um dia o amor à arte de representar, pudesse ser transformado em
ações de mudanças para uma classe amadora que tinha objetivos e não brincava de
fazer por fazer teatro; que as versões do Sertanejo a cada ano iam acontecendo,
crescendo, dando seu ar da graça, reunindo grupos; a princípio da cidade,
depois das cercanias de Cajazeiras e de outros municípios mais distantes da
Paraíba.
Para justificar a evolução que o
Sertanejo de Artes Cênicas demonstrava a cada ano, vamos lembrar aqui, que esse
acontecimento não andou por se só, foi sempre promovido por organizações
culturais e instituições idôneas a exemplo da UFPB, através do seu Núcleo de
Extensão Cultural (NEC). Além disso, com fortalecido apoio da Federação de
Teatro Amador (FPTA). Entretanto, se havia ou não suficiência na injeção de
recursos financeiro por parte da UFPB no evento; havia por outro lado, a gestão
responsável da coordenação de Artes Cênicas do NEC, que se valendo de uma
logística funcional, assessorada pela experiência gestora da FPTA; assegurou e
permitiu o continuísmo do evento, até chegar em 1984 na sua sexta versão.
Porém para entender o sucesso que foi o
Sertanejo de Artes Cênicas, faz necessário buscar no retrovisor, elementos
determinantes que possibilitaram o seu surgimento. Um desses foi a realização
pela primeira vez, em 1977, da Semana de Teatro Universitária da Paraíba. Um
evento que basicamente lançou até 1979, as primeiras sementes que anos depois
desencadearia no nascimento da Mostra de Teatro Rápido do Sertão. A mostra foi
algo emblemático para os grupos participantes, porque só permitia participação
da produção de pequenas peças, com duração de no máximo 15 minutos, além das
exigências que os textos montados tivessem coerência com começo, meio e um fim.
Um roteiro não muito fácil e desafiador para os autores de teatro da cidade,
não acostumados com essa prática teatral.
Nos momentos mais marcantes, as sequentes mostras de Teatro Rápido que foram realizadas sob a direção do Cineclube Vladimir Carvalho e Associação Universitária de Cajazeiras (AUC), por acaso, se caracterizaram por terem uma programação eventualmente restrita a participação de grupos amadores de Cajazeiras.
No princípio dos anos 80, passou a ter um caráter mais expansivo, abrangente, aberta aos demais amadores da região sertaneja, incorporando definitivamente o nome de Sertanejo de Artes Cênicas. Sendo regionalizada, a mostra possibilitou a inclusão na programação, da realização de eventos cênicos reunindo grupos de teatro da cidade, da região e de Estados vizinhos a Cajazeiras. Além de proporcionar oficinas de interpretação, encenação e cenografia. Passou a ter shows musicais com artistas locais e de outras cidades. Em 1981, renovou mais ainda quando passou a ser realizado pela Coordenação de Artes Cênicas do Núcleo de Extensão Cultural (NEC) e agregar na programação, outra caraterística a das homenagens. Homenageado na versão deste ano, a imagem do teatrólogo Geraldo Ludgero, prematuramente morto em um dos clubes sociais da cidade.
Nos anos seguintes de 1982-83, evidentemente as versões IV e V do evento, o Sertanejo (Encontro da Artes Cênicas) teve como foco as questões que envolvia a luta pela construção do teatro da cidade. Assim sendo, passou a assumir uma postura mais política. Nesse sentido realizou paralelo as mostras de teatro, debates, seminários e outras discussões sobre a importância e necessidade da construção da tão sonhada casa de espetáculo de Cajazeiras. Mesclando a programação com a realização mostras de artes plásticas, happening e shows de palhaços nas principais praças da cidade.
fonte: Jornais A União e O Norte
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