sábado, 14 de fevereiro de 2015

A falta de compromisso do poder público municipal de Cajazeiras com a cultura de seu povo.

Cleudimar Ferreira


Assim como a nossa antiga Banda Cabaçal, que não se sabe
se está ainda em evidência, foi também o Grupo de Reisado
que desde a década de 80, está desativado por falta 
de recursos financeiros, que viabilize 
suas atividades. 

A história da produção do quadro “Fundação de Cajazeiras”, em exposição no hall da biblioteca pública de nossa cidade, se confunde com aquele já batido e velho ditado que diz se você não vai a montanha a montanha vem até você. Ou seja, se do poder público que representa o povo e a sua história, não parte as iniciativas criativas de valorização da história desse povo, esse povo mesmo distante do poder, vem até a esse poder, propor, sugerir. Foi o que fez W. J. Solha, pintor da citada obra em destaque na entrada da Biblioteca Castro Pinto de Cajazeiras. 

Essa história envolvendo povo e poder representativo, também poderia ser vista como a que conta a relação da cultura com a falta de recursos públicos desse mesmo poder, para a sua produção e que também se norteia com a ausência de ação demonstrada dos nossos prefeitos constituídos, para com a cultura de nossa cidade. Um enredo que já prejudicou, e muito, a evolução da produção cultural de Cajazeiras; que tem sido uma constante nas administrações do nosso Município e que perpassa pelo confuso conceito de representação de povo. 

Sentados em seus gabinetes, olhando para uma inercia a frente, fruto da sua própria formação cultural; pautada no distanciamento quase total do interesse pelas manifestações artísticas de sua terra; e pela omissão de bons incentivos orçamentários para estes fins; os que administraram a cidade até os dias de hoje, segue sem nenhum compromisso com as manifestações culturais de sua gente. 

Destinar noventa mil reais para produções culturais, numa cidade como Cajazeiras, que tem demostrado historicamente toda uma pujança de produções nesse setor, é no mínimo ridículo, ou uma tentativa de subestimar a força criativa de seus artistas. E a cultura de Cajazeiras, pelo nome que tem e pela contribuição histórica que deu e tem dado a cidade nessas ultimas décadas, não merecia tanto. 

Está mais do que evidente, que não se pode pensar em produção cultural nesse país, sem a participação da contra partida da união, dos estados e municípios, pois cultura é uma expressão pública, viva, vinda do povo, destinada ao povo. Se ela tem esse vínculo tão aproximado com o povo é natural que os recursos para sua viabilidade, tenha sua origem do poder público que é quem representa esse povo.


A tela "Fundação de Cajazeiras" está exposta 
na Biblioteca Municipal, por acaso!

A destacada tela "Fundação de Cajazeiras" exposta na biblioteca,
não foi iniciativa do poder público 
municipal e sim, do
próprio autor, W. J. Solha.


Portanto, a destacada tela pintada por Solha, em exibição na biblioteca da cidade, é um símbolo dessa desconfortável falta de compromisso que nossos governantes tem tido com nossa cultura. Uma prova disso é que a destacada pintura, venerada por muitos que cultua a história da cidade, não foi uma iniciativa do poder público de Cajazeiras, e sim, do próprio W. J. Solha - autor da obra.

Numa conversa rápida que tive com o mesmo, se chega facilmente a conclusão, que se a iniciativa de pinta-la, não estivesse partido do autor da obra, talvez essa tão importante tela, não se encontrasse hoje no local onde está. Veja o que ele me respondeu, quando perguntei de quem teria sido a iniciativa para a concretização do quadro. 

Cleudimar, eu realmente morava em Pombal - trabalhava na agência do Banco do Brasil de lá - quando soube, pelo jornal A União, que estávamos - em 1964 - próximos do centenário de Campina Grande. Pesquisei o tema e fiz o quadro da fundação da cidade.” E W. J. Solha segue explicando com produziu a obra:

“Mal tive a obra comprada, vi que haveria, também, o centenário de Cajazeiras. Viajei até sua cidade e fiz contato com um intelectual local, de sobrenome Cartaxo - e que hoje me lembra Einstein. Ele me levou até o local de um clube junto a um lago ou açude e me disse que ali começara a cidade, a partir da casa que Rolim erguera - secundado por escravos. Falou-me da esposa dele, Mãe Aninha, e do filho de ambos, o futuro grande educador, Padre Rolim. Não havia fotos disponíveis, descrições, nada.”

“Ao rever o quadro, agora, em foto, me lembrei de que quando fui pintá-lo, me servi, para criar o Padre Rolim ainda bebê, de uma foto de Ana Valéria Bezerra Wanderley, filha de meu grande amigo Doutor Atêncio Bezerra Wanderley, acho que, na época, prefeito de Pombal. Criei o quadro em Pombal e o levei para oferecê-lo ao prefeito da época. Ele reuniu algumas figuras proeminentes de Cajazeiras, inclusive a já famosa Íracles, para apoiá-lo ou não na compra. Feito o pagamento - algo como 150 mil cruzeiros, que imagino valendo hoje em torno de 400 ou 500 reais, voltei para Pombal e nunca mais revi a tela. Que gostaria até, se fosse possível, de restaurar, sem nenhum custo para a cidade, a não ser o do transporte.” 

E conclui W. J. Solha: “Os dois quadros - Fundação de Campina e Fundação de Cajazeiras - foram derivados da Fundação de Sorocaba(onde nasci), feita apor Ettore Marangoni, obra bastante respeitada, na época, hoje não sei, com direito à réplica do fundador em bronze, numa praça central, constante reprodução nos jornais e até nos cadernos escolares que eu tive.”






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