por: Claudimar Ferreira
Zé Sozinho, de mambembe as salas improvisadas na zona sul de Cajazeiras.
As primícias do
cinema em Cajazeiras revelaram uma época mágica onde o rudimento das exibições
era peculiar ao tempo, ao momento vivido e aos sentimentos e as paixões que os
seus figurantes envolvidos, tinham por essa arte de sonhos, ilusões e magia.
Por esse histórico túnel do tempo, desde que aportou na cidade o descendente de libanês João Bichara, responsável pela implantação, em 1926, do
cinema moderno em Cajazeiras, a trajetória dos exibidores em nossa cidade não
pareceu diferente de outros mais, em outros lugares. Teve também os sues personagens emblemáticos
que vislumbrados pela magia que os fotogramas revelavam, fizeram de tudo para
viver e oferecer ao público cajazeirense a oportunidade de ser parte desse
entretenimento que até hoje encanta os olhos de gerações por ai a fora.
Seu Eutrópio Cartaxo - Um dos primeiros exibidores.
No inicio, atuou na Rua Dr. Coelho e na
cidade de Ipaumirim, Ceará.
No inicio, atuou na Rua Dr. Coelho e na
cidade de Ipaumirim, Ceará.
EUTRÓPIO
Afirmam os mais antigos frequentadores das diversas salas de exibições que
havia em Cajazeiras, que a primeira sessão de cinema na cidade se deu na
antiga Ação Católica - Hoje 9ª
Região de Ensino do Estado, onde já funcionou nos anos 70 a Faculdade de
Filosofia Ciências e Letras de Cajazeiras (FAFIC).
Mas a história lembra, que também uma figura bem conhecida de todos, chamado
de Eutrópio, que segundo rumores costumava ficar de cueca durante
as projeções de suas películas, teria sido um dos primórdios exibidores a
improvisar salas de cinema pela cidade.
Eutrópio, que era um pouco obeso, tinha uma fisionomia que o tornava bem
engraçado. Uma virtude que contribuía para atrair o público as suas exibições.
Ele se fixou por um bom tempo com seu projetor, em um dos diversos locais por
onde atuou que ficava nas proximidades de um chafariz municipal, em um dos
prédios que pertencia ao Senhor
Luiz Barbosa e que posteriormente foi também a sede do Banco do Brasil. Tudo era
improvisado. Eutrópio passava os filmes numa cabine de madeira
montada sobre uma plataforma de ferro onde ele subia com dificuldades com os
rolos de fitas.
Dizia às pessoas que costumeiramente assistiam a seus filmes, que os mesmos
eram exibidos pelo próprio Eutropio e, que a sala era uma sauna, um calor
insuportável. As cadeiras eram de madeiras e as imagens projetadas em um tecido
de algodãozinho, eram trêmulas e não demonstravam sincronia entre a voz e
gestos que os personagens faziam. Além disso, garotos, muitas vezes,
atrapalhavam a projeção passando na frente do foco dos projetores, vendendo pipoca, picolé e
balas.
De vez em quanto, alguém aparecia na porta do cinema procurando e
perguntando se o seu filho estava na sala de exibição. Comentavam que Eutrópio chagava
a dormir enquanto os filmes passavam e que quando a fita quebrava era uma gritaria
tremenda dentro do cinema, apressado e acuado, o mesmo emendava a fita com
pedaços de outros filmes, quando voltava à exibição, o público delirava batendo
nas cadeiras deixando a sala uma "zorra" total. Era uma loucura
dentro do cinema.
ZÉ SOZINHO
Pernambucano de Pageú das flores, Zé Sozinho chagou à Cajazeiras
como sempre aterrissou em outros lugares por onde andava, carregando em uma
bicicleta, junto com o seu projetor de 16 mm, latas de fitas
que variavam dos temas religiosos aos velhos faroestes, bem como, os
esquecíveis filmes de Tarzan e os clássicos Sansão e Dalila, O Ébrio e as
produções musicais da Cinédia. Para ele, que começou a viver essa paixão pelo
cinema logo cedo, qualquer lugar era ideal para uma projeção de cinema. Podia
ser no meio da praça, debaixo da ponte, em uma rua deserta, no tabuleiro da
caatinga, num galpão abandonado, no adro de uma igreja, tudo era possível.
Na sua passagem por Cajazeiras, Zé Sozinho instalou sua
visionária maquinaria de sonhos nas proximidades da Camilo de Holanda - mais
precisamente em um galpão que ficava de frente para uma pracinha construída
pelo então prefeito Antônio Quirino de Moura, intermediada pelo vereador na
época João de Manoelzinho. No local, onde durante o dia era uma oficina
mecânica e para ele, à noite, uma sala de cinema, Sozinho exibia
seus filmas. O calor do teto de zinco e o cheiro do óleo e da graxa que existia
no lugar, não nos desanimavam. Lembro-me muito bem que neste espaço, Zé Sozinho exibia filmes variados,
cujas sessões podiam ser para menores de 14 anos, 16 e até 18 anos, embora nada
fosse proibido na sua sala improvisada, pois adolescente de 14 anos, via filmes
para maiores de 18 anos.
Pessoas que viveu próxima a Zé Sozinho, costumava dizer que ele
era uma cara ágil, disposto e inteligente. Nas suas andanças pelas cidadezinhas
do interior da Paraíba, Ceará e Pernambuco, chegou a subir em uma árvore pra
montar o seu alto-falante e logo abaixo instalar o seu velho projetor. E assim,
o mesmo completava a alegria. Suas películas eram uma miscigenação de gostos,
onde se podiam ver ao mesmo tempo filmes que começavam como as antigas
chanchadas da Atlântida e finalizava com os filmes de Teixeirinha. O Dólar
Furado com pedaços de humor dos comediantes Oscarito, Zé Trindade e Grande
Otelo. A Paixão de Cristo versos Roberto Carlos em Ritmo de Aventura e Besouro
Verde. E ai por diante, tudo se resumia na sua forma de entender e de como para
ele, devia ser o cinema.
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