quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Foto de 1909, do acervo de Frassales. Em cima: (da direita 
para esquerda) Francisco Bezerra, João Uchôa e Marechal
Joaquim Sobreira Cartaxo. Embaixo: (da direita para 
esquerda) Cristiano Cartaxo (com livro na mão), Lucas
Moreira e José Sinfrônio 

O farmacêutico Cristiano Cartaxo
Por Francisco Frassales Cartaxo

O poeta Cristiano Cartaxo concluiu o curso de Farmácia no Rio de Janeiro, em 1913. Um século! Ele começara os estudos de medicina na pioneira faculdade da Bahia, mas logo se transferiu para o Rio. Seu pai, o major Higino Rolim, dono de farmácia autorizada a funcionar pelo Imperador Pedro II, em 1875, induziu o filho a mudar de curso e, com isso, antecipar o retorno a Cajazeiras, a fim reforçar o prestígio da sua botica. Foi o que se deu. Cristiano Cartaxo chegou às vésperas da criação da diocese, quando o padre Sabino Coelho arrecadava fundos para garantir a formação do patrimônio da futura diocese. Nessa época, o Ceará pegava fogo com a sedição do Juazeiro. Sob as benções do padre Cícero Romão Batista, os jagunços comandados pelo médico e deputado federal, Floro Bartolomeu, puseram a correr do governo cearense o coronel do Exército, Franco Rabelo, que fora eleito graças ao “salvacionismo”, movimento responsável, no Ceará, pela derrocada da oligarquia Acioly. O episódio teve dimensão nacional, mercê das ligações partidárias do padre Cícero e Floro com Pinheiro Machado, o poderoso chefe nacional do Partido Republicano Conservador.

Pois bem, foi esse contexto agitado que meu pai encontrou neste pedaço do Brasil, ao retornar a Cajazeiras. No plano sentimental, contudo, predominava céu de brigadeiro. Seu casamento já estava acertado com Idalina, filha mais nova do coronel Joaquim Matos. Dizem que Ilina era uma linda mulher. Os retratos, guardados a sete chaves, confirmam a beleza da primeira esposa de meu pai. O enlace durou pouco. Alguns anos apenas. Ilina Matos morreu em trabalho de parto do segundo filho.

Viúvo rico para o padrão da época, anel no dedo, quando sequer havia médico em Cajazeiras, Cristiano deve ter sido observado com olho comprido pelas donzelas... E pelos pais delas... Isso ele deu a entender em raríssimas confidências e, assim mesmo, em doses homeopáticas. Quem o seduziu então? A beleza de uma adolescente expulsa do Cariri, junto com sua família, pela sanha repressiva dos fanáticos do padre Cícero. Veja o leitor, como fatos históricos influenciam manifestações individuais de paixão e de amor.

Marilda Sobreira, prima legítima do meu pai, chamava o major Higino Rolim de “tio doutor”. Por quê? Porque o tio era farmacêutico prático, como se dizia. Aviava receitas com base em compêndios franceses. Todos o tratavam como doutor. Imagine a importância do filho, formado no Rio, jovem, poeta, culto, orador em festas cívicas e religiosas... Católico, Cristiano caiu nas graças de dom Moisés Coelho, nosso primeiro bispo, a partir de 1915, tanto que mereceu largos elogios do padre Heliodoro Pires, em carta publicada em 1916, em jornal da capital da Parahyba. 

No centenário de sua formatura, presto a meu pai esta homenagem simples, despida de excessos laudatórios e prometo para breve narrar uma história de amor ocorrida em Cajazeiras, na qual ele é protagonista. História de amor com raiz na chamada “guerra” entre Crato e Juazeiro. Por coincidência, guerra iniciada, exatamente, no mês de dezembro de 1913, quando o poeta Cristiano Cartaxo Sobreira Rolim concluiu o curso de Farmácia, no Rio de Janeiro.



fonte: blog setecandeeiros cajá

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