Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque Presidente da Província do Ceará (1868-1869) |
Ofício do Padre Rolim ao Presidente da Província do Ceará Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque, (17 de agosto 1868 a 24 de abril de 1869) revela a sua preocupação com a necessidade do aproveitamento dos recursos naturais da Região do Araripe, para o desenvolvimento agroindustrial do cariri, como forma de combate as secas. Na época, por volta da década de 60 do século XIX, o padre cajazeirense, exercia suas atividades sacerdotais na cidade do Crato/CE.
Padre Inácio de Sousa Rolim |
Ilmo. Sr. Presidente
Na digna pessoa de V. Excia., respeito a primeira autoridade
da província. De-sejo que V. Excia. se digne prestar-me um pouco de atenção
sobre o que passo a expor. Acho-me, presentemente, nesta comarca do Crato, e
seja qual for a minha pátria, a minha idade, a minha capacidade, a minha
disposição, desejo prestar-me a serviço de meu país, enquanto a morte não
reclamar os seus direitos sobre mim. Este maravilhoso Cariri, atravessado de
noroeste a sueste por uma ramificação da grande serra que aqui tem o nome de
Araripe é em muitas partes regado por águas cristalinas que, em torrentes mais
ou menos abundantes, arrebentam de profundos vales nas encóspias (sic) da serra
e formam arroios donde os habitantes industriosamente extraem córregos ou
levadas de água para as suas lavouras durante a seca. As faldas da serra
constando de terras ora arenosas, ora argilosas e sempre boas para toda sorte
de vegetação, têm a vantagem de poder ser favorecidas d’água na estação seca; e
é para lamentar que tais terras não estejam cobertas de videiras, árvore do
pão, oliveiras, figueiras, árvore de leite, chã da índia, cacau, tâmaras, sagu,
as quais aqui se alimentam mui bem, como tem sucedido às outras árvores exóticas
que aqui vemos e que vegetam tão bem como as indígenas do Cariri. Decerto a
indústria europeia teria melhorado muito bem uma tal terra, onde ao tempo da
seca correm regatos de boa água em tal abundância que chegam para regar
extensas campinas. O solo produz bem toda a qualidade de cereais que aqui se
tem plantado. Eu acho-me agora na diligência de experimentar uma plantação de
trigo, trabalho este que empreendo com o fim de induzir os fazendeiros do campo
a fazerem alguma cultura desse importante gênero. Visto que V. Excia. é quem
presentemente tem em seu poder os
destinos desta Província, a quem, senão a V. Excia. devemos nós recorrer? Sei
que esta requisição não está isenta de ser taxada de intempestiva e até absurda
e para V. Excia. escusada, uma vez que bem conhece as circunstâncias atuais, as
necessidades da Província, as localidades e propriedades dos terrenos; todavia,
é urgente que nós sejamos importunos em busca de melhoramentos, e se V. Excia.
quiser ter a bondade de atender a esta humilde declaração, a minha esperança a
tal respeito não ficará frustrada; porque então V. Excia. dará as providências
necessárias e munindo-se de autorização pela Assembleia provincial, em razão da
despesa, requisitará da Sociedade Auxiliadora da Indústria do Rio de Janeiro
aquilo que agora pedimos como mais necessário. Pelos nossos sertões já se vai
plantando algum trigo, porém o trigo que me parece preferível a todos é o
sarraceno ou negro que se planta nos Estados Unidos, no Rio de Janeiro já a
Sociedade Auxiliadora da Indústria tem dado sementes!
Alguns moinhos que se têm empregado para alguma trituração
de trigo são impróprios para isso; portanto, é necessário mandar vir da América
Inglesa algum moinho excêntrico, ou capaz de triturar bem. As vides que devem
servir para o fabrico de vinho no nosso país são do gênero Vitis labrusia,
sendo preferível a espécie Catawba, que se cultiva em grande escala nos Estados
Unidos. Quanto ã oliveira, será difícil transplantá-la, mas não creio que seja
impossível. A árvore-vaca, ou de leite, que é indígena na Venezuela, se já não
há na Caiena inglesa e holandesa, será pela dificuldade de propagar-se.
Em suma, os nossos objetivos de encomenda reduzem-se a
sementes de trigo negro ou sarraceno, um moinho excêntrico, se- mentes ou pés
de Catawba, e repentões (sic) ou pés de oliveira.
De V. Excia. súdito respeitado e capelão
Inácio de Sousa Rolim
Cidade do Crato, 19 de novembro de 1868.
fonte: livro "As crônicas de um mestre escola"
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