Ecos de vozes ............Crônica de M a r i a n a M o r e i r a
A ocasião do encontro não foi de festividades e
efusões. Mas, a sinceridade das palavras foi tocante. Inclusive, com sugestões
como a de reunir em uma publicação os muitos escritos que produzi ao longo
desta minha vida de pretensa colunista, e de escrever um comentário sobre as
afinidades entre Cajazeiras e Juazeiro do Norte. O apoio veio de Ducílio Elias
que se revelou um assíduo leitor de meus escritos. As sugestões, com certeza,
são sempre consideradas e ponderadas por mim. Mas, o encontro me cutucou
lembranças de infância quando, ainda morando em Impueiras, colava o ouvido no
pequeno rádio de pilha para ouvir, no início da noite, pela Rádio Alto
Piranhas, o Programa Raio de Luz, apresentado por Ducílio Elias. Encantava-me
tanto pelas mensagens, de voz e musicais, travestidas de forte motivação de
paz, como pela beleza da voz que as anunciava.
Muitas vezes quando os recursos eram insuficientes
para a aquisição de pilhas e ante a inexistência de energia elétrica onde
morávamos, percorria alguns metros até a casa de Madrinha Zefinha Moura, irmã
mais velha de meu pai, somente para não perder a audição do programa. Um percurso
pequeno, de cerca de duzentos metros, mas que o fazia sempre com um frio na
espinha temendo as apavorantes estórias de maus assombros e visagens que a
modernidade da energia elétrica e das comunicações afugentou para um mundo
encantado que a racionalidade de nossos tempos não consegue alcançar. Para
espantar o medo cumpria o percurso correndo e cantando musicas religiosas que a
memória buscava gravar das audições recentes. Ainda tenho nos arquivos da
lembrança farelos de versos como: “Diz o A Ave Maria. Diz o B bondosa e
bela...”.
Mais tarde, quando vim estudar em Cajazeiras, com o
consentimento de minhas irmãs mais velhas, fui sozinha da Rua Doutor Coelho até
o prédio da Rádio Alto Piranhas que, na época funciona contígua ao Cine Apolo
XI, apenas para conhecer o dono da voz que me encantava e que, ao lado de Dona
Íracles Pires e de seu Mini Discoteca Dinamite, me instigavam a sedução pelos
meios de comunicação e pelo jornalismo. Fascinei-me pelos estúdios, os
microfones, um mundo irreal e fantástico para uma menina que saia da
simplicidade da vida em Impueiras, cercada de estórias de trancoso e
brincadeiras de boneca de pano e de cabaça. As músicas que eram lidas pelas
agulhas dos toca discos emitiam um chiado que encantava enquanto os discos de
vinil em seu movimento giratório hipnótico soltavam sons e acordes inebriantes.
A luz vermelha do aviso de “no ar” disseminava uma sensação de futuro, de um
tempo inimaginável.
Mais tarde, como profissional, o cotidiano da
atividade jornalística em emissoras de rádio me colocou em contato direto e
assíduo com esse mundo. Mesmo assim, ainda hoje, sinto a sedução e o encanto
que a voz de Ducílio Elias e de Íracles Pires me despertou na infância e as
ondas hertzianas continuam sendo uma possibilidade de um tempo em que a
distância entre minha casa e a de Madrinha Zefinha era feito com pés ligeiros,
sombras e projeções de inimagináveis seres sobrenaturais e a entoação de
músicas alegres.
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