por: Philippe
Figueiredo
João Rodrigues, a direita ao lado do também empresário Raimundo Ferreira |
Quem transita pelo bairro dos Bancários em João
Pessoa, passando pela sua principal Avenida do Carrefour até as imediações do
Shopping Sul, na sua maioria, não sabe o nome daquele importante logradouro. Ao
invés disto, ela é conhecida como a “principal dos Bancários”. Bom, para quem
não sabia, e não sabe, aquela avenida chama-se empresário João Rodrigues Alves
e com toda certeza, quase ninguém sabe quem foi este ilustre cidadão e
empreendedor de sucesso.
O começo
João Rodrigues Alves nasceu na cidade de Serra Negra,
Rio Grande do Norte no dia 5 de julho de 1912 e posteriormente mudou-se para
cidade de Areia, Paraíba. Logo após, muda-se para São José de Piranhas e em
seguida Cajazeiras de onde nunca mais saiu. Na certidão de nascimento consta
apenas o nome de sua mãe dona Tereza da Conceição. Aliás, ele sempre dizia,
sem constrangimento, ser filho de lavadeira e de pai ignorado. Orgulhava-se de
não ter frequentado escolas e de ter começado a trabalhar aos 12 anos de
idade, como calunga de caminhão, que na verdade é a mesma coisa de ajudante. Ao
atingir a maior idade, adquiriu carteira de habilitação de motorista
profissional e daí por diante avançou na vida. Em 1934, João já melhorara um
pouco sua situação financeira, e adquire um caminhão (caçamba de madeira)
passando a transportar material (pedra e barro) para o DNOCS na construção do
açude de Boqueirão de Piranhas (Engenheiro ávidos), onde morava com a esposa
(recém- casados) na casa de número 09, da rua principal.
Modelo de Caminhão Misto, usado pelo Empresário para transportar passageiros na região de Cajazeiras |
Com o fim da construção do açude, em setembro de
1937, João Rodrigues passou a residir em Cajazeiras, levando suas economias,
fruto de seu trabalho, suficiente para comprar um caminhão novo, com boleia
larga, confeccionada em madeira, adaptada para carregar cargas e passageiros e
assim passou a transportar, principalmente, algodão em pluma dos maquinismos de
Galdino Pires, em Cajazeiras e Antônio Gomes Barbosa, de São José de Piranhas,
para Campina Grande, sempre com a boleia lotada de comerciantes que
aproveitavam a viagem para fazer suas compras e transportá-las aproveitando a
volta do mesmo caminhão. Mas ele não só servia transportando a mercadoria como
também fazia o papel de cicerone para muitos desses comerciantes, e mais
precisamente àqueles que viajavam pela primeira vez, e ainda servia de
avalista, no ato de eventual compra feita a prazo.
Eliete, a filha, embarca de Cajazeiras em um dos ônibus da Viação Andorinha |
Nasce a Viação Andorinha
O sucesso neste ramo, a necessidade de transportar
mercadorias e passageiros, por estradas de chão batido (a BR-230 foi asfaltada
a partir de 1968) faz com que João se torne um dos maiores empresários de
Cajazeiras, bem como da região a partir de 1958. Possuía uma frota composta de
vários caminhões e alguns ônibus, servindo para transportar cargas, de modo
geral, inclusive combustíveis e também passageiros para Campina Grande. O
ônibus que fazia essa linha era conhecido como “a sopa de Seu João". A
partir de 1958, surge a Viação Andorinha que foi pioneira na linha com
itinerário registrado no DER-PB (na década de cinquenta) de Cajazeiras - Campina
Grande, estendendo-se mais tarde até João Pessoa e Recife, e na proporção que
desenvolvia seu plano de expansão ia também interligando Cajazeiras, Campina
Grande e João Pessoa com novas linhas, a várias outras cidades paraibanas,
como: Sousa, Patos, Pombal, Triunfo, Brejo das Freiras, Uiraúna, Conceição, São
José de Piranhas e Bonito de Santa Fé. Nos anos 60 e 70, a Viação Andorinha
passa a ser uma das principais empresas de ônibus do estado, fazendo
concorrência com as Viações Gaivota e Patoense.
Viação Patoense, empresa concorrente da Viação Andorinha. |
João Rodrigues passa a expandir seus negócios não só
na cidade de Cajazeiras, onde além da Viação Andorinha mantinha um posto de
gasolina, uma casa de peças e pneus e era sócio da revenda Volkswagen na
cidade. Passou a atuar também no Rio Grande do Norte onde em 1966, adquire do
empresário da cidade de Caicó Manoel de Neném a Viação Princesa do Seridó
juntamente com suas linhas: Natal x Cajazeiras via Caicó; Natal x Caicó; Natal
x Currais Novos e Natal x Crato, esta linha foi criada já na administração da
Andorinha. A administração da Princesa do Seridó ficou a cargo do seu filho
mais velho José Rodrigues, o Zezinho. Aliás, seus filhos, somente Zezinho e
Paulo Rodrigues, ainda adolescentes, foram os únicos filhos integrados como
sócios na firma do pai e com ele trabalharam até a sua morte.
Ele era uma pessoa extrovertida, orgulhava-se de tudo
que fez e de tudo que foi na vida; não gostava de bajular e nem de ser
bajulado. Também não gostava de etiqueta nem de protocolo; não tolerava
exibicionismo. Tanto assim que quando alguém o procurava, mesmo para tratar de
assuntos comercias, trajando terno e gravata, ele perguntava em tom de ironia,
se era vendedor de livros ou pastor protestante, e para surpresa do excêntrico
visitante justificava-se dizendo que não sabia ler e nem entendia de religião.
Era avesso ao diálogo. Suas decisões eram tomadas de rápido improviso.
Detestava vagabundagem. Para ele todo mundo era obrigado a trabalhar para ter
condições de garantir, no mínimo, sua própria sobrevivência.
Expandindo os negócios (aquisição da viação Princesa
do Seridó)
Pensava assim, talvez, pela sua condição de homem
pouco letrado - todavia de visão empreendedora. Certa vez comentou: “não tem
quem acabe os desvios nas empresas, principalmente no meu ramo. Por mais que
bote fiscalização, os cobradores e os motoristas fazem seus desvios! Por isso é
que luto para que os desvios não passem de 5% do faturamento, aí tá no custo”.
Contava-se que quando chegavam mercadorias, ele chamava seu filho mais velho
para ler a nota fiscal, só conhecia os números.
Viação Andorinha em Patos/PB |
Em nenhum momento ele se distanciou de seus negócios
- fosse trabalhando, viajando ou se divertindo. Sabia como ninguém aproveitar
todos os momentos que a vida lhe oferecia. Era questão dele, se fazer presente
a todas as solenidades - fosse cívica, religiosa, social ou política. Nas
quermesses, por exemplo, ele não só comparecia como animava os leilões,
extrapolando os preços dos brindes leiloados, para atormentar os que tinham
pena de gastar. Sua contribuição, de modo geral, era espontânea e
significativa. Diante de sua popularidade na cidade.
João Rodrigues ao lado de Antônio Ferreira em um Comício em Cajazeiras. |
Política e morte prematura
João Rodrigues tinha gosto pela política e assim
estreia na política, elegendo-se vice-prefeito em 1972 e na verdade foi seu
primeiro e último mandato, pois faleceu no exercício do cargo. Seu João falece
aos 65 anos em 1977 no auge de sua carreira empresarial e política, deixando
suas empresas para esposa e filhos.
João Rodrigues, ainda jovem. |
Sem "seu João" no comando, as coisas não
são as mesmas
Com o falecimento de seu João, seus filhos passam a
tocar os negócios, mas sem o mesmo ritmo e tino comercial do pai e em seis
anos, a Princesa do Seridó e a Andorinha não existiam mais. A Seridó vendeu
suas linhas Caicó x Natal e a Currais Novos x Natal para a Jardinense e a linha
Natal x Cajazeiras possivelmente foi desativada. O restante da empresa
juntamente com a linha Natal x Crato foi vendida para a Gontijo em 1983. A
Andorinha foi vendida para a recém-criada TransParaíba em 1982, com suas linhas
bem como seus carros. Das linhas citadas, boa parte delas foram extintas ou
suprimidas como é o caso da Campina Grande x Cajazeiras, S. José de Piranhas x
João Pessoa e Campina Grande x Sousa. A linha João Pessoa X Bonito de Santa Fé
permaneceu até 1999, quando foi mudada para a cidade de Conceição sendo esta, a
partir de então João Pessoa X Conceição via Cajazeiras. A linha Conceição x
Cajazeiras foi desativada em 2000 e reativada em 2009 para fazer conexão com as
linhas para Brasília.
As linhas que pertencia a Viação Andorinha, passaram para Trans Paraíba. |
Legado
João Rodrigues Alves foi um dos maiores
empreendedores do estado sem dúvida alguma. Mesmo sem saber ler e escrever
construiu um patrimônio incrível à custa de muito trabalho e dedicação, numa
época de muitas dificuldades. Cajazeiras deu dois grandes empresários dos
transportes como o próprio João e Raimundo Ferreira da Viação Brasília embora
que, ambos não tenham nascidos em Cajazeiras, mas retribuíram em forma de trabalho
e progresso o acolhimento que esta cidade lhe proporcionou.
Fonte: Portal Ônibus Paraibanos
Imagens: Paraíba Bus Team
Trabalhei na Andorinha como motorista, de 01/12/1968 a 15/02/1975, iniciei na linha CAJAZEIRAS x Crato depois Cajazeiras x Conceição via Pombal por último corujão São José de Piranhas x João Pessoa, meu nome é Nilson Paulino de Brito, filho de Raimundo Brito hoje moro em Brasília, desde 1975,tenho orgulho de ter participado do quadro de foncionario desta grande empresa.
ResponderExcluirQue legal meu nobre, sou motorista rodoviário filho de Severino Ernesto que trabalhou na andorinha nos anos de 1977 a 1980 ele amava essa empresa.
ResponderExcluir