sexta-feira, 14 de março de 2025
domingo, 2 de março de 2025
CONVERSAS DE CINE ÉDEN: O Caçador de Fotogramas
domingo, 23 de fevereiro de 2025
Rótulos de cigarros, provavelmente fabricados em Cajazeiras e Sousa.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025
Em Cajazeiras, um tea for two na porta de entrada para o Cine Éden
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
O Jornal A União, domingo - 26.01.25, Caderno Cultura, página 9, publicou matéria alusiva aos 40 anos do Teatro Ica.
porEsmejoano Lincol
Íracles
Brocos Pires, a dona Ica, diretora paraibana e entusiasta da cultura local,
lutava por um espaço maior para a promoção de espetáculos em Cajazeiras, no
Sertão da Paraíba. Em meados dos anos 1970, a ideia começou a tomar forma, e
ela vislumbrou a possibilidade de dar o nome do escritor Ariano Suassuna ao
equipamento que seria construído. O destino não permitiu que ela pudesse ver o
sonho tornar-se real, mas sua partida fez com que esse palco levasse o seu
nome. Inaugurado há 40 anos, o Teatro Íracles Brocos Pires segue a missão de
promover a arte do estado. A programação especial de aniversário se encerra
hoje com shows do Grupo Dança de Rua da Paraíba e de Seu Pereira e Coletivo
401, a partir das 19h30.
A
União cobriu o lançamento do Ica, entregue pelo então governador Wilson Braga,
na edição de 29 de janeiro de 1985. Na mesma oportunidade, o gestor também
realizou a inauguração do Estádio Perpétuo Corrêa Lima, o Perpetão, que àquela
altura era chamado de Wilsão, em deferência ao político. Em seu discurso, Braga
exaltou o trabalho dos artistas locais, como Marcélia Cartaxo, que, conta a
reportagem, havia sido recentemente escalada para o icônico papel de Macabéa no
longa-metragem A Hora da Estrela, de Suzana Amaral. “Que ela [a ‘casa teatral’,
como chamou o governador] agora cumpra a sua missão história para o futuro”,
projetou Braga, na sua fala à população.
Quem
recorda o legado de Íracles é seu filho, o advogado Pepé Pires. Ele afirma que,
quando da escolha de dona Ica para dar nome ao teatro, houve quem questionasse
o fato de ela não ter sido atriz, ainda que tenha se empenhado em sua própria
formação - nos anos 1950, rumou para o Rio de Janeiro, onde estudou no Tablado,
fundado pela dramaturga Maria Clara Machado.
“Ela
tinha um talento nato. Na década de 1960, encenou O Auto da Compadecida e
contou com a participação do próprio Suassuna, que teceu elogios diante da
capacidade dos artistas locais, incluindo a minha mãe, de realizar uma
adaptação daquela qualidade”, evoca.
Íracles
faleceu em março de 1979, num trágico acidente automobilístico em Jequié, na
Bahia, mas Pepé afirma que a influência de sua mãe na cena local ultrapassa o
título dado ao equipamento público - em consonância com a cena nacional, a
diretora trouxe para Cajazeiras peças de vanguarda contemporâneas à sua
circulação no Sudeste, como dona Xepa, de Pedro Bloch. “Antes da construção do
espaço, minha mãe trazia duas peças por ano para a cidade. O Ica hoje é uma
referência na cultura do município, que gira em torno daquele ambiente”,
conclui.
PALCO
PARA A “ANDORINHA”
Dona
Ica também compartilha seu apelido com esse espaço: o Teatro Ica, como é
carinhosamente chamado por atores e moradores, era uma demanda antiga da cena
local. Antes, os artistas e o público tinham de recorrer a ambientes
improvisados na rua, no antigo Colégio Diocesano, ou no Cine Teatro Apolo XI.
O
ator Buda Lira, também cajazeirense, deu seus primeiros passos na dramaturgia
justamente nos quintais e nas calçadas do município, quando de sua experiência
com o Grupo Terra, montado junto com seus irmãos, Bertand, Nanego e Soia.
“Participamos do grupo que fez a campanha para a construção desse teatro”,
recorda.
Anos depois, mais experiente e residindo em João Pessoa, retornou ao Ica para se apresentar com dois espetáculos importantes em sua trajetória como ator: O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de 1992, e A Gaivota (Alguns Rascunhos), de 2007, ambos produzidos pelo Grupo Piollin, do qual passou a fazer parte. Buda atesta a importância desse teatro, considerando sua localização no interior do estado. “Acho que não chega a 5% o número de municípios brasileiros que possuem, oficialmente, casas de espetáculos”, declara.
Rivelino Martins, também ator e natural de Cajazeiras, conheceu dona Ica por meio de artistas contemporâneos à primeira-dama do teatro cajazeirense, como Larcy Nogueira. Com quase 40 anos dedicados à arte, encenou novas versões de espetáculos que, no passado, foram dirigidos por ela, como A Incelença, escrito por Luiz Marinho. “Era tida como uma mulher além do seu tempo, no nosso Sertão paraibano. Seja no teatro, na comunicação radiofônica e na política”, pontua.
Nos primeiros anos, o teatro chegou a ser administrado, via modelo de comodato, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mas, atualmente, o Ica é gerido pela Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc). Rivelino ressalta que o vínculo com o Governo do Estado garantiu, em 2018, uma reforma que trouxe melhorias diversas, como a ampliação do número de lugares disponíveis, de 174 para 285.
“Ganhamos
iluminação e sonorização modernas e uma sala de ensaios. A partir daí,
companhias de teatro de outros estados do Brasil, que estiveram no Ica,
consideram um dos mais modernos e equipados do Nordeste”, informa.
Desde o ano passado, o teatro é gerido por Iza Nonato, produtora e gestora cultural nascida em Cajazeiras. Na juventude, acompanhou os espetáculos que eram encenados no palco do Ica. Depois de alguns anos residindo na capital, retornou à sua cidade de origem para coordenar o espaço. Dentre as ações que fizeram parte desse aniversário de 40 anos, estão a construção de uma galeria fotográfica, que rememora peças e demais eventos que marcaram essas quatro décadas de existência, e uma exposição de figurinos e objetos utilizados por dona Ica em espetáculos históricos.
Iza
enaltece a programação que tomou conta do teatro na última semana, incluindo
recital de Jessier Quirino e a montagem de Beiço de Estrada, texto clássico do
dramaturgo Eliezer Rolim. A gestora assevera que as comemorações continuam até
o fim do mês com a grade do projeto Férias Funesc, que fornecerá ações
culturais gratuitas voltadas para as crianças e adolescentes da rede pública de
ensino (confira no quadro ao lado).
“O
Ica representa não apenas um espaço de expressão cultural, mas também um
instrumento de preservação da história e da identidade local. Ele tem um papel
fundamental na formação de público e na promoção de artistas da região”,
sustenta Iza.
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Funesc: ‘40 anos do ICA’ terá oficinas, homenagens, música, teatro, dança, circo, fotografia, cinema, literatura e cultura popular, em Cajazeiras
19/01 – DOMINGO
19h - Cerimônia de abertura e inauguração da Galeria Fotográfica com a exposição ‘Memórias’
20h – Apresentação ORQUESTRA SINFÔNICA PRIMA
20h30 – Exibição do curta-metragem ‘Cajazeiras sitiada’, de Janduy Acedino
20/01 SEGUNDA-FEIRA
17h - Espetáculo Infantil de circo ‘Viva o Circo’
18h - Espetáculo Infantil de dança ‘Raxa’
21/01 TERÇA-FEIRA
17h - Espetáculo Infantil de dança ‘Raxa’
18h - Espetáculo Infantil de circo ‘Viva o Circo’
22/01 QUARTA-FEIRA
17h - Contação de história Infantil ‘Meio mundo de histórias’
23/01 – QUINTA FEIRA
19h – Show musical ‘Senhor Cordel’
19h30 - Repente com Jonas Bezerra e Felipe Pereira
20h – Recital com Jessier Quirino
24/01 – SEXTA-FEIRA
19h – Homenagem in memorian Eliézer Rolim
19h30 - Espetáculo teatral ‘Beiço de estrada’
21h - Show musical
25/01 – SÁBADO
19h – Espetáculo teatral ‘Oh! Terrinha boa’
20h30 – Show musical com Flávio Leandro
26/01 – DOMINGO
19h30 – Grupo Dança de Rua da Paraíba - DRP
20h – Show com Seu Pereira & Coletivo 401
quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Espelho Rachado - Uma história de final de ano
Não tem jeito: todo final de
ano lembro meu amigo Baxter. Um cara legal, talvez meio bobão, mas gente boa.
Sua única mancada na vida foi aquela de se passar para emprestar seu
apartamento de solteiro aos seus superiores no trabalho. Entendam: era naquele
tempo em que não existia essa coisa prática chamada Motel, e, funcionário de
uma grande Empresa de Seguros, ele achava que esses empréstimos escusos de seu
modesto lar podiam lhe trazer promoções ou subidas de cargo.
Por causa disso, coitado,
vivia debruçado sobre a agenda, marcando encontros para os outros. Nos dias e
horários dos tais encontros, tinha que, depois do expediente, permanecer na rua
por horas, mal acomodado nos bancos das praças, sujeito a frio e chuva,
enquanto velhotes safados traçavam garotas de programa na sua cama. Negócio de
doido.
E ele próprio, sem ninguém. A
não ser que se diga que era meio caidinho pela ascensorista da Empresa, uma
moça bonita e simpática que, se não correspondia ao flerte, ao menos era super
gentil com ele.
Pois um dia, o que aconteceu?
Baxter foi chamado ao último andar do arranha-céu da empresa, falar com o
chefão. Sua tramoia havia sido descoberta, e quando ele estava para pedir
perdão, foi o chefão quem falou: ao invés de condená-lo, pediu a duplicata da
chave do apartamento, pois queria ser, a partir daquele dia, o único “freguês”.
E aquela foi, pra Baxter, mais
uma metade de noite na rua. Ao voltar pra seu apartamento, achou no assoalho,
um espelho de mão rachado. Devia ter havido briga entre o chefão e sua garota,
fosse ela quem fosse. Guardou o espelho rachado e, no dia seguinte, teve o
cuidado de entregá-lo ao chefão.
A recompensa pelo uso do
apartamento desta vez veio rápido: Baxter foi promovido e mudou de sala, do
andar em que estava para um outro, bem mais alto – e, na empresa, quanto mais
alto o andar do prédio, mais prestígio.
Por coincidência, ele estava
na sua nova e charmosa sala de trabalho, comemorando a promoção, quando a bela
ascensorista apareceu. Provando um chapéu novo, ele perguntou a ela se
combinava com sua postura, e aí, ela tirou da bolsa um espelho de mão e lhe deu
pra que ele mesmo se mirasse. Foi nesse momento que o mundo de Baxter desabou:
era o mesmo espelho rachado que ele encontrara no seu apartamento e devolvera
ao chefão, ou seja, a amante escusa do chefão era ela, sua tão adorada e
supostamente inocente ascensorista.
O baque foi grande, mas Baxter
tentou se segurar. A carreira profissional de um homem não era mais importante
que sua vida amorosa? Engoliu em seco e foi adiante. Quando o chefão solicitou
seu apartamento no dia de natal, ele, claro, cedeu. Naquela noite, ficou pelos
bares, tristonho, mas terminou arranjando uma paquera casual, que aceitou ir,
sim, para o apartamento dele. Naquela hora, mais de meia noite, Baxter sabia
que o chefão e a ascensorista já haviam encerrado o rendez-vous.
Ao chegar em casa, não prestou
não. Abrindo a porta do quarto tomou o maior susto de sua vida: lá estava a
moça, sim, sua linda ascensorista, em sua cama, desfalecida. Tentou acordá-la,
mas que nada: na cabeceira da cama estava um frasco de comprimidos para dormir
completamente vazio. E aí, foi um deus nos acuda. Telefonou imediatamente para
o chefão, mas este alegou que tinha esposa e filhos e que não podia fazer nada;
e sugeriu que Baxter, ele mesmo, resolvesse o problema. Assim, o pobre do
Baxter se acudiu de um médico vizinho e amigo, e foram horas e mais horas de
arrastar a moça desfalecida pelo apartamento, de lhe empurrar café goela
abaixo, e de muitas outras providências e cuidados.
Quando a moça melhorou,
terminou ficando uns dias no apartamento dele, e puderam conversar um bocado e
à vontade sobre as coisas da vida e as dores do amor.
Voltando ao trabalho, Baxter
foi chamado pelo chefão, que agradeceu suas providências e pediu, de novo, a
chave do apartamento, desta vez uma cópia exclusiva. E foi aí que veio a
redenção moral do nosso amigo Baxter: ele se negou a ceder a chave. O chefão
ameaçou demiti-lo, e ele, impávido e altaneiro, aceitou a demissão de bom
grado.
Na Noite de Ano, estavam a
jovem ascensorista e o chefão num salão festivo de bar quando foi anunciado o
nascer do novo ano. Ele virou-se de lado para brindar com todos, e ao voltar-se
pra brindar com ela, a moça havia desaparecido. Vocês não vão acreditar, mas
conto assim mesmo: não sei o que deu nela, que saiu correndo feito uma louca, e
foi bater na porta do modesto apartamento de Baxter, o qual, no meio dos móveis
empacotados para mudança, tinha, por coincidência, acabado de abrir uma garrafa
de champanhe para comemorar o seu desemprego e desalento. Brindaram os dois e
foram muito felizes depois daquele brinde. Creio que para sempre.
O espelho rachado? Ela jogou
fora e comprou um outro, novinho em folha, como o ano que se iniciava.