por: Marilda Sobreira Rolim - Jornal "O Norte" , edição: dezembro/1996.
Marilda Sobreira Rolim - Escritora |
"O cangaceiro é considerado um
injustiçado. Mas eu pergunto qual foi o crime cometido pela justiça por não
tê-lo julgado?"
"O que os cangaceiros fizeram foi
juntar um número considerável de homens que não queriam trabalhar e que saíam
tomando para se manter. Chegando a ocasião, naturalmente matavam, estupravam e
assim iam de um Estado para o outro, sempre a cavalo. Para eles, a lei era o
fuzil. Chegavam a uma propriedade com toda autoridade de dono, e se alguém não
obedecia ali ficava no chão, “comendo terra”, como diziam."
Sabino cangaceiro (foto), quando
imaginou atacar Cajazeiras, convidou Lampião, que respondeu: “O Padre Cícero me
passou ordem de nunca ir a Cajazeiras, porque ele foi aluno do Padre Rolim e
não queria vê-lo sofrer”... Então o cangaceiro Sabino foi sem Lampião.
Sabino Cangaceiro |
Para o místico D. Moysés Coelho,
foi uma noite de aflição. O Colégio Padre Rolim ficou cheio de famílias que
queriam ficar à sombra do pastor, que só fazia rezar e pedir a todos que
tivessem calma, que Deus tudo resolveria.
A cidade sem nenhuma defesa, os
cajazeirenses pacatos e confiantes não acreditavam que o bando tivesse ousadia:
atacar Cajazeiras!
Os poucos soldados foram para São
João do Rio do Peixe. Os homens que armas ainda deram uns tiros à toa, Marechal
Sobreira Cartaxo, Romeu Cruz, e Raimundo Anastácio.
A tardinha o grupo chegou. Logo na
entrada da cidade matou dois agricultores, um soldado e um paralítico, que, na
sua ingenuidade, gritou enaltecendo os "heróis”. A casa dos Barbosa, na
Rua Dr. Coelho, foi incendiada, nunca se soube o motivo.
Sempre atirando e gritando, iam em
direção à casa do Major Epifânio Sobreira Rolim (foto, onde hoje funciona a
Secretaria Municipal de Educação). O Major, muito calmo, de fuzil na mão,
brincando, dissera para sua esposa dona Terezinha: “Tanta munição e eu não dou
nenhum tiro” Nisso ouviu se as pisadas dos homens rodeando a casa. Tomaram seus
lugares e tudo começou. Tanto atiravam como gritavam: “vamos te pegar, velho,
te prender de cabeça para baixo e furar tua garganta, como se faz com um
bicho”.
Casa (alvo do ataque) do Major Epifânio Sobreira Rolim |
A família toda dentro de um quarto,
crianças, moças, filhos adotivos, ao todo dezoito pessoas A porta da frente que
dava para o jardim foi aberta a coice de rifle A trave caiu; a pancada no
assoalho juntou-se ao som do ferro de zincado. Até o piano ressoou. A dor na
nossa cabeça uniu se ao medo; a oração ficou paralisada na garganta. Ouvíamos
os gritos dos bandidos ''venham que tem uma porta aberta. ‘Vamos pegar o velho
“na unha"
A porta aberta do casarão guardava
a família do major, num grande desafio. O lutador não teve calma foi até o meio
da sala, atirou e voltou baleado. No mesmo instante chegou o vaqueiro José
Inácio, homem rústico e de tremendos bons sentimentos. Foi um amigão para o
patrão. A experiente e desvelada esposa que orientava o major no combate,
mudando de armas para confundir, notou que ele estava manquejando e baleado.
Cheia de ansiedade pediu ao esposo
para saírem, mostrando lhes os perigos. Depois de muita insistência ele cedeu.
Nesse momento ouvimos um tiroteio estranho. Era o motor da luz, causado por
falta de água. Os cangaceiros, pensando ser reforço, se retiraram. Isso foi
ideia de José Sinfrônio.
A nossa saída foi perigosa, mas
deixou o alívio de ver o plano do cangaceiro Sabino não ser realizado, que era
levar o major preso, de porta a fora, para conseguir dinheiro dos parentes e
amigos. Já imaginaram que humilhação? Voltaram os bandidos cabisbaixos, sem o
som dos gritos da vitória nem o eco das risadas, somente levando nos ombros a
derrota aumentada pelo medo.
Marilda Sobreira Rolim:
"Relembrando fatos do passado, eu
vejo o testemunho de minha história e, nessa vida em pedaços, lamento o conceito
sobre o que é ser herói."
"Pedir aplausos para esses figurados
heróis, que foram no passado o desassossego dos velhos e crianças, a aflição
dos necessitados e o terror do Nordeste? Isso, jovens, não é ser herói!"
"Quando os nomes de Luiz Padre,
Lampião ou Sabino eram pronunciados, o silêncio era ouvido, a alegria fugia e o
medo envolvem aqueles que pensavam em seus familiares."
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