Quase memória:
Pereira Filho. Uma trajetória de luta e realização.
por P e r e i r a F i l h o
Quando eu era menino lá em Cajazeiras, não tinha a ideia que certo dia eu iria deixar a minha cidade para residir em uma outra, principalmente em Brasília. No início da década de sessenta, devido à falta de emprego, eu via muitas pessoas em Cajazeiras deixarem a cidade para morar em outras cidades brasileiras, principalmente São Paulo. Naquela época, a Viação Brasília, de Raimundo Ferreira, tinha um horário diário de saída para a capital paulista e os ônibus saiam com lotação máxima de passageiros, a exemplo dos jovens da cidade quando terminavam de servir o Tiro de Guerra, logo compravam a passagem para ir morar em São Paulo. Me lembro, também de muitos estudantes que terminavam de concluir o curso Ginasial, iam prestar vestibular em várias capitais do Nordeste, principalmente em João Pessoa, porque em Cajazeiras só tinha a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FAFIC).
No dia 13 de dezembro de 1971, às vinte e
uma horas, estava eu trabalhando na Rádio Alto Piranhas, em mais uma noite
quente na cidade, quando recebi a visita de meu irmão Eduardo, me informando
que o caminhoneiro João Nestor, cunhado de mamãe, estava lá em casa me
esperando para viajar para São Paulo. Além João Nestor, seu sobrinho Zé, que
era seu auxiliar de motorista. Faltava doze dias para minha colação de grau do
curso Ginasial, bem como a festa que se realizaria no Cajazeiras Tênis Clube.
Falei para ele que não ia para casa, porque eu não queria ir para a capital
paulista. Ele insistiu e me falou: “Você vai pra casa e chegando lá, fale pra
mamãe que não quer ir pra São Paulo”. Fui pra casa e ao chegar lá, minha mãe
falou: “Vá embora para São Paulo morar na casa de Josina (irmã de minha mãe).
Aqui em Cajazeiras você não vai ter emprego que tenha futuro”. Ela continuou.
“Se você não for pra São Paulo, não entra mais em casa e vou escrever para seu
pai. Sua mala está em cima da carga”. Meu pai trabalhava em João Pessoa. O
caminhão FNM (fenemê cara chata) estava carregado de milho para ser entregue na
cidade baiana de Amélia Rodrigues. Saímos de Cajazeiras pela saída do Ceará e
quando estávamos passando em frente ao meu Colégio Estadual, nesse momento
pensei - só volto a esta cidade daqui a três anos para passear. Chegamos em
Amélia Rodrigues dois dias depois após a saída de Cajazeiras.
Chegando em
Amélia Rodrigues, ele descarregou o Fenemê e pegou um frete de minérios para o
Rio de Janeiro. Essa viagem para São Paulo não estava na minha agenda, porque
quando eu estava cursando o Ginasial, juntamente com Kérson Maniçoba e Dedé
Cabôco, planejávamos morar no Rio de Janeiro. Na minha vida, a maior viagem que
eu tinha feito, foi pra João Pessoa. Saímos de Amélia Rodrigues, pegamos a
BR-116 Rio-Bahia no estado de Minas Gerais, entramos no Estado do Rio de
Janeiro, passamos em Petrópolis e Teresópolis - cidades serranas - a seguir
descemos a serra e, finalmente, chegamos ao Rio. Nesse dia, chovia muito no Rio
e a carga foi entregue no bairro da Tijuca. Não fiquei no Rio, porque não tinha
dinheiro para hospedagem e nenhum conhecido na cidade para me dá apoio. No dia
seguinte, com o caminhão vazio, fomos pra São Paulo. Chegando lá, ele me deixou
em Diadema, cidade da Grande São Paulo. Foram dez dias de viagem de Cajazeiras
a São Paulo, passando pelo Rio. Durante a viagem não gastei um tostão, porque
não tinha grana e João cozinhava o almoço e jantar, no próprio caminhão.
Chegando
em São Paulo, fui trabalhar na fábrica Resil, fornecedora de peças para a
Volkswagen, na função de Conferente de Produção. Depois fui trabalhar na Auto
Viação São João Clímaco na função de cobrador. Dias depois, a Rádio Clube Santo
André convocava jovens para fazer testes para locutor, fui lá, passei no teste
em terceiro lugar e, em conversa com o diretor da emissora, fiquei sabendo que
estavam precisando, de imediato, de apenas dois locutores. Por ter ficado em
terceiro lugar, não fui contratado. Assim, Brasília foi o meu destino final.
Por ser uma cidade nova, atraiu ainda mais a minha atenção. Comecei como
Vigilante na Confederal. Depois, Leiturista Entregador na CEB (Companhia de
Eletricidade de Brasília), Técnico em Estatística do IBGE, Escalador de Voo da
Varig, Auxiliar Administrativo da TV GLOBO, Auxiliar Técnico da EBN (Empresa
Brasileira de Notícias), Operador de Computador da RADIOBRÁS (Empresa
Brasileira de Comunicação). Ufa! E, finalmente, me encontro atualmente na
função de Produtor de Estúdio da Rádio Nacional de Brasília, empresa da
Secretaria de Comunicação da Presidência da República. No último dia 13 de
dezembro de 2013, completou-se 42 anos dessa aventura Quixotesca. 42 anos que
deixei a Terra do Padre Rolim.
fonte ac2brasilia
crédito fotográfico Acevo Cipemar
crédito fotográfico Acevo Cipemar
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