Gutemberg Cardoso tornou-se uma grife na imprensa paraibana
a partir de Cajazeiras, onde iniciou trajetória semelhante à minha: como
office-boy na Difusora. Nascido em Jacarezinho, no Rio de Janeiro, sempre foi
irrequieto, polêmico, combativo. E idealista. Abraça as causas alheias como se
fossem suas. Tem “feeling” para explorar fatos de repercussão. Quando veio para
João Pessoa, onde inicialmente formou parceria com Josival Pereira e Ruy
Dantas, já chegou dizendo a que tinha vindo. Sua sina é a do revolucionário.
Foi assim na trajetória em Cajazeiras, onde além de atuar na imprensa falada e
escrita, fez teatro e poesia. Foi o mentor do grupo “Boiada”. E uma de suas
poesias, “Prisioneiro”, é um verdadeiro libelo contra a opressão. Foi sua forma
de resistir, ainda adolescente, à ditadura militar. Ganhou o primeiro lugar num
concurso em que fui premiado com “Contradições”, em posição intermediária.
Sua iniciação radiofônica tem traços coincidentes com a
minha trajetória. Ainda imberbe, montou uma rádio improvisada na rua João
Moreira, na terra da Cultura. Foi precursor das emissoras comunitárias que
depois proliferaram por todo o país. Com 12 anos, disse à mãe que queria
trabalhar numa rádio de verdade, e logrou seu primeiro emprego na Difusora de
Mozart de Souza Assis, laboratório de formação de talentos. Enveredou pela
função de operador de áudio, que na época se denominava sonoplasta ou
controlista. Levei-o para a rádio Alto Piranhas, onde apresentou o programa
“Olho Vivo”, de grande repercussão. Estivemos juntos no jornal alternativo
“Tribuna Popular”, impresso em mimeógrafo em Cajazeiras. Militamos em grupos de
esquerda.
Relembro tudo isso a propósito de mais uma guinada na sua
carreira profissional. Ao desembarcar em João Pessoa, foi acolhido no Sistema
Correio e liderou, com outros colegas, o programa do meio dia, que era
imbatível em audiência. Seu estilo é o de cutucar a onça com vara curta. Faz o
gênero denuncista, porque nunca se conformou com as desigualdades e nem se
intimidou com os arreganhos dos poderosos de plantão, a quem desafia
ostensivamente. Quando convivíamos juntos, era eu quem controlava os impulsos
de Gutemberg, o seu afã de dizer verdades, de agir como um Dom Quixote.
Controlava vírgula. Porque, na verdade, Gutemberg nunca se deixou levar por
ninguém. Sempre lutou para se livrar das amarras. Notícia, para ele, é notícia.
Tem que ser divulgada.
Ultimamente estava pontificando na 101 FM, do Sistema
Paraíba de Comunicação, apresentando o “Polêmica Paraíba”, denominação
apropriada ao estilo desse comunicador formado em Direito. Passou a enfrentar
problemas com poderosos, o que era inevitável, pela linha de questionamento que
sempre adotou. Gutemberg não é de engolir a primeira versão. Dono de uma
imaginação fertilíssima, ele cria cenários para tentar explicar determinados
fatos obscuros, com uma estratégia que acaba enredando os protagonistas desses
episódios e rendendo-lhe a descoberta da verdade possível. Esse vascaíno que
tem a mania de anotar tudo já furou bloqueios de segurança para entrevistar
personalidades famosas como o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Quando foi meu diretor na rádio CBN, no Sistema Correio, deu-me plena liberdade
para entrevistar quem quer que fosse notícia, pouco se importando com as
reclamações de diretores e de responsáveis pelo setor comercial. Para ele, o
faturamento dos veículos sempre vem acompanhado da repercussão das atrações que
uma emissora exibe. Um programa jornalístico tem que ser audacioso, para chamar
a atenção, criar legião cativa de ouvintes, de admiradores.
Desde Cajazeiras, Gutemberg foi sempre o cara que lidera.
Que prospecta os talentos emergentes e os leva para sua companhia por considerá-los
indispensáveis no esquema de trabalho que o motiva. Só não tolera a burrice, o
nhém-nhém-nhém de quem tenta virar estrela a todo custo. Ele lutou muito para
chegar aonde chegou. Eclético, polivalente, polêmico. Mas profissional de mão
cheia. O filho de dona Joana Cardoso também virou professor da Universidade
Federal da Paraíba. Credenciais para tanto não lhe faltaram. Nunca lhe
faltaram, aliás. Como não é de se acomodar, já perscruta projetos de impacto.
Gutemberg é brasileiro, não desiste nunca, sobretudo no primeiro obstáculo. É
mais do que um colega. É meu irmão, com orgulho.
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