sábado, 23 de abril de 2011

Ideais libertários nos Festivais de Poesias em Cajazeiras

por Cleudimar Ferreira



A história dos festivais de poesias em Cajazeiras, talvez não seja um capítulo aparte a ser escrito. Isso por que a sua abrangência, ou seja, aonde chegou os rumores da sua existência quanto evento incentivador e produtor de poesia, já não era algo a ser descoberto, e a sua existência, já havia sido propagada e atingido a unanimidade da jovem classe intelectual e artística da cidade, principalmente, a envolvida com literatura e cultura, através das expressões artísticas, como por exemplo, o teatro e a música. 

Além disso, as condicionantes que impulsionaram a realização do evento durante cinco anos, entre os anos de 1973 e 1977, estão sociologicamente relacionadas ao próprio contexto do festival, bem como, as estruturas politicas que os estudantes da época estavam ligados, e que de uma forma ou de outra, provocaram a união de todos, entorno da proposta da realização do festival.

Para que se possa entender melhor; situando as circunstâncias da época aos fatores determinantes em que suas versões do festival foram realizadas, fica bem claro o porquê dos jovens estudantes cajazeirenses estarem à frente do seu tempo. Uma juventude encantadora e inexorável, que se engajou ao momento político-ideológico que tomava conta de seguimentos da classe estudantil brasileira; numa conjuntura em que a ação da censura à produção cultural no país era quem determinava a qualidade e o tipo de peça artística que interessava - não ao público, mas ao governo e os seus censores. 

Um aparelho destruidor da liberdade de expressão e da criatividade, que não ficou restrito somente ao eixo Rio - São Paulo, mas que atingiu outros pontos da federação, como foi o caso da repressão ao GRUTAC e a peça "Aí" num festival de teatro em Campina Grande e a prisão do suplente de senador Bosco Barreto, por agentes da Polícia Federal, no centro comercial de Cajazeiras.

Os festivais de poesia, diante do rolo compressor que limitava a liberdade criadora, passaram a ser um instrumento de conscientização, preocupado em levar uma mensagem libertadora à sociedade estudantil; e a poesia, uma forma de reflexão, de despertar e de denúncia da realidade política e social vivida pela população sertaneja, principalmente, os que não tinham acesso a informação. Mas os objetivos dos festivais iam muito além da lapidação de alguns estudantes sonhadores com os ideais de liberdade, foi também uma forma de promoção e de descoberta de novos valores no meio cultural e artístico de uma cidade, que sedo aprendeu a prestigiar e incentivar a produção de eventos culturais em Cajazeiras.

A realização do primeiro festival em setembro de 1973 - uma iniciativa dos grupos de jovens GINC e GRUJUCA ficou visível a sua finalidade e os caminhos que o mesmo deveria percorrer; e que pela ótica dos que estavam por traz daquele acontecimento literário; era que o evento deveria dá segmento nos anos subsequentes, tal como o Festival da Canção no Sertão, que era realizado todo ano com participação maciça de compositores, músicos e poetas da cidade e da região.

Entretanto por falta de apoio dos órgãos oficiais, os seus promotores não tiveram estrutura para dá continuidade no ano seguinte, em 1974. O festival tardou, mas ressurgiu um ano depois, em outubro de 1975. Desta feita, numa versão que teve a cara o do seu idealizador - o poeta Irismar de Lyra, porém de forma limitada, restrito apenas aos alunos do Colégio Estadual Crispim Coelho, já que o mesmo era uma iniciativa do Centro Cívico Olavo Bilac daquela unidade escolar. Em meios a descontentamentos dos estudantes de outras unidades escolar, impedidos de participar em 75, o festival voltou a ser realizado mais uma vez, em agosto de 1976, com mais de 22 poesias inscritas, sob a direção de José Alves Neto, então presidente do Centro Cívico do Colégio Estadual.

No ano seguinte, em 1977, o festival ressurgiu das cinzas da limitação e adotou um caráter mais democrático, quando depois de seguidas reuniões entre os principais presidentes dos Centros Cívicos dos colégios da cidade, juntamente com membros do Diretório Acadêmico da FAFIC, ficou determinada a participação de todos os estudantes das unidades de ensino - secundaristas e acadêmicos da cidade no festival. Foi criado um grupo gestor para o evento e em seguida, várias comissões também foram formadas nas unidades escolares, objetivando fazer a divulgação e o trabalho de inscrições dos alunos interessados.

Os festivais de poesia em Cajazeiras marcaram uma época onde a produção desse gênero literário havia virado febre na cidade, cujo calor, incinerou corações um tanto dilacerados pela repressão. Mas fez nascer o ideal libertário numa terra distante dos grandes centros urbanos, porém presente na vida e na alma do sertanejo.



REITURAS DAS IMAGENS EM ANEXO:

1. Capa do livro "Raízes" contendo textos, propostas e poemas dos participantes dos Festivais de Poesias. Acervo: Cleudimar Ferreira.
2. O jovem poeta Irismar di Lyra - um dos idealizadores do festival. Acervo: Irismar di Lyra
3. Cerimônia de transmissão do cargo de presidente do Centro Cívico Olavo Bilac, do Colégio Estadual de Cajazeiras, onde o então presidente, o estudante João Bosco Amaro da Silva (à direita), passa para o presidente eleito José Irismar di Lira (à esquerda), a direção da entidade estudantil em 25 de maio de 1975. Acervo: Irismar di Lyra.
4. Mesa com a comissão julgadora do III Festival de Poesia Estudantil de Cajazeiras.

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2 comentários:

Anônimo disse...

Belos tempos!Sonhávamos com um futuro que seria construído por nós,os sonhadores de tempos mais libertários...até onde pudemos chegar...

Francisco Cleudimar F. de Lira disse...

Os sonhos que o tempo nos deu; que vivemos intensamente na Cajaeiras dos 60, 70 e 80. Tempos em que sonhar era possível e, a realização uma certeza embalada por um romantismo sem igual.