Quem é Aldo Lins
Aldo Lins nasceu em Cajazeiras, em 1959. Participou no final da década de 70 e início dos anos 80 de um grupo independente de teatro que tinha como principal liderança o ator e diretor cajazeirense, Tarcísio Siqueira. Nesse mesmo período, chegou a fazer parte do elenco de atores do Grupo de Teatro Mandacaru, formados por jovens amadores da Avenida Engenheiro Carlos Pires de Sá. Na segunda metade da década de 80, veio morar em João Pessoa para fazer um curso superior na UFPB - Universidade Federal da Paraíba. Em João Pessoa, Aldo Lins publicou artigos na Revista Bazar e nos principais jornais impressos de nossa capital.
É radicado em Recife desde o final da década de 90, onde se engajou nos movimentos de poesia alternativa da principal metrópole pernambucana, publicando poemas em revistas e fanzines. É autor em parceria com o poeta José Terra, do projeto Hospício Poético - O canto mais lúcido do Recife. Que anexou uma coletânea de recitais mensais que ocorreu entre os anos de 2003 e 2004. Iniciativa bem sucedida que repercutiu na paisagem urbana da capital recifense.
Através do IDS - Instituto de Desenvolvimento Social, coordena o Recital Poético Canta Boa Vista que reúne desde o ano de 2007, uma grande quantidade de poetas e declamadores entorno da divulgação da poesia. Atualmente ministra através da FUNDARPE - Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - oficinas literárias para a Rede Estadual de Ensino. É autor do livro "Alma de Vidro", editado em 2002. Participou em 2004, da Marginal Recife - Coletânea Poética III, organizada por Cida Pedrosa, Miró e Valmir Jordão da Fundação de Cultura Cidade do Recife.
Os poemas
O GUIA
Na rua 24,
Havia um menino
Que sabia onde morava
Um médico, um açougueiro,
Um engraxate, um sapateiro,
Um jornalista, um carteiro,
Um motorista, um coveiro.
Havia um menino
Que sabia onde morava
Um médico, um açougueiro,
Um engraxate, um sapateiro,
Um jornalista, um carteiro,
Um motorista, um coveiro.
Na rua 24,
Havia um menino
Que sabia onde morava
Um malabarista, um engenheiro
Um pintor, um cozinheiro,
Um soldado, um ferreiro,
Um padre, um padeiro.
Havia um menino
Que sabia onde morava
Um malabarista, um engenheiro
Um pintor, um cozinheiro,
Um soldado, um ferreiro,
Um padre, um padeiro.
Na rua 24,
Havia um menino
Que sabia onde morava
Um advogado, uma prostituta,
Um músico, um sineiro,
Um garçom, um enfermeiro,
Um professor, um biscateiro.
Havia um menino
Que sabia onde morava
Um advogado, uma prostituta,
Um músico, um sineiro,
Um garçom, um enfermeiro,
Um professor, um biscateiro.
Mas ninguém sabia do menino
Que não tinha onde morar.
Que não tinha onde morar.
ESTATÍSTICA
Na rua São João
João morreu atropelado.
João morreu atropelado.
Na rua Santa Maria
Morreu Maria assassinada.
Morreu Maria assassinada.
Na rua São jorge
Jorge morreu drogado.
Jorge morreu drogado.
Na rua dos navegantes
Pedro morreu afogado.
Pedro morreu afogado.
Numa rua sem nome
Um corpo não foi identificado.
Um corpo não foi identificado.
Na parada do ônibus
Uma criança espera seu anjo da guarda.
Uma criança espera seu anjo da guarda.
CACHAÇATÔMICA
Me armei com o copo e a espada
E a minha lança perfumada
Como um infante
Que perdeu a infância
E a minha infantaria.
E a minha lança perfumada
Como um infante
Que perdeu a infância
E a minha infantaria.
Não reconheci o meu inimigo
Só no espelho o coração ferido
Como um cavaleiro
Que perdeu a dama
E a cavalaria.
Só no espelho o coração ferido
Como um cavaleiro
Que perdeu a dama
E a cavalaria.
Arremessei cem copos
De goela abaixo
E atravessei a rua
Como um artilheiro
Que perdeu o gol
E a artilharia.
De goela abaixo
E atravessei a rua
Como um artilheiro
Que perdeu o gol
E a artilharia.
REGRESSO
Devolvam-me
Meu castelo, minha espada, meu anel
E as fotografias amarelas guardadas
Na minha cômoda de cristal
Meu castelo, minha espada, meu anel
E as fotografias amarelas guardadas
Na minha cômoda de cristal
Devolvam-me O credo para atravessar fronteiras
E o espelho d'água entre as dunas
Onde eu fazia a lua para brincar
E o espelho d'água entre as dunas
Onde eu fazia a lua para brincar
Devolvam-me
A minha tabuada mágica
E as histórias de um vento azul
Que traziam anjos às madrugadas
A minha tabuada mágica
E as histórias de um vento azul
Que traziam anjos às madrugadas
Devolvam-me
Meu uni-verso, suspiro poéticos e saudades
De andar a pé, olhar o céu, cantar um fado
No Pátio das Flores, no Arco das Portas do Mar.
Meu uni-verso, suspiro poéticos e saudades
De andar a pé, olhar o céu, cantar um fado
No Pátio das Flores, no Arco das Portas do Mar.
A JANELA
Deste ângulo vejo os escombros
Onde antes eram castelos
E reinava a fantasia
De minha pequenez
Onde antes eram castelos
E reinava a fantasia
De minha pequenez
E a solidão e o desconforto das ruas
Violência que converte transfigura
Com suas botas de sete léguas
Ao silêncio de uma cova escura
Violência que converte transfigura
Com suas botas de sete léguas
Ao silêncio de uma cova escura
Da janela, vejo uma naja
Brotando no colo das flores
Desenhos fantásticos surgidos
Nas ruínas do muro de arrimo
Brotando no colo das flores
Desenhos fantásticos surgidos
Nas ruínas do muro de arrimo
Da janela, ouço o grito do sangue dos oprimidos
Onde antes eu ouvia o canto do sabiá
E eu nem sabia como era sábia
A vida de quem chorou
Quando não o encontrou mais a cantar.
Onde antes eu ouvia o canto do sabiá
E eu nem sabia como era sábia
A vida de quem chorou
Quando não o encontrou mais a cantar.
SÚPLICA
Ensinai
A cavalgar os mares do teu corpo
Sereia de cactos e juazeiro
De mãos de seda e de marfim
Cabelos soltos graúnas
Nos cata-ventos bálsamo de alecrim
A cavalgar os mares do teu corpo
Sereia de cactos e juazeiro
De mãos de seda e de marfim
Cabelos soltos graúnas
Nos cata-ventos bálsamo de alecrim
Iluminai
Oh! Rosa linda, o meu olhar
Porque guardo na algibeira o teu retrato
A casa nua na montanha
A estiagem nos pastos da aldeia
Que nem a tristeza estridente de um faquir
Com os seus ruídos enegrecidos de agonia
Apagará em mim teu brilho
Oh! Rosa linda, o meu olhar
Porque guardo na algibeira o teu retrato
A casa nua na montanha
A estiagem nos pastos da aldeia
Que nem a tristeza estridente de um faquir
Com os seus ruídos enegrecidos de agonia
Apagará em mim teu brilho
Um comentário:
Querido amigo, valeu pelo seu trabalho de pesquisas.
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