O dia do grande benfeitor
Escreveu: Francisco Sales Cartaxo
A confusão vem de longe. Adotou-se a data do nascimento do
padre Inácio de Sousa Rolim como se fora, também, a da criação do município.
Instituiu-se por lei o “dia da cidade”, 22 de agosto, aniversário do padre
mestre. Com isso, armaram um nó na história de Cajazeiras que, ao longo dos
anos, só fez arrochar. Ninguém consegue desmanchá-lo. O professor José Antonio
já anda rouco de pregar no deserto. Agora venho com um canivete tentar ajudar a
desfazer o nó dado no ano de 1948. Ninguém questiona a justa homenagem ao padre
Rolim. Impossível, porém, continuar apertando o nó, persistindo no erro
histórico que confunde alho com bugalho.
Vamos recordar. Na época do Império, a emancipação política
e administrativa se efetivava com a criação do município, cuja sede urbana era
chamada de vila. A vila tinha, então, significado diverso do que é hoje. Hoje
se associa vila à sede de distrito. Naquele tempo, não. Vila pressupunha a
existência de um município, com limites territoriais definidos em lei e, o mais
importante, autonomia. A vila gozava do status de rainha do pedaço. Do pedaço
do território do qual era a sede. Antes de se tornar vila, legalmente, um
arruado era denominado de “povoação”. Povoado ou povoação foi Cajazeiras antes
da Lei Provincial nº 92, de 23 de novembro de 1863. Esta lei criou o município
de Cajazeiras, desanexando-o do de Sousa. Portanto, 23 de novembro é a data da
autonomia de Cajazeiras. Tanto é verdade que quatro meses depois houve a
primeira eleição de vereadores no novo município, sendo as instruções
eleitorais expedidas, em janeiro de 1864, pelo presidente da província da
Paraíba, Francisco de Araújo Lima.
Muita gente fica com um pé atrás, porque a lei fala em
“vila” e não em “cidade”. Era assim a
organização político-administrativa naquele tempo. Cajazeiras só foi elevada à
categoria de cidade treze anos depois, por meio da lei nº 616, de 10 de julho
de 1876. Esta data nem de longe tem a importância da criação da vila junto com
o município, em 1863. Essas diferenças de conceito legal dado, no século 19, à
vila e à cidade tem gerado muita confusão.
Por exemplo, associar à luta pela emancipação de Cajazeiras o trágico
morticínio eleitoral de 18 de agosto de 1872, no qual foi assassinado o tenente
João Cartaxo. O que houve naquele dia foi uma forte disputa pelo poder local
entre o Partido Liberal, chefiado pelo tenente João Cartaxo, e facções do
Partido Conservador, comandadas pelo alferes João Pires Ferreira, de Santa Fé,
então distrito da circunscrição eleitoral de Cajazeiras. Mas isso é outra
história.
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