A escritora
cajazeirense Rosilda Cartaxo, após o lançamento do seu livro Estrada das
Boiadas, em 1975, enviou um exemplar do mesmo para o escritor Luís da Câmara
Cascudo. Teve dele uma grata surpresa. Recebeu do escritor rio-grandense a
seguinte carta:
“Rosilda
Cartaxo”, ilustre confrade:
Seu livro forte
e claro levou-me a rever a paisagem áspera e linda da ESTRADA DAS BOIADAS, que
ficara nos meus olhos-meninos. Em 1910 cavalguei de Mossoró a Sousa, vendo
minha mãe equilibrando-se no silhão exibindo a longa “montaria”, e mesmo
viajando em liteira. Duas vezes estive no Brejo das Freiras, tendo então a casa
para os viajantes e um rancho cobrindo a fonte, esgotada depois do banho.
Passávamos por S. João do Rio do Peixe, tomando café com o Padre Cirillo e
ouvindo o escrivão Formiga declamar versos sertanejos, inesquecíveis nos meus
77 anos reais. Quarenta anos depois voltei a Sousa, para despedir-me, vindo de
Mossoró em automóvel-de-linha. Onde estavam as figuras poderosas de 1910, os
Marís, Nazarés, Sás? O cônego Bernardino? O grande páteo silencioso da Matriz?
Fui professor de História meio século. Deduza o encanto do seu livro
ressuscitando as tradições ouvidas nas vozes familiares, questões de terra,
valentias, crueldades afoitas, festas sonoras, a mancha sangrante de Antônio
Silvino, os Dantas feudais, os cantadores invencíveis, os vaqueiros
derrubadores, o gado ainda crioulo, entendendo a melopéia dolente do aboio,
indecifrável às orelhas dos zebus e cararus indianos, gado de tração, que os
dentes brasileiros promoveram às honras de um alimento... Quanta motivação sua
vive em mim como uma permanência sentimental... Na HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO
NORTE e NOS NOMES DA TERRA fui pesquisador devoto das mesmas sugestões. Muito
grato por lembrar-se de mim com seu livro de História, ternura e saudade.
Minhas tias consultaram José de Moura. Devo ter ouvido a sonoridade fanhosa e
lenta de FÉLIX nas tardes lentas de S. João do Rio do Peixe. Uma boa parte dos
meus, dorme no cemitério de Sousa... Não apenas li, mas vivi esta ESTRADA DAS
BOIADAS, roteiro dos seus e meus avós. Deus a abençoe".
Grato adm.
Câmara Cascudo.
A carta de
Câmara Cascudo valeu como uma consagração à autora iniciante e um incentivo a
continuar pelos caminhos da literatura, pois no mesmo ano, a escritora lançou uma plaqueta intitulada Barra do
Juá, dedicada a São João do Rio do Peixe que ela tanto idolatrava a ponto de
ficar enraivecida quando seu nome foi mudado para Antenor Navarro. Nesse
trabalho avulta a figura do Padre Joaquim Cirillo de Sá, grande líder da
região.
Em 1981,
novamente Rosilda se debruça sobre a terra querida, onde passou seus verdes
anos, para escrever um trabalho que a denominou de A Vila em Festa, uma
homenagem à passagem do centenário da elevação de vila a cidade.
Em 1989, editado
pelo Centro Gráfico do Senado Federal, lançou As Primeiras Damas, uma alusão as
consortes dos administradores paraibanos. O livro é um elogio à mulher
paraibana que dividiu com o marido a difícil arte de administrar nosso Estado,
incluindo aí figuras do período colonial, como a Viscondessa de Cavalcanti, as
Baronesas do Abiaí, de Mamanguape e de Mamoré, até o período republicano, com dona Mary Sayão Pessoa, esposa do presidente Epitácio Pessoa, seguindo-se com o
registro de Joana Batista de Figueiredo Neiva, Amanda Brancante Machado,
Veriana da Cunha Nóbrega, Maria Isabel Figueira Machado até chegar a Glauce
Maria Navarro Burity.
Mulheres do
Oeste - seu último livro publicado em 2000, Rosilda destaca as mulheres
pertencentes a tradicionais famílias de Cajazeiras, São João do Rio do Peixe e
de Sousa, começando por sua mãe, Dª Maria Cartaxo Dantas. O livro teve
repercussão não só naquela zona da região sertaneja, como também em outros
Estados para onde emigraram os descendentes das valorosas damas do oeste
paraibano.
A escritora antes de morrer deixou em arquivo impresso o livro O
Sacristão, lançado em 2005, na cidade de São João do Rio do Peixe. Ajuntado aos
escritores contemporâneos regionalistas de agora, Rosilda, assim como Ivan
Bichara, enaltece e enche de orgulho a nossa literatura.
por Cleudimar Ferreira
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referencias: (IHGP) Instituto Histórico e Geografico da Paraíba
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