Íracles
Brocos Pires tornou-se conhecida, indiscutivelmente, como a grande dama do
teatro em Cajazeiras, “a cidade que ensinou a Paraíba a ler”. Esta era a sua
especialidade maior: a de montar, produzir e dirigir peças teatrais de
repercussão, que encantavam plateias. Mas Íracles, ou “Ica”, como a tratavam,
era polivalente, mulher emancipada e revolucionária, que manteve programa de
rádio de grande audiência, pelo caráter afirmativo e autêntico das opiniões que
emitia e das críticas que direcionava aos gestores de plantão, dentro da sua
filosofia de contribuir para o desenvolvimento da terra do Padre Rolim. Viveu a
maior parte de sua adolescência no Rio de Janeiro, onde se entrosou com figuras
do meio artístico e cultural. Uma de suas amigas era Íris Letieri, famosa
apresentadora de telejornais, para não dizer a primeira nesse mister.
Depois de se casar com o médico Waldemar Pires Ferreira, Íracles
foi residir em Cajazeiras. Da união nasceram a arquiteta Jeanne Brocos Pires,
radicada em Brasília e com pós-graduação na Universidade do Texas (EUA), e o
engenheiro Saulo Péricles (Pepé). Ica, depois de casada, voltou ao Rio para
fazer o curso de teatro na Faculdade de Belas Artes. Entre as peças que montou
figuram “Auto da Compadecida”, “Afilhada de Nossa Senhora da Conceição” e “Fui
eu… Mas não espalhe”. Mulher sem preconceitos, que se impunha pela
personalidade altiva e coerente, faleceu no dia nove de março de 1979 em
acidente automobilístico na cidade de Jequié (BA) quando retornava do Rio para
Cajazeiras. Teve papel relevante na descoberta e incentivo aos talentos locais
e se engajou em causas voltadas para a expansão da cidade que a projetou.
No governo Wilson Braga, idealizou-se a construção de um teatro
em Cajazeiras, cuja denominação homenageia a estrela maior da cidade no
ativismo intelectual, que abrangia, também, festivais de poesia, Semanas
Universitárias, eventos cívicos e históricos. Lembro-me de um episódio que
definia bem seu modo de ser: presidente do Cineclube Vladimir de Carvalho,
levei a Cajazeiras o crítico de cinema Jean Claude Bernadet para uma palestra
sobre esse universo fascinante. Onde hospedar tão ilustre convidado? “Madrinha
Ica” assumiu a responsabilidade. Anfitrionou Jean Claude em sua residência, e
cumulou-o de honras e homenagens que merecia.
Seu desaparecimento gerou uma lacuna que ainda hoje é
compartilhada pelos que tiveram a oportunidade de conhecê-la ou de aprender
suas lições!
fonte: CORREIO DAS ARTES - ANO LXIV, Nº 7 - SET./2013
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