sábado, 9 de agosto de 2014

Íracles, a Grande Dama do Teatro

N o  n a t o  G u e d e s




Íracles Brocos Pires tornou-se conhecida, indiscutivelmente, como a grande dama do teatro em Cajazeiras, “a cidade que ensinou a Paraíba a ler”. Esta era a sua especialidade maior: a de montar, produzir e dirigir peças teatrais de repercussão, que encantavam plateias. Mas Íracles, ou “Ica”, como a tratavam, era polivalente, mulher emancipada e revolucionária, que manteve programa de rádio de grande audiência, pelo caráter afirmativo e autêntico das opiniões que emitia e das críticas que direcionava aos gestores de plantão, dentro da sua filosofia de contribuir para o desenvolvimento da terra do Padre Rolim. Viveu a maior parte de sua adolescência no Rio de Janeiro, onde se entrosou com figuras do meio artístico e cultural. Uma de suas amigas era Íris Letieri, famosa apresentadora de telejornais, para não dizer a primeira nesse mister.

Depois de se casar com o médico Waldemar Pires Ferreira, Íracles foi residir em Cajazeiras. Da união nasceram a arquiteta Jeanne Brocos Pires, radicada em Brasília e com pós-graduação na Universidade do Texas (EUA), e o engenheiro Saulo Péricles (Pepé). Ica, depois de casada, voltou ao Rio para fazer o curso de teatro na Faculdade de Belas Artes. Entre as peças que montou figuram “Auto da Compadecida”, “Afilhada de Nossa Senhora da Conceição” e “Fui eu… Mas não espalhe”. Mulher sem preconceitos, que se impunha pela personalidade altiva e coerente, faleceu no dia nove de março de 1979 em acidente automobilístico na cidade de Jequié (BA) quando retornava do Rio para Cajazeiras. Teve papel relevante na descoberta e incentivo aos talentos locais e se engajou em causas voltadas para a expansão da cidade que a projetou.

No governo Wilson Braga, idealizou-se a construção de um teatro em Cajazeiras, cuja denominação homenageia a estrela maior da cidade no ativismo intelectual, que abrangia, também, festivais de poesia, Semanas Universitárias, eventos cívicos e históricos. Lembro-me de um episódio que definia bem seu modo de ser: presidente do Cineclube Vladimir de Carvalho, levei a Cajazeiras o crítico de cinema Jean Claude Bernadet para uma palestra sobre esse universo fascinante. Onde hospedar tão ilustre convidado? “Madrinha Ica” assumiu a responsabilidade. Anfitrionou Jean Claude em sua residência, e cumulou-o de honras e homenagens que merecia.

Seu desaparecimento gerou uma lacuna que ainda hoje é compartilhada pelos que tiveram a oportunidade de conhecê-la ou de aprender suas lições!

fonte: CORREIO DAS ARTES - ANO LXIV,  Nº 7 - SET./2013




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