A
Escola Estadual de Ensino Fundamental Monsenhor Milanez começou como grupo
escolar, nos idos de 1930, quando só havia em Cajazeiras dois grandes
estabelecimentos de ensino: a Escola Normal e o Ginásio Diocesano, mais
conhecidos como o “colégio das freiras e o colégio dos padres”. Era tempo do
domínio quase absoluto da diocese na área educacional, ainda sob o comando de
dom Moisés Coelho. Por que relembro essas coisas? Porque entre os guardados
deixados por minha irmã mais velha, Maria Ilina, morta em junho passado,
encontrei uma caixa com alguns manuscritos de nossa tia, professora Ana Sales
de Brito, turma de 1931 da Escola Nossa Senhora de Lourdes. Pois bem, no meio
de sua produção literária, poesia e prosa, há um conjunto de discursos
proferidos em solenidades cívicas. Não é necessário dizer que, nessa época,
predominavam loas à memória de João Pessoa, nosso herói assassinado em julho de
1930.
Entre
os textos resgatados, selecionei a fala de Ana Sales quando da “aposição dos
retratos de três grandes vultos paraibanos no nosso prédio escolar”, no dia
19.11.1932, data da “inauguração do Grupo Escolar”, segundo ela anotou. A jovem
mestra rende homenagem a três ilustres paraibanos, falecidos pouco antes: o
próprio João Batista Milanez, morto em 13.01.1930, João Pessoa Cavalcanti,
assassinado em 26.07.1930, e Antenor Navarro, falecido em desastre aéreo em
26.4.1932.
Por
que o nome de monsenhor Milanez, no Grupo?
Ana
Sales informa em seu pronunciamento que ele foi “um dos maiores benfeitores da
instrução no País e um grande protetor do ensino desta cidade”. E, após indicar
traços biográficos do ilustre filho de Guarabira, ela enfatiza: “E hoje que
esta casa já se acha construída é preciso que vos diga que, para esse fim,
muito trabalhou o reverendíssimo monsenhor Milanez, pois foi ele quem sugeriu
ao governo a criação de um grupo escolar em Cajazeiras, esforçando-se depois
por consegui-lo”. Lembre-se que ele foi diretor da Instrução Pública, cargo
hoje equivalente a Secretário de Educação do Estado. Transcrevo a seguir outras
palavras de Ana Sales, na linguagem formal de louvação, pomposa e elegante,
usual naquele tempo. Referindo-se a “João Pessoa e ao malogrado interventor
Antenor Navarro”, assim se expressou, dirigindo-se aos alunos:
“Nada
é preciso dizer-vos sobre esses dois inolvidáveis paraibanos, pois conheceis
todas as suas vidas edificantes, coroadas por mortes que lhes fizeram maiores,
mais dignos e merecedores de glorificações, já pelo heroísmo do intrépido João
Pessoa que, sacrificando-se, foi a redenção da nossa pátria, já pela morte
assombrosa que lhe valeu a coroa de mártir do ardoroso Antenor Navarro. Um
tombando fulminado nas ruas do Recife, (…). O outro, vítima da catástrofe
tremenda do Savoia-Marchetti nas águas da Bahia, foi dentre os nossos
presidentes um dos mais lembrados com tristeza, sua vida cortada em pleno
viço”, e interrompendo “seu governo que era uma esperança para a nossa
Paraíba”.
Foto produzida em 1950.
Colação de grau dos alunos do
antigo curso primário. Ao lado direito da foto,
a
professora Erenice Ferreira
Relembro
o episódio não só para homenagear minha tia Ana Sales de Brito. Faço-o também
para, indignado, expressar solidariedade a milhares de dedicadas professoras e
professores de escolas públicas - federais, estaduais e municipais -, e de
escolas particulares. Heroínas e heróis não reconhecidos no exercício da nobre
missão de ensinar, sem contrapartida material à altura do sacrifício que fazem.
Uma indecência política. Um desrespeito social.
Lateral direita da escola onde
hoje é o Teatro Ica.
fonte: Diário do Sertão, coluna: Opinião. 24/0/2015.
Me levou a relembrar momentos tão ingênuos! Eu escorregavam na rampa , era meu play ground que aos meus olhos de criança, pareciam tão grandes!
ResponderExcluirE o.muro...eu tão alto!!rsrsrrsrsr
ResponderExcluirPegando carona nas suas lembranças. Lembro que havia uma área coberta nos fundos do grupo escolar onde hoje está o Teatro Ica. Eu e os outros garotos da Samuel Duarte, costumava pular o muro desse grupo para ir jogar bola no salão desse área coberta. O problema era o guarda da escola que aparecia sem avisar e botava dos nós para correr. Pulávamos o muro alto no maior desespero.
ResponderExcluirObrigado pela sua visita a este blog.
ResponderExcluirLembrsnacas doces do tempo em que estudei neste grupo. Eu e meus irmãos. Decada de 40. Em 1976 vidtei Cajazeiras e vi o meu grupo e revivi...
ResponderExcluirO tempo q mais ficou em mim. Meu esposo me fotografou com a minha filha.. não olhei para teaz... se olhasse não conseguiria seguir minha caminhada haja. Para minha felicidade, vejo hoje está foto na história da minha terra. Surpresa. Felicidade.
Faz parte da minha vida. Sou Celia Rolim.
ResponderExcluirCelia Rolim, como um fiel filho de Cajazeiras, também sou grato pelos momentos bons que vivi no passado nessa cidade. Sempre quando paro, para pensar em Cajazeiras, vem as boas lembranças desses dois educandários. Nesse quarteirão era o grupo Milanez, e na outra esquina, o Grupo Escolar Duque de Caxias, onde eu estudei. Quando era na hora do recreio, ficavam os alunos do Milanez brincando numa área coberta onde hoje é o Teatro Ica, e nós alunos do Grupo Escolar Duque de Caxias, como não tinha uma área para brincar, ficávamos na entrada e na calçada da escola vendo os alunos do Grupo Escolar Monsenhor Milanez na sua área externa. Muitos de nós, arriscava, sem permissão da diretora, ir até o portão gradeado dessa área externa do Milanez, para conversar com os alunos. O sentimento que batia em alguns de nós, é parecido como se fosse o “Primo Rico e o Primo Pobre”. Obrigado por visitar nossa página e deixar seu comentário.
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