por: Cleudimar Ferreira
Entre as demais cidades da sua região, Cajazeiras
sempre foi a que se mostrou mais atuante no campo da produção cultural. Seus
artistas na linha do tempo, foram inteiros. Se mostraram perseverantes e comprometidos com
o fazer artístico. Virtudes que fez serem destaques nas diversas
linguagens que compõe o universo da arte.
Partindo desse princípio, me parece ser descabível qualquer
contestação que se faça ou que desaprove esse legado social que a cidade adquiriu
e vem mantendo com qualidade durantes décadas e mais décadas. No campo das artes visuais,
por exemplo, essa herança é bem vasta. Basta uma investigação mais apurada para se descobrir as atuações de seus artistas, seja com os desempenhos dos nossos conhecidos representantes de hoje, seja com as atuações que fizeram seus artistas
plásticos do passado. Dos que são visíveis e estão entre nós ou dos anônimos que não conhecemos e que não sabemos as suas histórias e a relação que esses estiveram com a arte.
Nesse contexto, merece destaque a gravadora, pintora, cenógrafa,
restauradora e professora Isa
Aderne Vieira Iaderne. Nascida em Cajazeiras, em 1923, Isa
Aderme como é chamada, teve o seu momento áureo no campo da gravura nos
anos 60, após estudar essa linguagem das artes visuais com Adir Botelho e ter sido orientada pelo também gravador Osvaldo Goeldi; bem como, anos atrás, em 1947, ser instruída na pintura de quadros, na Escola
Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Canto da Sereia |
Depois a artista se envereda pela xilogravura de cunho
popular, refletindo em seus trabalhos os diversos aspectos da cultura
nordestina, com destaque para os elementos oriundos da literatura de cordel,
criando um paralelo entre a tradição popular e a realidade política dos anos 60,
com obras carregadas pelo debate político, que oscila entre uma temática libertadora
e o arbítrio. “Uma poética da resistência”, afirma Maria Luisa Luz Tavora.
Entre os anos de 1964 e 1968, foi professora
de xilogravura na Escolinha de Arte do Brasil e em 1968, do Museu Histórico do
Rio de Janeiro. Participou do Salão Nacional de Arte Moderna. Em 1973,
participou em Havana, do I Concurso Latino Americano de Gravura. Em 1977, atuou
como professora no XI Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas
Gerais.
Isa Aderne - em uma oficina para alunos na UFPB. |
De 1978 a 1995, foi instrutora na
Oficina de Gravura do Ingá; e, de 1984 a 1988, na Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. No ano de 1991, recebe o Prêmio Coca-Cola de Melhor
Cenografia pela peça “Fala Palhaço”, do Grupo Hombu. Dedica-se especialmente a
xilogravura, quando em 1994, passou a ensinar essa técnica na Oficina de
Gravura do Sesc Tijuca.
Portanto, os caminhos percorridos por Isa Aderne a partir o tempo da
sua vivência em sua cidade natal Cajazeiras, desde que descobriu a vocação
para arte, são os mesmos peregrinados pela artista por muitas cidades do
Nordeste, pelos quais o seu pai mandado a serviço pelo antigo IFOCS - Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas: “o
mesmo era engenheiro das secas”, também percorreu. Nesse intento, a fome, a miséria e as doenças
como o tife, de certo modo, formaram o pano de fundo de sua experiência de mundo no sertão
nordestino. Vaqueiros e cantadores de viola; o mítico Padre Cícero, amigo da
família; a lembrança das capas dos folhetos de cordel, foram marcantes em sua obra e contribuíram como subsídios
que influenciaram nas xilogravuras da artista cajazeirense.
gravuras e xilos da artista cajazeirense
1. Escada II; 2. Oração, Ogum guerreiro manda-nos um dinheiro; 3. Meu crochê I
Este é o meu sangue |
Fruto Proibido |
In Vino Veritas |
Nuvem |
Parém os Ventos I |
Queremos |
Viagem |
Cronologia da Artista
1. Sofrimentos de Cristo I; 2. Reivindicação de Classe.
1938 – Mudou-se para o Rio de Janeiro, RJ.
1947 – Iniciou curso de
pintura na Escola Nacional de Belas Artes, logo interrompido.
1960 – Retornou à Escola
Nacional de Belas Artes, formando-se em pintura. Foi aluna de Ahmés de Paula
Machado, com quem aprendeu a técnica litográfica.
1963 – Concluiu cursos de
especialização em pintura e em gravura, este último com Adir Botelho.
1964-68 – Lecionou
xilogravura na Escolinha de Arte do Brasil, Rio de Janeiro.
1986 – Ministrou curso em
xilogravura em Salto, no Uruguai.
1968-69 – Foi professora de
xilogravura no Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
1978-95 – Foi professora da
Oficina de Gravura do Ingá, Niterói, RJ.
1984-88 – Foi professora da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
1991 – Recebeu o Prêmio
Coca-Cola de melhor cenografia pela peça Fala Palhaço, encenada pelo Grupo
Hombu.
1994 – Tornou-se professora
de xilogravura do Serviço Social do Comércio, Rio de Janeiro.
Realizou, entre outras, as seguintes
exposições individuais:
1968 – Museu da República,
Rio de Janeiro.
1968 – Mostras em
Montevidéu, Salto e Tacuarembó, no Uruguai.
1970 – Rabat, Marrocos.
1973 – Galeria Mara,
Londres, Inglaterra.
1974 – Teatro Carlos Gomes,
Vitória, ES.
1985 – Escolinha de Arte do
Recife, Recife, PE.
1992 – Trinta Anos de
Gravura, Palácio da Cultura, Rio de Janeiro.
1995 – Espaço Cultural
Serpro, Brasília.
2001 – Isa Aderne:
xilogravuras, Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo, São
Paulo.
2006 – Núcleo de Arte
Contemporânea da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB.
Participou, entre outras,
das seguintes exposições coletivas:
1961-73 – Salão Nacional de
Arte Moderna, Rio de Janeiro.
1965 e 67 – Salão de Arte
Religiosa Brasileira, Londrina, PR (prêmio aquisição na edição de 1965 e prêmio
conjunto de obra na de 1967).
1965-69 – Salão Paranaense
de Belas-Artes, Curitiba, PR (medalha de prata na edição de 1965 e prêmio
aquisição na de 1967).
1966 – I Bienal Nacional de
Artes Plásticas de Salvador, Museu de Arte Moderna, BA.
1967 – IX Bienal
Internacional de São Paulo, Fundação Bienal de São Paulo.
1968 e 1970 – Bienal
Americana de Gravura, Santiago, Chile.
1970 e 1973 – “Seven Printmakers from Brazil”, Washington, Estados
Unidos.
1979 – I Bienal
Ítalo-Latino-Americana, Roma, Itália.
1983 – 30 Anos de Instituto
Cultural Brasil-União Soviética, Associação Brasileira de Imprensa, Rio de
Janeiro.
1993 – XIII Salão Nacional
de Artes Plásticas, Rio de Janeiro.
1994 – 90 Horas de Pintura,
Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro, menção honrosa.
2006 – Investigações: a
gravura brasileira, Galeria Itaú Cultural, Brasília, DF.
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2 comentários:
Conheci dona Isa Aderne, e o seu esposo Dr. Luiz Antonio Jordão, os mesmos moravam em Salvador e eu, venham procurando saber deles há muitos anos, somente ontem um amigo me ajudou como pesquisar, foi justamente o dia de 1 ano do falecimento de dona Isa Aderne. 04/02/2019. Fiquei muito sentido, e fiquei também muito pensativo, porque só ontem eu localizei algo sobre ela. Más com certeza ela esta em um bom Lugar. Deus seja Louvado.
Isa Aderne foi uma das grandes gravadoras desse país que não teve seu devido reconhecimento. Infelizmente!
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