Mariana Moreira
As festas juninas, tradicionalmente, sempre foram
manifestações espontâneas do povo, na celebração das colheitas generosas em
anos de invernos regulares. As músicas de Luiz Gonzaga, conhecidas em todo o
país, eternizaram muitos dos sentimentos que contaminavam os sertanejos nestes
momentos quando o fole roncava no alto da serra e a cabroeira subia a ladeira
para dançar. As salas de reboco, os céus iluminados pelos balões que aqueciam
os corações e encantavam os namorados, o ronco do zabumba e o som da sanfona
que fazia a todos dançarem na cadência do chiado da chinela, no fungado no
cangote da morena.
Nas últimas décadas, no entanto, as festas juninas foram
perdendo essa configuração de expressão espontânea do povo na celebração da
colheita na mesma proporção em se transformaram em espetáculo políticos
organizados, principalmente, pelo poder público, e convertidos em peças
promocionais para a divulgação e a angariação de simpatia e dividendos
eleitoreiros. Também sofreram um deslocamento espacial, concentrando-se nas
áreas urbanas, convertendo-se em grandes espetáculos movidos pelos ritmos
musicais da moda que, muitas vezes, estão visceralmente divorciados da
criatividade dos artistas populares que cantam os amores e agruras da gente
sertaneja.
Um modelo que, inicialmente inaugurado em cidades como
Campina Grande e Caruaru, se disseminou por todo o Nordeste, com seus concursos
de quadrilhas estilizadas e esteticamente montadas como peças para venda
turística, com shows espetaculares e milionários.
Escapar dessa formatação é uma tarefa complicada
considerando ainda a grande pressão que a mídia exerce na cobrança de
realização de festas espetaculares, mesmo a revelia da miséria do tesouro
público. Muitos municípios se atrelam a iniciativa privada na busca da
concretização desse propósito e converte as festas juninas em vitrine de
propaganda comercial de produtos que ganham exclusividade de serem
comercializados, engordando os lucros de empresas.
Em alguns momentos, encontramos iniciativas que buscam
driblar esse esquema e realizar festas juninas mais identificadas com as
tradições populares. Um exemplo disso é a cidade de Cachoeira dos Índios que
encontrou uma alternativa interessante para envolver a comunidade na celebração
dos festejos ao promover um concurso para escolher a rua que realize a melhor
caracterização de um arraial junino. Uma empreitada que envolve os moradores na
decoração da rua, na ornamentação, na montagem de espetáculos artísticos, na
produção de uma culinária típica. A cada ano, mais ruas se sente instigada a
participar e, sem grandes alardes, vai mantendo a tradição e fazendo a festa
com simplicidade e beleza.
fonte: Diario do Sertão
Nenhum comentário:
Postar um comentário