Cleudimar Ferreira
cleudimar.f.l@gmail.com
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O poeta Ilismar di Lyra |
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O poeta Irismar di Lyra é sem dúvida, depois da era Cristiano Cartaxo, o mais importante poeta contemporâneo de sua geração. Sem precisar de tanta louvação para rimar palavras bem colocadas sobre as particularidades da terra da cultura, ele através da sua lira, foi até agora, o que mais tem exaltado em seus poemas, os aspectos peculiares, sociais e culturais de Cajazeiras. No seu livro, Cajazeiras - Uma aldeia poética, (editora universitária, UFPB, 1999) ele refuta a história social de sua terra adotiva, como se fosse uma câmera passeando pelo passado e presente de Cajazeiras, sem perder do foco um detalhe se quer do seu roteiro estético. Escrevendo quase que minunciosamente, as mudanças que o tempo impôs, e as lembranças que esse mesmo, deixou. No poema "Ode a Cajazeiras ou por tua culpa, por tua máxima culpa" algumas dessas singularidades, são trabalhadas, quando o mesmo relembra fatos políticos; quando demonstra passagens importantes do movimento estudantil; da efervescência libidinosa da produção cultural e artístico de uma Cajazeiras remota, principalmente aquela dos anos 70 e 80. Poetisa a importância que foi esses momentos, e conclama a todos a não perder esses atributos e se engajar com a cidade, para que a mesma também não perca a sua identidade de terra que ensinou a Paraíba ler.
ODE A
CAJAZEIRAS
OU POR TUA CULPA, POR TUA MÁXIMA CULPA
poema de Irismar di Lyra
De
sabedoria te imagino poema;
no exílio,
minha`alma inquieta-se.
Na
condição de filho
fora de
casa,
fiz
de ti, Cajazeiras,
o
teor dos meus poemas
e, à
distância, outra cidade me acolhe,
sem
seus atributos peculiares.
Eu
insulto daqui, a Cajazeiras pacata,
a que
assiste patética, muda e sem ação
a administrações
que se revezam
sem dar-lhe
vez, voz ou direito de participação.
Eu
insulto a política raquítica,
a que
faz obras de fachada
e anda
a passos de jabuti;
o administrador
que constrói praça,
para outro
que chaga destruí.
Eu
insulto a Cajazeiras sem ateliês,
motivos
pelos quais, os painéis
de Luisa
Moisés
resistem
sem galeria;
o teatro
sem espetáculos,
a cultura
em agonia.
(tem
sido assim teu dia-a-dia)
Como Pedro
negaste três vezes
a Raimundo
Correia Ferreira
o Poder
Municipal.
(esse
certamente fora o seu mal)
Não! A
essa Cajazeiras feito diocese,
que neutraliza
os ideais dos filhos mais fiéis
e deixa
que seus sonhos morram na catedral.
Refuto
a Cajazeiras não tão bela,
quanto
Marta Ferreira;
não tão
fina quanto Liduina;
a que
se perde em corsos,
comícios,
carreatas, enterros,
procissões
e infindáveis romarias.
Perdoa-me
se n`algumas horas
te acho
feia,
te penso
longe,
te sinto
fria.
Por tua
culpa, por tua máxima culpa!
Exalto
os anos setenta,
tempos
memoráveis do Colégio Estadual,
da efervescência
do movimento estudantil,
do Centro
Cívico Olavo Bilac,
do
culto a Flor do Lácio,
de
descobertas mil.
Exalto
os novos poetas a reivindicarem
em versos,
espaço para a arte
contestando
a repressão política
do poder
sobre a livre expressão
(tempo
de pura deglutição)
Ainda
que teus vivos, como teus mortes
não repousem
a paz dos cães de Otacílio,
regozijo-me,
por assim, amar-te,
e envio,
daqui, um beijo, deste teu filho.
Fora!
... aquele que não sabe amar-te
Fora!
Aquele que não quer reconhecer,
que pelos
desígnios da arte e da cultura,
és a
Terra que ensinou a Paraíba ler.
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