Francisco Frassales Cartaxo
Em vida ele foi homem de sete instrumentos, de muitos amores
e muitos filhos. De criatividade sem limites. Após a morte, sua personalidade
multifacetada tem sido realçada por companheiros, amigos, admiradores ou
simples conhecidos. Nesta última categoria me incluo. Morando quase a vida toda
fora de Cajazeiras, não mantive com João Rodrigues laços estreitos de
camaradagem. Mesmo assim quero juntar esta crônica a tudo que já foi dito
acerca desse cajazeirense singular. Para isso, relembro dois episódios da
história política de Cajazeiras, vividos na eleição de 1982, nos quais João de
Manezim se fez personagem.
O primeiro fato se deu no debate no Grêmio Artístico
realizado entre candidatos a governador da Paraíba e a prefeitos de Cajazeiras.
Wilson Braga, único candidato ausente, fez-se representar pelo suplente de
senador Bosco Barreto, numa evidente provocação. Ora, Bosco rompera com o PMDB,
passando de mala e cuia para o PDS, e carregava nos ataques irreverentes contra
Antônio Mariz, candidato da oposição. Boa parte do salão do Grêmio foi ocupada
por marizistas de Sousa, em reforço ao pequeno núcleo do PMDB cajazeirense, na
mais desequilibrada eleição após 1930. Iniciado o debate, o clima já muito
tenso piorava com o destempero de Bosco Barreto a repetir agressões verbais
dirigidas a Mariz, que revidava de dedo em riste, deixando a chaleira prestes a
explodir.
E explodiu. Da posição privilegiada em que me encontrava, sentado ao
lado de Mariz, vi com meus olhos dirigirem-se para a mesa onde estávamos quatro
partidários de Bosco Barreto: João Soares, Toinho Eletricista, Chiquim de Moisés
e João de Manezim. Se havia outros, não retive na lembrança. Vinham em atitude
nada amistosa. João Soares empunhou uma perna de cadeira que acabara de quebrar
e partiu para a agressão física. Mariz seria o alvo. A tragédia não se consumou
porque Zerinho se interpôs, enquanto os correligionários de Mariz lhe davam
proteção em meio ao tumulto generalizado. Guardo na memória um detalhe da cena:
um murro aplicado por João de Manezim em autoridade importante do município de
Sousa. Impossível esquecer.
João de Manezim e outros correligionários formavam
na “turma de Bosco”, um cinturão espontâneo proteção a um líder político
fisicamente muito frágil, como era Bosco Barreto. A partir daquele dia Bosco,
bravateiro insuperável, propalava que Mariz não faria comício em Cajazeiras.
Não havia clima nem Mariz teria coragem. João de Mnezim ficou marcado pela
caravana sousense a tal ponto que, no dia do comício do PMDB na Praça Camilo de
Holanda, (este é o segundo episódio que desejo narrar), já perto do seu final,
dona Mabel, esposa de Mariz, me chama a um canto do palanque, aponta
discretamente para um cidadão de cinto branco e pergunta:
- Cartaxo, aquele é João de Manezim?
Era ele mesmo. Ato contínuo, Mabel vai ao fundo do palanque.
Resultado, em menos de três minutos, quatros “rapazes de confiança” do coronel
José Sérgio Maia postaram-se em torno de João de Manezim. Nada aconteceu.
Felizmente, tudo terminou em paz naquela noite de festa cívica para a minúscula
oposição de Cajazeiras. Tempos depois, em encontro João de Manezim, recordo o
episódio e indago se ele notara a presença dos seguranças e do risco que
correra.
- Mas hómi, e eu sou doido!
Disse e deu uma risada. Uma risada daquelas que ficam
gravadas na memória de todos nós, para sempre
fonte: sete candeeiras cajá
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