"Fiquei
muito feliz por saber que serei homenageada dia 06 de março,
na Assembléia
Legislativa da Paraíba, dentro das comemorações
do dia Internacional das Mulheres. Isso é maravilhoso
ser reconhecida na minha terra."
Sôia Lira
Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher a Assembléia Legislativa da Paraíba homenageará nesta terça-feira, dia 06/03/2012, a atriz cajazeirense Sôia Lira. Homenagem mais que merecida a uma mulher guerreira, sensível, amiga e simples; que tudo que tem feito até o momento foi só para engrandecer a nossa arte, nossa cultura, nosso cinema. Mas quem é ela; como surgiu na dramaturgia paraibana; seus primeiros trabalhos; sua re-entrer no cinema brasileiro; principais filmes realizados e experiência adquirida com a arte de representar.
Maria Auxiliadora Lira de Souza nasceu em
Cajazeiras, Paraíba, no dia 6 de março de 1962. Mas foi como Sôia Lira que ela
se tornou uma das mais aclamadas atrizes de nosso estado e com projeção
nacional. Quem a viu no teatro em "Vau da Sarapalha", do Grupo Piollin,
com direção de Luiz Carlos Vasconcelos, jamais se esqueceu de sua interpretação
arrebatadora - e foram platéias de várias cidades brasileiras e também da
Espanha, Alemanha, Inglaterra, Portugal e, Bélgica: "eu não tinha noção de que esse espetáculo e também o meu
personagem fariam esse grande sucesso. Depois que a gente estreou em João
Pessoa, a primeira vez que saímos com o “Vau” foi para o Festival de São José
de Rio Preto, no interior de São Paulo. E ganhamos todos os prêmios, porque na
época o festival tinha premiação para Melhor Ator, Melhor Atriz, e o espetáculo
arrebatou todos os prêmios - Melhor Direção, Melhor Espetáculo. Eu ganhei
Melhor Atriz Coadjuvante, porque no espetáculo eu não sou a atriz principal. E
voltamos para João Pessoa com esses prêmios todos, e aí começou aquele bochicho
de que o espetáculo era muito bom e entramos em cartaz em João Pessoa com a
casa lotada. Porque antes de viajar a gente ficou em cartaz durante dois meses
e não dava ninguém no teatro. A gente apresentava para duas pessoas". Sôia
Lira começou a carreira artística no teatro ainda criança, ao lado dos irmãos
Buda Lira, Nanego Lira e Bertrand Lira, "Eu
comecei a fazer teatro lá, em Cajazeiras, nessa cidadezinha, desde criança e
com outras pessoas da minha idade. A gente começou a brincar, era como se fosse
uma brincadeira, a gente não tinha uma pretensão que isso poderia chegar onde
chegou". O encontro com o ator e diretor Luiz Carlos Vasconcelos foi
fundamental: "O Luiz Carlos começou
a fazer um trabalho com a gente, ele ficou tão fascinado, porque eram crianças
fazendo espetáculo para adulto, e a gente tinha uma garra tão grande que ele
ficou admirado". Duas décadas depois, com o espaço no teatro já
conquistado, foi à vez de Sôia Lira ser projetada também no cinema como Ana, a
mãe de Josué (Vinícius Oliveira), em "Central do Brasil", de Walter
Salles: "Eu me lembro que quando eu
cheguei lá eu era a Ana mesmo, porque eu cheguei tão acanhada. Eu já tinha mais
de 20 anos de teatro, mas mesmo assim eu fui sem acreditar que eu ia trabalhar
com a Fernanda Montenegro. Era um sonho, que eu não acreditava, mas que ao
mesmo tempo, eu falava, “não, mas eu faço teatro, eu vivo isso”. E quando você
chega perto dessas pessoas, porque você tem uma imagem pela televisão que invade
sua casa, você vê que são pessoas como você, os mesmos medos, as
inseguranças".
Foto 1. Peça "Quebra Quilos" Foto 2. "Val da Sarapalha"
No final de setembro e início de outubro de 2009, Sôia
Lira conversou com representantes do Site Mulheres do Cinema Brasileiro, no
Palácio das Arte em Belo Horizonte/MG A nossa atriz falou sobre os primeiros
tempos no teatro, no Grupo Mickey, Grupo Terra, Piollin e do fenômeno "Vau
da Sarapalha". Falau também dos trabalhos no cinema e de diretores como
Luiz Fernando Carvalho e Walter Salles. Dos filmes: "Central do
Brasil" e "O Quinze". Veja abaixo trechos da entrevista.
Mulheres: Você começou sua carreira artística no
teatro, ainda em Cajazeiras. Como foi esse começo?
Sôia Lira: Eu comecei a fazer teatro lá, em
Cajazeiras, nessa cidadezinha, desde criança e com outras pessoas da minha
idade. A gente começou a brincar, era
como se fosse uma brincadeira, a gente não tinha uma pretensão que isso poderia
chegar onde chegou. Era doze crianças, uma faixa etária de oito a 13 anos, e a
gente começou a brincar de fazer teatro no quintal da casa de Eliezer Rolim,
que era o diretor do grupo na época. Ele passou um tempo fora estudando em uma
cidade vizinha, porque era um colégio interno e ele estudava lá, e aí quando
voltou para Cajazeiras ele formou esse grupo. E era assim, a gente não fazia só
teatro, a gente dublava música, era época do Silvio Brito, Marcélia Cartaxo era
quem dublava. A gente fazia uma mistura de dança com teatro, a gente nem sabia
o que era teatro, a gente falava drama,
não tinha bem essa coisa de teatro na cabeça da gente. A minha influência foi
dos meus irmãos, o Buda Lira e Nanego Lira, e outro irmão, Bertrand Lira, que
faziam “A Paixão de Cristo”, que era o grande evento da época em
Cajazeiras. Era o grande teatro,
representar a história de Cristo na Semana Santa. E eu, criança, assistia
aquilo. Para mim era um grande espetáculo, era na rua, ao ar livre, e essa
influência foi indo, foi indo, e a gente acabou formando esse grupo de jovens.
O que a gente fazia era a trajetória de vidas reais, todo ano chegava um bando
de ciganos na cidade, e a gente ia pesquisar, ia visitar esses ciganos que ficavam
na periferia. Daí a gente começava a escrever sobre a história desses ciganos.
Então botava no papel e do papel no palco. E sempre tinha uma cabeça que era o
Eliezer, que escrevia os textos. A gente falava sobre a seca, pegava uma música
de Luiz Gonzaga, “A Triste Partida”, e escrevia e fazia uma peça de teatro. Então
isso foi indo e o grupo, na época, chamava-se Grupo Mickey porque a gente via
muito aquelas histórias, Mickey, Tio Patinhas. Eu me lembro que numa época
tinha um festival lá em Cajazeiras, que era o Festival Universitário, e Luiz
Carlos (Vasconcelos) foi dar um curso lá.
Mulheres: Esse período que você relatou antes do
Luiz Carlos entrar em cena foi que época?
Sôia Lira: Quando a gente começou a fazer teatro foi
em 1973, por aí. Quando a gente conheceu o Luiz Carlos foi em 1976. Ele foi a
Cajazeiras, onde tinha um grande festival, que era o Festival Universitário, e
ele foi dar um curso. Só que a gente não podia assistir, quem foi é o diretor,
o Eliezer. Ele foi fazer esse curso de uma semana e falou para o Luiz Carlos
sobre a gente, e ele disse que queria “conhecer esses meninos”. E acabou vindo
no outro dia. O Luiz Carlos começou a fazer um trabalho com a gente, ele ficou
tão fascinado, porque eram crianças fazendo espetáculo para adulto, e a gente
tinha uma garra tão grande que ele ficou admirado. Ele não acreditou e correu
para outra sala para chamar outro diretor, que na época era o Fernando
Teixeira, que é um dos grandes diretores da Paraíba, para presenciar aqueles
meninos fazendo aquela coisa grandiosa. Depois de ganhar um prêmio de Melhor
Ator em um festival na Bahia ele voltou para João Pessoa, onde criou um
festival infantil. Eu me lembro que nós fomos à João Pessoa durante cinco anos,
todo ano tinha esse festival. A gente participava e todo ano a gente levava um
espetáculo, montava e levava. E aí a gente começou a amadurecer, já estávamos
com 13, 18, 19 anos. E a gente mudou de Grupo Mickey para Grupo Terra. Eu me
lembro que o Luiz Carlos perguntou “mas o que vocês querem, é teatro?” Porque a
gente fazia mil coisas, não era só um espetáculo. Aí a gente começou a tomar
consciência do que gente fazia. Eu me lembro que ele dizia assim “vocês tem o
mesmo procedimento de Eugênio Barba, que Grotowski faz”, e a gente não sabia,
não conhecia, na época a gente não estudava, não tinha noção de quem eram esses
grandes mestres. A gente morava no interior, estudava ainda em colégio, mas aí
a gente começou a tomar consciência. E foi aí que nesses festivais, que a gente
ia todo ano, que a gente começou a tomar consciência da responsabilidade do que
a gente tinha em mão. Eu me lembro que depois de Cajazeiras e João Pessoa, a
gente começou a viajar para fora da Paraíba.
Mulheres: “O Beiço de Estrada” já é direção do Luiz
Carlos?
Sôia Lira: Não, era de Eliezer. Só que quando a
gente ia para esses festivais juntavam vários grupos do interior, tinha gente
de Pombal, Souza, Patos, da faixa etária da gente. Eu me lembro que o Luiz Carlos
invadiu um mosteiro que tem lá em João Pessoa, uma igreja do século passado, e
a gente se hospedava lá. Era ele, Everaldo (Pontes), Buda já morava em João
Pessoa, tinha outros diretores, esses professores davam aula para a gente. Luiz
Carlos assistia aos espetáculos que a gente levava e dava uns toques no que
podia melhorar o trabalho. Eu me lembro que, na época, no Inacen, Instituto de
Artes Cênicas, tinha um cara que veio do Rio de Janeiro, o Marcelo. Ele foi
para a Paraíba, assistiu “O Beiço de Estrada” e adorou. O Inacen fazia um
circuito em cada região e fazia um intercâmbio, e daí os espetáculos daqui do
sudeste iam para o nordeste e a gente vinha para cá, Rio e São Paulo. Eu me
lembro que a primeira vez, a gente tinha 19, 20 anos, e viemos para São Paulo,
Rio, Curitiba, e o espetáculo foi o maior sucesso. A crítica em São Paulo fez o
maior elogio ao espetáculo e foi aí que a Suzana Amaral viu a Marcélia Cartaxo
e a convidou para fazer “A Hora da Estrela”. Eu me lembro que a gente veio aqui
para Minas, em Ouro Preto, com esse espetáculo, “Beiço de Estrada”. E depois
teve “Até Amanhã”, que foi o último espetáculo que o grupo fez, já tem 12 anos
isso. E foi aí que Marcélia saiu do
grupo. Teve uma confusão, a gente era tão inocente, porque a gente achava que
Marcélia teria que trazer a gente para o sul. Marcélia ganhou o prêmio em
Berlim, aquela confusão toda, e o grupo se desfez. Eu voltei para Cajazeiras.
Eliezer ficou em São Paulo; outras pessoas foram para João Pessoa. Meus irmãos
Nanego, Buda e Bertrand já ficaram em João Pessoa. Eu me casei e passei cinco
anos sem estar nos palcos. Eu tinha 22
anos na época. Eu sofri muito, toda vez que ia ver um espetáculo eu chorava, ficava
emocionada, porque queria estar ali naquele tablado, representando. Depois de
um tempo, o Luiz Carlos foi embora para o Rio, e aí voltou com a idéia de
montar “Vau da Sarapalha”. Eu me lembro que já estava com um filho de dois anos
e meio e ele chegou e disse, “Soia, estou com um espetáculo legal, vamos
montar?” E eu disse “mas eu estou casada, estou com filho, estou morando no
interior”, e ele “ah, vamos montar esse trabalho.” E acabou que eu fiquei em
João Pessoa.
Foto: Filme "Central do Brasil"
Mulheres: Antes do “Central do Brasil”, o seu
primeiro longa foi o com a Jussara Queiróz, ”A Árvore de Marcação” (1995), não
é?
Sôia Lira: Eu me lembro que Marcélia morava em São
Paulo, e Jussara Queiróz, que é do Rio Grande do Norte, morava no Rio. Ela
estudava cinema e o primeiro filme dela foi o “Árvore de Marcação”, que ela foi
fazer lá no interior do Paraíba. Foi a minha primeira experiência, eu não sabia
nada da linguagem do cinema, eu não entendia o que era o cinema. Eu me lembro
que eu fazia a louca da cidade, era uma vilazinha, e eu fazia muito teatral.
Ela dizia “não é teatro”, só dizia isso, e eu não sabia, e ela não explicava o
quê que não era teatro. Eu sofria, ela gritava “não é teatro, não é teatro”. Eu
estava representando e no cinema você não precisa você não representa. Depois
eu fui convidada para fazer outro filme, uma produção lá na Paraíba, que foi
com o Marcus Vilar, que é um curta, “A Árvore da Miséria” (1998). Luiz Carlos
era o assistente de direção. E aí eu fui entrando nessa linguagem do cinema,
entendendo mais ou menos o que era. E o “Central do Brasil” já estava fazendo o
maior sucesso. “A Árvore da Miséria” foi o terceiro filme, depois do “Central”.
E teve essa experiência na televisão com o Luiz Fernando Carvalho, que tem uma
linguagem bem teatral, a gente passou um mês ensaiando com ele. Ele queria
realmente o teatro na televisão.
Mulheres: Antes de entrarmos em “O Quinze”, vamos
recuperar o “Central do Brasil”, do Walter Salles, que foi o filme que te
projetou nas telas. Como foi o trabalho
nesse filme?
Sôia Lira: Eu tive que pesquisar um pouco, ver
cinema, estudar um pouco a linguagem do cinema, e o Sérgio Machado, que era o
assistente do Walter, ele foi me preenchendo, estudando comigo o personagem. Eu
jamais imaginei que ia passar, porque ele não fez testes só na Paraíba, ele fez
testes na Bahia, em Recife, em Fortaleza, muita gente fez esse teste porque foi
muito divulgado. Eu tive esse privilégio dele ter me escolhido. Eu acredito que
tem muito a ver também com o momento, o momento que você está. Na época em que
fui fazer o teste eu estava em um momento muito bem na minha vida, então foi
tão sereno o teste que eu fiz, foi tão legal. É tanto que Luiz Carlos acha que foi
melhor o teste que a filmagem. Se bem que eu gosto muito. Quando eu cheguei
para as filmagens, assim meio assustada, jamais imaginava que eu estaria
fazendo um filme de grande produção. Trabalhar com Walter Salles, Fernanda
Montenegro, isso me deu um medo tão grande. Engraçado que quando a gente estava
ensaiando, eu, ela e o Vinicius, teve uma hora que eles repetiam muito,
repetiam muito a cena, e eu achava que eu não estava legal. E aí teve uma hora
que eu caí no choro, e disse “não, deixa eu volta para a minha casa, eu não sei
fazer isso não, chamem outra pessoa pra fazer” (risos). E o Walter “que isso
Soia, tá ótimo, tá ótimo”. Porque esses diretores quando pegam eles sugam, né,
eles espremem você até tirar a última. Eu me lembro no “Uma Mulher Vestida de
Sol”, a gente ensaiando numa sala, o Luiz Fernando Carvalho ensaiando,
ensaiando, repetindo a mesma cena, e quando a cena realmente ficou legal ele
disse “é isso aí, a gora você chegou na Teresa”, que era o nome da minha
personagem. Aí a gente vai entendendo realmente o que os diretores querem, não
é só representar, você tem mesmo que ver, porque sou eu que estou ali, estou
entregando o meu corpo, a minha alma, meus sentimentos, não tem que
representar.
Mulheres: Como é que foi essa produção?
Sôia Lira: Eu estava no Rio fazendo o “Woyzec”, uma
produção de Matheus Nasctergaele, foi uma parceria da Piollin com o Matheus. Eu
já conhecia o Jurandir (de Oliveira), ele fez “A Árvore da Miséria” junto
comigo. Na época, eu conheci Jurandir em João Pessoa. Ele foi lá ver a peça e
me convidou para fazer “O Quinze”. Eu tinha acabado de fazer a temporada no
Rio, aí voltei para João Pessoa, e com um mês fui para o Quixadá. Foi outra
experiência, como eu já estava com a história do cinema, já entendendo mais,
foi muito bom, passei dois meses no Quixadá. Para mim foi um orgulho muito
grande fazer um dos personagens da obra de Rachel de Queiróz. O Jurandir fez a
adaptação do livro e também atuou, além de ser o diretor e o produtor também,
foi uma loucura (rs). Foi uma parceria muito legal, o filme ficou bonito, eu
gosto muito do filme, uma obra de arte, eu guardo com muito carinho. Foi
lançado em alguns festivais, a gente foi para Gramado com este filme. E fomos
para o Cine Ceará, onde ganhei o prêmio de Melhor Atriz.
Mulheres: E como foi dar vida a esse personagem? “O
Quinze” é um clássico da literatura brasileira e muito lido. Ele está muito no
imaginário de várias gerações.
Sôia Lira: Quando o Jurandir me chamou eu ainda não
conhecia o livro, aí fui ler. Eu me lembro que meu pai e minha mãe falavam
muito da seca, porque nós somos do sertão, e eles passaram por uma seca, não a
de 1915, mas acho que uma nos anos 60. Eles falavam muito sobre isso. Meu
personagem é a Cordolina, a mulher que sai da fazenda com o marido e os quatro
filhos e vão para Fortaleza a pé. E no meio do caminho eles vão perdendo os
filhos foram dois meses de puro sofrimento, porque eu lembro que a gente
acordava às quatro da manhã para sair a cinco para filmar, a gente chegava ao
set de filmagem e voltava à noite. E o personagem é muito sofrimento, ela andava
léguas e léguas para chegar, e vai perdendo os filhos. É uma magia a gente
entrar nesse universo de Rachel de Queiróz, eu aprendi bastante com toda essa
equipe, com essa história.
Mulheres: Você começou no cinema sem saber o que era
aquela linguagem e tempos depois acaba ganhando um prêmio de Melhor Atriz de
cinema. Como é isso para você?
Soia Lira: É, porque aí eu já estava mais madura. É
algo novo, cada coisa que você faz é uma novidade, esse tempo todo que a gente
vem trabalhando. E, todo trabalho que eu faço, quando acontece de eu ganhar um
prêmio ou fazer sucesso, de ter um reconhecimento, isso é muito bom, é muito
rico para mim como atriz.
Mulheres: E o “Pedra do Reino”?
Sôia Lira: A produção foi para o nordeste fazer
testes, eles já tinham feito no Rio. Na verdade, eu não passei no teste, eles
fecharam o elenco e eu acabei não entrando. Eu ia fazer um filme em Fortaleza,
com o Petrus Cariry (“O Grão” - 2007), e estava tudo certo de eu fazer. E uma
coisa importante a dizer é que o Petrus fez a obra dele pensando em uma atriz,
e ele tinha pensado em mim E quando estava tudo certo o Luiz Fernando
(Carvalho) me chama para fazer “A Pedra do Reino”. Eu lamentei muito em não
fazer o filme, mas na verdade a televisão te pega um pouco Eu fui substituir
uma atriz da Bahia, a Rita Assemany, que é uma puta de uma atriz de Salvador,
mas que não agüentou o personagem porque tem um trabalho físico, ela não
suportou, talvez pela idade. Foi muito difícil para mim porque quando eu
cheguei já tinha um mês que as pessoas estavam tendo um preparo, tinham três
professores, fazendo trabalho físico. O Luiz Fernando já estava trabalhando com
todo o elenco e eu tive que entrar nesse
processo, e entrei meio como um peixe fora d´água. Eu não conhecia o livro,
comecei a ler, mas não deu tempo de ler tudo, só a minha participação. Não tive
quase muito contato com o Luiz Fernando porque quando cheguei ele já tinha
trabalhado com o pessoal durante um mês, eu trabalhei com uma preparadora, e me
encontrei com ele nas filmagens. Mas eu já me sentia forte e dona do terreno.
Porque é assim, você vai adquirindo experiências. É claro que cada trabalho é
novo, é um desconhecido, mas é como se você tivesse propriedade daquilo, você
não fraqueja mais. Foi muito bom ter feito, a gente passou dois meses em
Itaperuá. Ele fez um grande cenário, muito lindo, enorme, que está lá, como
museu, uma equipe enorme. Que pena que não teve um respaldo na mídia e não é
todo mundo que conhece Ariano Suassuna, que é uma leitura difícil. Que pena que
não teve muita audiência, mas é muito lindo o que ele fez, o cenário, a luz, é
tudo muito rico.
Mulheres: E por último, qual mulher do cinema
brasileiro, de qualquer época e área, que você quer homenagear aqui na sua
entrevista?
Sôia Lira: Olha, eu sempre cito a Marcélia Cartaxo.
Eu gosto e acho que é uma mulher guerreira, para mim é mulher nota dez, pela
garra, pela vontade de furar o cerco de tudo. É muito difícil, ela está nessa
batalha. Então para mim é Marcélia Cartaxo.
Mulheres: Muito obrigado pela entrevista.
Sôia Lira: Obrigada a você.
fonte: Site: Mulheres do Cinema Brasiliro.