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quinta-feira, 11 de setembro de 2025
CONVERSAS DE CINE ÉDEN. Em cartaz no Cine Moderno: A fita que Chico Pereira não viu
domingo, 7 de setembro de 2025
Simplesmente, Marcélia Cartaxo!
Uma cidade se faz com sua
história, é verdade. Mas sem a arte e a cultura, fica faltando alguma coisa
naquela história. Uma vez o mestre Gonzaga Rodrigues escreveu uma crônica onde
pontuava que a vocação da Paraíba não era a agricultura, não era a indústria ou
o comércio, e sim a cultura e o talento de sua gente. Se tal assertiva não se
aplicar a Paraíba como um todo, dadas as peculiaridades de cada município, em
Cajazeiras é um fato que deve ser sempre valorizado. Nossos artistas, poetas e
escritores têm feito mais pela cidade que muitos políticos. Poderia citar
vários exemplos para corroborar essa tese, mas por hora fico com o nome de
Marcélia Cartaxo.
Natural de Cajazeiras,
Marcélia surgiu para o estrelato com o filme “A hora da estrela”, de Susana
Amaral, que ganhou o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Cinema de
Berlim em 1986. O filme é baseado na obra de Clarice Lispector e Marcélia interpreta
uma Macabéa única: uma alagoana pobre de 19 anos que possui um corpo franzino e
só come cachorro-quente.
Marcélia é muito grata a
Susana Amaral. Afinal, a atriz paraibana começou em teatro muito cedo, com 12
anos de idade. Teve, então, a oportunidade de estar com uma peça em São Paulo e
encontrou a cineasta Susana Amaral realizando o seu primeiro longa. “Fui para o
teste e tive a honra de viver a Macabéa, que me levou para vivenciar o
audiovisual brasileiro”, costuma falar.
Lembro que depois do sucesso
internacional de “A hora da estrela”, em 1985, Marcélia Cartaxo atuou em
novelas na televisão brasileira, mas em papeis insignificantes diante da
grandeza da atriz.
Dúvida? Confere só alguns dos
prêmios dela no cinema: melhor atriz no festival de cinema de Brasília em 1985,
melhor atriz coadjuvante no festival de cinema de Brasília em 1987, melhor
atriz coadjuvante no festival de cinema de Brasília em 1995, melhor atriz no
Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2003, mesmo ano que ganharia o prêmio de
melhor atriz no Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro, no Cine PE e no festival
de Curitiba. Tem mais! Melhor atriz ou atriz coadjuvante em 2014, 2015, 2019,
2021, 2022 e 2025 em diversos festivais espalhados pelo Brasil e pelo mundo.
Recentemente, recebeu o troféu
Oscarito no Festival de Gramado (RS), honraria entregue a grandes intérpretes
do cinema brasileiro. Mas, antes, a atriz cajazeirense eternizou suas mãos e
assinatura na calçada da fama. “Essa profissão me preenche”, disse em
entrevista pouco antes da homenagem. E preenche todos nós, espectadores e
admiradores do talento de Marcélia Cartaxo, seja no Cinema ou no Teatro. Evoé!
Em tempo: No próximo dia 12, o
Cine Açude Grande apresenta a Mostra Marcélia Cartaxo, no cinema do Centro
Cultural Zé do Norte, em Cajazeiras. Serão exibidos filmes de cineastas como
Veruza Guedes, Laércio Ferreira, Marlon Meireles e da própria Marcélia Cartaxo,
em parceria com Gisela Bezerra. Além de “Pacarrete”, de Alalan Deberton, com
Marcélia Cartaxo, filme que ganhou diversas premiações. A Mostra começa às 14h
e é simplesmente imperdível!
sexta-feira, 22 de agosto de 2025
TEMPO DE FESTA
quarta-feira, 20 de agosto de 2025
Sala de cinema instalada em Cajazeiras tem nome da atriz Marcélia Cartaxo.
De Macabéa a Pacarrete: homenagem a Marcélia Cartaxo no 53º Festival de Gramado
A imagem de Marcélia mais vaga que me vem à mente é a da garota franzina, branquinha e olhar curioso, à janela da sua casa, na parte mais elevada da rua Higino Rolim, próxima do açude, o nosso mar, em Cajazeiras, Sertão da Paraíba. Além dos banhos dominicais, era o Açude Grande a nossa escola de natação. A menina Marcélia com olhos prenhes de desejos sonhava com a relativa liberdade que nos era concedida por nossos pais. Sua carta de alforria veio a conta-gotas, quando começou a brincar de “drama” no quintal do vizinho Eliezer Rolim.
Fazia parte da trupe infantil,
além do próprio Eliezer Rolim, mentor da artimanha, Soia, Nanego e Paula Lira
(meus irmãos), Suedi, Lincoln, as irmãs Wilma e Wildenir Albuquerque, os irmãos
Lucilda, Luciene, e Leidson Feitosa, entre outras crianças das ruas próximas. O
grupo de teatro, que foi de início batizado de Mickey, fazia pequenas
apresentações no formato de esquetes, primeiro na rua Higino Rolim e depois em
escolas e noutros espaços da cidade. Com o “amadurecimento” dos seus
integrantes (da infância à adolescência), passou a se chamar Grupo Terra de
Teatro, criando textos com temas mais adultos.
Beiço de Estrada, a segunda montagem do grupo nessa nova fase – a primeira foi Os pirralhos – traz Marcélia como Véu de Noiva, a menina tímida e ingênua, reservada para o casamento pela mãe, dona de um cabaré, e fugir do destino de se tornar prostituta como as demais irmãs. Com Os pirralhos o grupo participou de circuitos estaduais de teatro na Paraíba a partir de uma visita à Cajazeiras, do ator, também paraibano, Luiz Carlos Vasconcelos, que se encantou com a maturidade artística dos “meninos”. A hora da estrela de Marcélia aconteceu com Beiço de Estrada.
Foi em 1984, pelas mãos de
Luiz Carlos, que o grupo chegou ao Circuito Mambembão de Teatro encantando e
comovendo o Sudeste e Sul do país. Numa das apresentações, a então aspirante à
diretora Susana Amaral estava na plateia e ficou fascinada com a atuação de
Marcélia. A personagem Véu de Noiva tinha muito da desafortunada Macabéa
de A Hora da Estrela, do romance de Clarice Lispector. Ficou o
convite para um teste que aconteceria um ano depois. Lá vai a menina tímida e
assustada para o estrelato. O orçamento para o longa era tão pequeno que
Marcélia penou dois dias de viagem de ônibus de Cajazeiras a São Paulo, quase
uma travessia pelo país. Os testes antecederam imediatamente as filmagens.
Marcélia Cartaxo virou
Macabéa, Macabéa virou Marcélia. Impossível não ver o rosto de Marcélia ao ler
as desventuras da protagonista na obra-prima de Clarice Lispector. Vieram as
aclamações nos festivais de cinema de Brasília (1985) e Berlim (1986). Marcélia
se torna a primeira brasileira a trazer o troféu de Melhor Atriz (aqui, o Urso
de Prata) de um grande festival estrangeiro. Acompanhei toda essa trajetória de
Marcélia até os dias atuais, vibrando com suas conquistas e solidário aos seus
infortúnios. Foram anos no Rio de Janeiro, sozinha e muitas vezes esquecida,
com grandes dificuldades para sobreviver, aceitando papeis ínfimos em novelas,
muito abaixo do seu grande talento.
Vivíamos numa época em que para a atriz e o ator era uma condição essencial viver no Sudeste do país, se quisessem um lugar ao sol. Nas últimas duas décadas, os atores e atrizes paraibanos mais requisitados para a televisão e o cinema não precisam mais deixar sua terra. E Marcélia se beneficiou dessa mudança: se estabeleceu na cidade que ama ao lado da família e amigos.
O filme Pacarrete (2019), de
Allan Deberton, traz Marcélia no papel da protagonista que dá nome ao filme e
tem Soia Lira como Maria, sua empregada doméstica. Coincidentemente, Deberton
terminou por “documentar” um retrato da relação das duas atrizes na vida real.
Entre tapas e beijos, Soia e Marcélia são amigas de infância e chegam à
maturidade, também artística, juntas, com amor e respeito, numa relação sempre
conflituosa que amiúde nos provoca risos, não só no filme Pacarrete, mas também
na vida. Marcélia recebeu o prêmio de Melhor atriz por encarnar Pacarrete e
Soia o de Melhor Atriz Coadjuvante pela personagem Maria no 49º Festival de
Cinema de Gramado de 2019.
Para quem acreditava que Marcélia Cartaxo estaria colada eternamente à ingênua Macabéa, sua maior performance como atriz até então, percebeu que o talento de cajazeirense é muito maior do que interpretar uma personagem com um physique de rôle semelhante ao seu e com uma história que tem muita coisa em comum com a sofrida jornada de Macabéa. A Pacarrete de Deberton veio provar que Marcélia é uma gigante ao encarnar uma bailarina idosa lutando pelo direito de levar a sua arte ao público de sua cidade natal. Marcélia agora não é apenas Macabéa, é também Pacarrete eternizadas pelo poder mágico do cinema.
sábado, 16 de agosto de 2025
Troféu Oscarito Para Marcélia Cartaxo