O som mavioso dos sabiás
anuncia à presença da vida que se renova com as primeiras chuvas que emprestam
uma roupagem mais colorida e alegre a paisagem trazendo uma nova sonoridade ao
canto dos pássaros e um tom mais vibrante a fala humana. O verde que se espraia
por morros, baixios, grotas e ribanceiras espanta a melancolia que se alimenta
do cinza calcinante das secas. Esse cenário me contagiou no clima de
recolhimento que marca a Semana Santa cujo feriado passei em Impueiras,
assistindo a volta das chuvas que engravidam o riacho com suas águas barrentas
e vestem de neblina e névoa o Serrote do Quati.
Esse cenário de som de
pássaros e verde esfuziante somente é possível porque, nos últimos anos,
assumimos o compromisso em preservar no entorno de nossa casa em Impueiras
plantas nativas em áreas que, anteriormente, eram anualmente devastadas para o
cultivo do algodão e de outras culturas de subsistência. Naturalmente, quando
saem de cena as brocas e coivaras, começam a brotar baraúnas, aroeiras,
marmeleiros, mufumbos, angicos, juazeiros, baraúnas, pau darcos e uma profusão
de plantas típicas da caatinga que, numa impressionante harmonia e interação,
vão cobrindo o solo escavado e trazendo fertilidade e vitalidade a terra. No
mesmo compasso, começa a crescer a população de saguis, galos de campina,
abre-fecha, rolinhas, três potes, sabiás, casacas de couro, joãos de barro e
tantas outras aves que, nativas ou migratórias, abrigam-se nos ramos das
árvores, fazem seus ninhos e garantem a continuidade das espécies. Nos beirais
e frechais da casa rouxinóis constroem seus ninhos e, entoando sons
inebriantes, antecipam a continuidade da vida nos filhotes que anunciam com
muito barulho a chegada do alimento.
Vendo este cenário percebi
como é simples preservar a natureza. Não carecemos de projetos mirabolantes ou
programas dispendiosos para garantir que uma árvore brote, que uma ave monte
seu ninho e perpetue a espécie, que um sagui transite livremente entre galhos e
ramagens fazendo traquinagens e roendo resinas e frutos. A natureza é pródiga
em aliviar as feridas que o homem lhe provoca. Ela tem um impressionante poder
de regeneração e se recompõe no mesmo ritmo do abandono de práticas de
devastação e de agressão. Uma coivara a menos sempre se converte em sementes a
mais que, tangidas pelos ventos, trazidas pelas aves, garante a reprodução de
novas espécies. Nada mágico ou mirabolante. Apenas o curso natural da vida que,
sem interrupção ou intervenção, segue seu traçado entre o equilíbrio das
espécies.
Para mamãe que, ao longo da
vida, sempre alimentou e, sobretudo, preservou galos de campina, sagüis, três
potes e tantos gatos, cachorros, bois, galinhas e filhos numa harmonia entre
gente e bichos.
Mariana Moreira,
Mora em Cajazeiras, é Professora Universitária e Jornalista.
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