sexta-feira, 14 de março de 2025

porJoão Batista de Brito

Pavilhão do Chá em João Pessoa. imagem do acervo do IBGE.


Estávamos na João Pessoa dos anos quarenta. A família era das mais tradicionais e o casarão ficava no Parque Solon de Lucena, na época área nobre da capital.

Analice fora criada com o zelo esperado: babá, aula de piano, Aliança Francesa, ginásio no Colégio das Lourdinas, secundário na Escola Normal, tudo cabível a uma moça de família abastada, ainda mais filha única.

Foi no tempo da Escola Normal, ali na Praça João Pessoa, que os problemas apareceram. Não se sabe como, Analice conheceu esse rapaz e, em pouco tempo começaram um namoro que, com certeza, se a família soubesse, desaprovaria de chofre. Rapaz pobre, residente no popular bairro de Jaguaribe, Júlio estava longe de ter as credenciais necessárias. Os dois sabiam disso e por isso mesmo se mantinham furtivos, feito dois criminosos.

Poucos conheciam o caso, mas o fato é que o namoro chegou aos ouvidos da família, e daí a pouco, estava peremptoriamente encerrado. Se Júlio sofreu, não se sabe, mas, Analice ficou mal, muito mal. Filha obediente, engoliu o veto, a separação, a dor...

Passou-se o tempo e, com as providências da família, eis que, finalmente, apareceu “o homem certo” para Analice, esta agora já nos seus vinte e um anos de idade. Dez anos mais velho que ela, Constantino era um alto comerciante, proprietário de vários negócios na cidade. Com o reforço da família, o namoro logo virou noivado, que logo virou casamento.

E assim Analice foi se adaptando como podia a essa nova forma de vida, em sua confortável nova residência, uma das mais elegantes da rua Visconde de Pelotas. Não é que não gostasse de Constantino, mas sentia que seu afeto por ele - um homem bondoso e compreensivo – era diverso do que sentira por Júlio. Havia carinho, sossego, respeito, mas não havia chama. Por isso, toda noite rezava à Virgem Maria para esquecer de vez o passado e aceitar o presente.

Aparentemente a Virgem Maria lhe atendeu a súplica. Já fazia cinco anos de casamento, e tudo caminhava dentro da normalidade esperada. Na condição de esposa e dona de casa, Analice vivia, se não feliz, ao menos tranquila, e, mais importante, em paz com sua consciência.

Essa paz começou a ser ameaçada naquele dia em que decidiu que as roupas de cama e mesa da casa estavam gastas. Conversou com o marido, o qual, rindo do problema, lhe lembrou que as Lojas Medeiros e Cia, ali na subida da Guedes Pereira, eram da família: era só ir lá, escolher e mandar entregar. Nem pagar precisava, completou ele, ainda rindo.

E assim lá foi Analice às Lojas Medeiros e Cia.

Para seu total espanto, quem a atendeu? Sim, ele, Júlio, o mesmo Júlio que, agora que o revia, sabia nunca haver esquecido. Estava mais maduro, porém, formoso como sempre, com sua sensualidade morena, o brilho no olhar, a fala doce e o mesmo sorriso franco. Trêmula e um pouco tonta, Analice desempenhou como pôde o papel de freguesa, e ele, aparentemente muito bem, o papel de atendente. Entre os tecidos mostrados, ela não deixou de notar o anel em sua mão esquerda, visão que não sabia se a acalmava ou se mais a perturbava.

Na noite daquele dia Analice não dormiu. Então seu ex-amor era empregado de seu esposo! O destino estava maldosamente brincando com ela... E a insônia persistiu por noites e noites.

Notando-a abatida, o marido aconselhou-a a divertir-se um pouco. Chamasse a vizinha e amiga Letícia e fosse a um cinema, ou saísse para um sorvete, ou um chá, coisas assim.

Sem convicção, Analice foi com Letícia à matinê do Cine Rex. Finda a sessão, a amiga sugeriu um final de tarde no Pavilhão do Chá, ao que Analice reagiu negativamente, escondendo a lembrança de que aquele fora o local do seu primeiro encontro com Júlio. A amiga insistiu, e por fim, Analice acedeu; afinal, não podia continuar fugindo de lembranças que não valiam a pena lembrar.

Pois essas aprazíveis tardinhas no Pavilhão do Chá se tornaram habituais, o que foi alimentando em Analice a impressão de que o passado poderia ser vencido.

Isso até o dia em que, mais um espanto, ela avistou Júlio na calçada da praça. Como assim? Ocorre que os alegres fregueses do Pavilhão do Chá, recinto aberto, podiam ser vistos pelos passantes, da praça e da rua, inclusive pelos passageiros do bonde que fazia o percurso Ponto de Cem Réis-Jaguaribe, o meio de transporte diário de Júlio.

E de repente Júlio veio vindo em direção a ela. Nervosa, Analice chamou o garçom. Não adiantou: ele aproximou-se, deu boa noite, cumprimentou Letícia com um aceno de cabeça, e em seguida, apertou a mão de Analice, e no aperto de mão, veiculou uma discreta tira de papel, que Analice jogou na bolsa sem ver o que era.

Em casa, a sós no seu quarto, leu. Havia um número de telefone e uma frase escrita: “pelo amor de Deus me ligue.”

Desfazia-se daquele pedaço de papel? Ou fazia o que ele implorava?



domingo, 2 de março de 2025

CONVERSAS DE CINE ÉDEN: O Caçador de Fotogramas

porCleudimar Ferreira

Imagem meramente ilustrativa, editada a partir de uma foto de uma cena do filme: 'Alguém 
me Vigia' de 1979. Em destaque a atriz Lauren Hutton, protagonista do filme
 

No auge daqueles três cinemas, eis que explode um dos momentos contagiantes da minha adolescência. Um intervalo no tempo, em que muitos viveram comigo e, outros que não vivenciaram, passaram mais adiante, também, a se envolver e ser parte desse instante. E o que foi bom, não houve idade marcada ou preestabelecida, pois o interesse naquela diversão, era unânime e, por ser assim, atraia a vontade de todos, independentemente dos anos que tivesse ou da seriedade que aparentava ter.

Quando eu andava pelas ruas de Cajazeiras, facilmente sabia entender o sentido daquela atração quase voraz. Uma febre por aquelas atraentes microimagens, pulsava em quase todas as residências, pois o que eu via nessa eterna urbe, era que uma casa aqui, outra ali, sempre havia um grupo reunido, vislumbrando com ajuda de uma razoável lente artesanal, manipulada, a partir de uma lâmpada comum, com água dentro e um foco de luz solar; uns tais fotogramas de cores e luzes, na parede de algum lugar das suas moradias.

Os inventos variavam de tamanho, qualidade e quantidade. Muitos da meninada dessa época, abusava da criatividade, sempre buscando a perfeição, na melhor confecção daquelas pequenos caixas mágicas, que nos fazia viajar por um mundo de fantasias e sonhos. Colavam os quadrinhos magnéticos, um, depois um; outro, após outro, com ajuda de um durex, formando um improvisado novelo, com imagens dos atores, estrelas protagonistas dos filmes de faroeste ou épicos, preferivelmente, imitando os verdadeiros rolos de fitas que chegavam em latões, nas cabines dos cinemas, para serem revisados e projetados, durante as sessões a noite nas salas de exibições da cidade.

Não se via naquelas caixinhas de sapatos ou de madeira, a possibilidade de elas serem transformadas em algo concreto, pois não havia, sobretudo, nenhuma ligação com a realidade, porém, apenas, pequenos objetos que lembrava a ilusão do cinema ou as imagens que nele víamos. Imagens reverenciadas, por demais amadas, principalmente quando olhávamos projetados nas paredes de nossas casas, os retratos gigantes de Jonh Weyne, Clenn Ford, Gregory Peck, ou as well-defined beauties em plano aberto, de Claudia Cardinale, Greta Garbo, Sophia Loren e Natalie Wood.

A busca diária por tais fotogramas, aumentava e, as portas dos Cines Éden, Pax e Apolo XI, nos intervalos das exibições, bem como, no período da manhã - momento de limpezas dessas salas ou nos horários da tarde - quando os operadores de projetores, revisavam os rolos de fitas; tinha caráter construtivos, já que era na procura das melhores imagens, que surgia a formação dos nossos melhores bancos de fotogramas e, a meninada da vizinhança, era ávida, não fazia concessão e valorizava a qualidade das imagens.

No começo dessa fábula cinematográfica, passamos a andar pelos lixos dos cinemas de Cajazeiras, procurando esses esquecidos fotogramas, descartados das partes dos filmes, que não era adequados para exibição nas grandes telas. Até aquela ocasião, para encontrar essas preciosidades, perdidas ou não nos dispensários dos três cinemas, era necessário chegar na hora que os operadores recolhiam o lixo produzido pela revisão, ou horas depois. Isso, se ninguém chagasse antes. 

Tinha alguns que chegava a fazer plantão nos fundos dos cinemas, tocaiando o momento que o auxiliar de operador descia com o lixo da faxina, para vascular os entulhos, ansiosos na esperança de encontrar uma imagem. Se a procura dessas pequenas janelas, era aparentemente uma tarefa difícil, mais difícil ficava, com o aumento do número de interessados envolvidos na brincadeira de cineminha em casa.

Com a crescente demanda por dessas imagens nos cinemas da cidade, os operadores de projetores, que também eram os responsáveis pelas revisões dos filmes, passaram a fazer esse trabalho e, tudo que era cortado das fitas, iam sendo guardados e vendidos a preços não muito satisfatórios, para muitos garotos que não tinha se quer um centavo no bolço da sua calça coringa e, tudo que precisava comprar, dependia da boa vontade dos pais.

Lembro que certa vez estava sendo exibido no Cine Éden um filme de Faroeste, chamado ‘O Irresistível Forasteiro’, com Glenn Ford. O filme tinha sido gravado em cinemascope e a imagem apresentava um colorido perfeito, com uma resolução de fazer inveja aos 4k de hoje. A exibição tomava toda a extensão da tela. Como já tinha assistido no dia da estreia, fui dois dias depois ao Cine Éden com alguns trocados na mão. Meu propósito, era adquirir alguns fotogramas do filme que mostrasse um plano fechado do ator protagonista, no caso, Glenn Ford.  

Quando cheguei a calçado do cinema, vi que a porta estava fechada, mas a janela da cabine dos projetores, que dava para a Praça João Pessoa, estava aberta. Perguntei com a voz um pouco alterada: - tem alguém aí? Ninguém respondeu, ninguém apareceu. Já que esse compartimento do cinema ficava numa espécie de plano superior, em relação ao auditório, pequei uma pedrinha no calçamento da Praça João Pessoa e atirei em direção a janela, fazendo a mesma pergunta feita antes: - tem alguém aí? Subitamente, vi um pé e uma mão aparecendo, quase empresados, naquela janela estreita e bastante comprida. Era Manoelzinho Justino, um dos operadores, que no futuro veria a ser uma das vítimas fatais do atentado a bomba no Cine Teatro Apolo XI.

Ele apareceu na janela e perguntou o que eu queria. Disse a ele que desejava adquirir alguns fotogramas do filme ‘O Irresistível Forasteiro’. Fitas cujas imagens tivesse atores em plano médio ou fechado. Ele prontamente disse que tinha e perguntou quantas eu queria. Respondi, umas cinco. Ele replicou: - É dois cruzeiros. Vi que tinha esse valor, peguei o dinheiro enrolei muna pedrinha com uma liga e, joguei em direção a janela. 

Ele recebeu os cruzeiros, conferiu e falou que ia pegar os fotogramas. Fiquei esperando alguns minutos. De repente, Manoelzinho reapareceu na janela e, jogou em minha direção, um pacotinho envolvido num papel. O passador de filmes encostou a janela e desaparece de mim. Quando olho o conteúdo do pacotinho, os fotogramas vendidos por Manoelzinho, só tinha imagem com cenas de paisagens, ou seja, planos gerais da cidade cenográfica, cowboys pastoreando ovelhas, desfiladeiros e montanhas da região oeste americana.

Tentei no mesmo instante devolver a encomenda adquirida com operador do Éden. Gritei em direção a janela superior do cinema, chamando: - Ô Manoelzinho! não são essas as imagens que pedi e nem as que comprei. Clamei com a voz altiva e o ‘cara’ não apareceu. Voltei a, apliquei a técnica de atirar uma pedra na janela da cabine de operação do cinema, mas o funcionário da sala de exibição não deu ouvido, não deu as caras.

E assim voltei com aquelas imagens provocativas, desqualificando o meu caminho em direção a balaústre cega da porta principal das casas pernambucanas. Quanto aos meus fotogramas, fui, como diz no popular, ‘enrolado’ pelo tal Manoelzinho do Cine Éden. Mesmo assim, deu para aproveitar, pois como disse anteriormente, as imagens e o colorido do filme ‘O Irresistível Forasteiro’ eram mágicas, um vislumbre para os olhos de qualquer adolescente que vivia aqueles dias fantásticos, simbolizados via as caixas panorâmicas dos nossos três cinemas.

D  E  I  X  E    O    S  E  U    C O M E N T Á R I O




 AVISO: Esse texto é único e tem registro. Plagiar ou copiar sem breve autorização do autor, poderá acarretar em pedido de reparos perante a lei.

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Rótulos de cigarros, provavelmente fabricados em Cajazeiras e Sousa.

porCleudimar Ferreira

imagnes meramente ilustrativa do acervo da Fundação Joaquim Nabuco


Que interessante. No acervo de fotografias da Fundação Joaquim Nabuco, encontrei essas duas imagens de rótulos de cigarros fabricados nas cidades de Cajazeiras e Sousa. Os supostos impressos dos produtos originários das vizinhas cidades, parecem ser anúncios publicitários, divulgados em algum órgão noticioso, em circulação no passado, na região de Sousa e Cajazeiras. Os rótulos foram confeccionados a partir do uso da técnica de impressão litográfica. Sendo que, especificamente, o rótulo do cigarro fabricado em Cajazeiras, feito em cores; e o de Sousa, em Preto e Branco.

Como se ver nas imagens acima, a arte nos rótulos, apresenta um desenho diferenciado, porém representativo, simbólico, com ilustrações e temática bastante comum nas gravações do final do século XIX (periodo Imperial) e início do sáculo XX, quando o Brasil passou a ser república. Os impressos originais, pertencem ao colecionador Brito Alves, conforme ficha catalográfica da Fundação Joaquim Nabuco. O acesso as imagens, só é possível através da caixa/menu de busca do site da fundação, digitando as palavras 'Cajazeiras, Paraíba'.

Conforme os rótulos, o cigarro cajazeirense, se chamava ‘A Flor do Brasil’ e tinha a marca ‘As Duas Coroas’ fábrica de cigarros Rozado e Irmão, como fabricante. Já o manufaturado na vizinha cidade de Sousa, tinha o nome de 'Cigarros Sertanejos' e, era fabricado na cidade sorriso por A. J. de Mello. Os cigarros eram distribuídos e vendidos no comércio das duas cidades e cidades circunvizinhas.

D E I X E  O  S E U  C O M E N T Á R I O


Imagens: Acervo da Fundação Joaquim Nabuco / coleção Brito Alves

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Em Cajazeiras, um tea for two na porta de entrada para o Cine Éden

porCleudimar Ferreira

Inicio da Avenida (Praça) João Pessoa - Cajazeiras/PB, década de 50.


O título original do filme escrito nessa tabuleta, iserida no contexto visual que a foto acima expõe, por sinal, bem colocada na rua pelo Cine Éden, seria: 'Tea For Two' ou na linguagem pindoramista, ‘Chá Para Dois’. Protagonizado pela atriz Doris Day, ‘Chá Para Dois’ foi produzido em 1950, ano da invasão da Coreia do Sul pela Coreia do Norte e do anúncio para o mundo do desenvolvimento da bomba de hidrogênio. O filme teve a direção de David Butler, com roteiro escrito por Herry Clork, inspirado no espetáculo No, No, Nanette.

A película é uma comédia musical, romântica, ambientada nos Estados Unidos, que conta a história de Nanette Carter, uma herdeira aficionada por musicais, que é convencida a financiar um show na Broadway. Confiante no triunfo do espetáculo, o elenco passou a fazer os ensaios na casa de Nanette.

No primeiro dia de ensaio, o elenco chegou a sua propriedade, mas várias complicações cômicas aconteceram. Uma delas foi uma aposta que o tio de Nanette havia feito, a qual não conseguiu vencer. E o pior, um fato inusitado aconteceu nessa história, todo dinheiro que o tio dela tinha, que também era parte do dinheiro da aposta, o tio perdeu com a quebra do bolsa de valores.

Procurando uma saída para evitar o fracasso da produção, uma assistente de Nanette, conseguiu convencer um advogado a apoiar o show. Com o apoio do advogado, o espetáculo, ‘No, No, Nanette’, finalmente é realizado e, passou a se tornar um sucesso. 

Como se observa, a imagem do cartaz que foi exposto no início da Praça João Pessoa, não exibiu o nome original do filme, mas outro nome. Nesse tempo, era comum os filmes produzidos em outros país, entrar em solo brasileira e as distribuidoras, renomear, dando outro título aos filmes. O letreiro na tabuleta do Éden não é bem legível, mas dá para ler o que o letrista escreveu, o que nesse caso, me parece ser ‘Uma pizza para dois’.

O local na Praça João Pessoa onde o cartaz na foto está, era considerado da década de 50 até a primeira metade dos anos 80, a porta de entrada do Cine Teatro Éden. Então, era um lugar estratégico, não desqualificando os outros locais na cidade, usados pelas demais salas de cinema existente em Cajazeiras, para divulgação das suas programações diarias, como os cines Pax e Apolo XI.

Cartaz do Show 'No, No, Nanette' e do Filme 'Chá Para Dois'.

A praça, como caminho para o mais tradicional cinema de Cajazeiras, se destacava por ser a princpal artéria de convivencia da cidade; por ter também vários pontos pitorescos, conhecidos e frequentados pela população, a exemplo da Sorveteria Trianon de seu Chatô, que ficava nesse prédio de 1º andar que a imagem mostra, na esquina da Travessa Acácio, que dá acesso a Rua Higino Rolim e a Igreja Matriz Nossa Senhora de Fátima.

Do lado direito da fotografia, aparece em evidência, o prédio onde funcionou por muito tempo as Casas Pernambucanas. Na parte de cima das pernambucanas, ficava instalado a representação do Departamento de Estradas e Rodagem (DER-PB) e na calçada, a tradicional Banca de Revistas de Diana de Chico Bembem. Logo depois, o Cartório de Antônio Holanda e em seguida, a agência do Banco da Cooperativa Agrícola.

Por outro lado, as sombras do passado que a fotografia expõe, tanto do lado esquerdo, quanto do lado direito da principal praça de Cajazeiras, indicam que no momento do Click, o tempo romantizava, que esse instante, aconteceu no período da manhã, aproximando do meio-dia, com nuvens que prenunciava que a cidade estava vivendo um periodo chuvoso. 

Dependendo do dia e horário, as sombras podiam esconder Jeeps, Caminhonetes, Rurais, Caminhões FNM e os primeiros carros de passeios - com ênfase, a chegada dos Aero Willys na cidade. Porém, essas sombras não eram e, nunca foram contratempo, embaraço ou algo que escondesse o caminho em direção ao Cine Éden, principalmente se a estrela do filme fosse com Doris Day ou se o tema na fita, em exibição, falasse de Chá, de Pizza, de Prisma, Pássaros ou coisa assim. Pois o cinema, nos anos 50, era convidativo e, dependo ou não do que era exibido, o público comparecia, lotando as salas de exibições.  







quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

O Jornal A União, domingo - 26.01.25, Caderno Cultura, página 9, publicou matéria alusiva aos 40 anos do Teatro Ica.

Teatro Íracles Brocos Pires - Ica, antes e depois da reforma em 2018.

Um Palco em Festa

porEsmejoano Lincol

Íracles Brocos Pires, a dona Ica, diretora paraibana e entusiasta da cultura local, lutava por um espaço maior para a promoção de espetáculos em Cajazeiras, no Sertão da Paraíba. Em meados dos anos 1970, a ideia começou a tomar forma, e ela vislumbrou a possibilidade de dar o nome do escritor Ariano Suassuna ao equipamento que seria construído. O destino não permitiu que ela pudesse ver o sonho tornar-se real, mas sua partida fez com que esse palco levasse o seu nome. Inaugurado há 40 anos, o Teatro Íracles Brocos Pires segue a missão de promover a arte do estado. A programação especial de aniversário se encerra hoje com shows do Grupo Dança de Rua da Paraíba e de Seu Pereira e Coletivo 401, a partir das 19h30.

A União cobriu o lançamento do Ica, entregue pelo então governador Wilson Braga, na edição de 29 de janeiro de 1985. Na mesma oportunidade, o gestor também realizou a inauguração do Estádio Perpétuo Corrêa Lima, o Perpetão, que àquela altura era chamado de Wilsão, em deferência ao político. Em seu discurso, Braga exaltou o trabalho dos artistas locais, como Marcélia Cartaxo, que, conta a reportagem, havia sido recentemente escalada para o icônico papel de Macabéa no longa-metragem A Hora da Estrela, de Suzana Amaral. “Que ela [a ‘casa teatral’, como chamou o governador] agora cumpra a sua missão história para o futuro”, projetou Braga, na sua fala à população.

Quem recorda o legado de Íracles é seu filho, o advogado Pepé Pires. Ele afirma que, quando da escolha de dona Ica para dar nome ao teatro, houve quem questionasse o fato de ela não ter sido atriz, ainda que tenha se empenhado em sua própria formação - nos anos 1950, rumou para o Rio de Janeiro, onde estudou no Tablado, fundado pela dramaturga Maria Clara Machado.

“Ela tinha um talento nato. Na década de 1960, encenou O Auto da Compadecida e contou com a participação do próprio Suassuna, que teceu elogios diante da capacidade dos artistas locais, incluindo a minha mãe, de realizar uma adaptação daquela qualidade”, evoca.

Íracles faleceu em março de 1979, num trágico acidente automobilístico em Jequié, na Bahia, mas Pepé afirma que a influência de sua mãe na cena local ultrapassa o título dado ao equipamento público - em consonância com a cena nacional, a diretora trouxe para Cajazeiras peças de vanguarda contemporâneas à sua circulação no Sudeste, como dona Xepa, de Pedro Bloch. “Antes da construção do espaço, minha mãe trazia duas peças por ano para a cidade. O Ica hoje é uma referência na cultura do município, que gira em torno daquele ambiente”, conclui.

PALCO PARA A “ANDORINHA”

Dona Ica também compartilha seu apelido com esse espaço: o Teatro Ica, como é carinhosamente chamado por atores e moradores, era uma demanda antiga da cena local. Antes, os artistas e o público tinham de recorrer a ambientes improvisados na rua, no antigo Colégio Diocesano, ou no Cine Teatro Apolo XI.

O ator Buda Lira, também cajazeirense, deu seus primeiros passos na dramaturgia justamente nos quintais e nas calçadas do município, quando de sua experiência com o Grupo Terra, montado junto com seus irmãos, Bertand, Nanego e Soia. “Participamos do grupo que fez a campanha para a construção desse teatro”, recorda.

Rivelino

Anos depois, mais experiente e residindo em João Pessoa, retornou ao Ica para se apresentar com dois espetáculos importantes em sua trajetória como ator: O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de 1992, e A Gaivota (Alguns Rascunhos), de 2007, ambos produzidos pelo Grupo Piollin, do qual passou a fazer parte. Buda atesta a importância desse teatro, considerando sua localização no interior do estado. “Acho que não chega a 5% o número de municípios brasileiros que possuem, oficialmente, casas de espetáculos”, declara.

Rivelino Martins, também ator e natural de Cajazeiras, conheceu dona Ica por meio de artistas contemporâneos à primeira-dama do teatro cajazeirense, como Larcy Nogueira. Com quase 40 anos dedicados à arte, encenou novas versões de espetáculos que, no passado, foram dirigidos por ela, como A Incelença, escrito por Luiz Marinho. “Era tida como uma mulher além do seu tempo, no nosso Sertão paraibano. Seja no teatro, na comunicação radiofônica e na política”, pontua. 

Nos primeiros anos, o teatro chegou a ser administrado, via modelo de comodato, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mas, atualmente, o Ica é gerido pela Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc). Rivelino ressalta que o vínculo com o Governo do Estado garantiu, em 2018, uma reforma que trouxe melhorias diversas, como a ampliação do número de lugares disponíveis, de 174 para 285.

“Ganhamos iluminação e sonorização modernas e uma sala de ensaios. A partir daí, companhias de teatro de outros estados do Brasil, que estiveram no Ica, consideram um dos mais modernos e equipados do Nordeste”, informa.

PROGRAMAÇÃO DE FÉRIAS

Desde o ano passado, o teatro é gerido por Iza Nonato, produtora e gestora cultural nascida em Cajazeiras. Na juventude, acompanhou os espetáculos que eram encenados no palco do Ica. Depois de alguns anos residindo na capital, retornou à sua cidade de origem para coordenar o espaço. Dentre as ações que fizeram parte desse aniversário de 40 anos, estão a construção de uma galeria fotográfica, que rememora peças e demais eventos que marcaram essas quatro décadas de existência, e uma exposição de figurinos e objetos utilizados por dona Ica em espetáculos históricos.

Iza enaltece a programação que tomou conta do teatro na última semana, incluindo recital de Jessier Quirino e a montagem de Beiço de Estrada, texto clássico do dramaturgo Eliezer Rolim. A gestora assevera que as comemorações continuam até o fim do mês com a grade do projeto Férias Funesc, que fornecerá ações culturais gratuitas voltadas para as crianças e adolescentes da rede pública de ensino (confira no quadro ao lado).

“O Ica representa não apenas um espaço de expressão cultural, mas também um instrumento de preservação da história e da identidade local. Ele tem um papel fundamental na formação de público e na promoção de artistas da região”, sustenta Iza.




quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Funesc: ‘40 anos do ICA’ terá oficinas, homenagens, música, teatro, dança, circo, fotografia, cinema, literatura e cultura popular, em Cajazeiras

 

Um dos principais teatros da Paraíba está comemorando 40 anos. Equipamento administrado pela Fundação Espaço Cultural (Funesc), o teatro Íracles Brocos Pires (ICA) terá programação especial para comemorar o aniversário, em Cajazeiras, no Sertão do Estado. Destaque para shows de Jackson Antunes, Jessier Quirino, Seu Pereira & Coletivo 401.

Conforme Iza Nonato, diretora do ICA, as atividades vão de 19 a 26 deste mês. A abertura da programação será no domingo, às 19h, com inauguração da galeria fotográfica e exposição ‘Memórias’, concerto do PRIMA e exibição do curta-metragem ‘Cajazeiras sitiada’, de Janduy Acedino. Já na segunda-feira, dia 20, e na terça-feira, dia 21, tem os espetáculos ‘Raxa’ e ‘Viva o circo’, a partir das 17h.

Na quarta-feira, dia 22, às 17h, tem contação de história Infantil ‘Meio mundo de histórias’. Já na quinta-feira, dia 23, a partir das 19h, estão programados show musical com Senhor Cordel, e repente com os violeiros Jonas Bezerra e Felipe Pereira; além de um recital com o poeta popular Jessier Quirino.

Programação dos 40 anos do ICA segue na sexta-feira, dia 24, com homenagem ao saudoso dramaturgo Eliézer Rolim e encenação da peça ‘Beiço de estrada’. Fechando a noite, a partir das 21h, haverá show musical.

Ainda de acordo com Iza Nonato, diretora do ICA, o sábado, dia 25, às 19h, terá apresentação do espetáculo teatral ‘Oh! Terrinha boa’ e, logo em seguida, show musical com Flávio Leandro. Fechando a programação, no domingo, dia 26, a partir das 19h30, haverá espetáculo de dança de rua (com o grupo cajazeirense Dança de Rua da Paraíba) e show com a banda Seu Pereira & Coletivo 401.

Programação organizada pela direção do ICA - equipamento da Funesc e da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) - conta com diversos parceiros. Para garantir a execução das atividades, foram fundamentais as parcerias com o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM), Mais Med e também Denise Bayma (prefeita do município de Bom Jesus-PB).

Ingressos e homenagens - Programação terá oficinas, homenagens e espetáculos de teatro, dança, circo e música, além de cinema, fotografia, literatura e cultura popular. As entradas são gratuitas na programação dos dias 19, 20, 21, 22, 23 e 26 (com limitação de 278 lugares por espetáculo apresentado. A retirada dos ingressos será feita na bilheteria do teatro. Para outras informações, acesse o WhatsApp 83 99105-2988.

Ingressos estão à venda apenas para espetáculos dos dias 24 e 25, sendo 100 unidades com preço promocional (R$ 30); 88 unidades com preço de Inteira (R$ 40) e 90 unidades com preço de Meia (R$ 20).

A programação dos 40 anos do ICA terá diversos homenageados, como o ator Ubiratan de Assis, o repentista Raimundo Borges de Almeida (da Associação Cajazeirense dos Violeiros e Poetas Populares), Bia Cagliani (presidenta da Funesc) e Pedro Santos (secretário estadual de Cultura). A lista tem, ainda, duas homenagens in memoriam: Íracles Brocos Pires (que dá nome ao ICA) e o diretor e dramaturgo Eliézer Rolim, dois grandes nomes do teatro cajazeirense.

ICA - Ramificação da Funesc em Cajazeiras, o principal teatro da cidade leva o nome de Íracles Pires (conhecida como Ica), uma artista com grande atuação nos movimentos culturais do Sertão até meados dos anos 1970. O teatro foi inaugurado em 26 de janeiro de 1985 e conta com 278 lugares.

Por muitos anos, a artista e ativista cultural Íracles Pires manteve programa de rádio de grande audiência na cidade. Viveu a maior parte de sua adolescência no Rio de Janeiro, onde foi aluna do curso de teatro na Faculdade de Belas Artes e se entrosou com figuras do meio cultural. Depois de se casar com o médico Waldemar Pires Ferreira, Íracles foi residir em Cajazeiras.

Teve dois filhos: a arquiteta Jeanne Brocos Pires e o engenheiro Saulo Péricles (Pepé). Entre as peças que montou figuram 'Auto da Compadecida', 'Afilhada de Nossa Senhora da Conceição' e 'Fui eu… mas não espalhe'. Íracles Pires faleceu no dia 9 de março de 1979 em um acidente automobilístico na cidade de Jequié (BA).

PROGRAMAÇÃO OFICIAL
19/01 – DOMINGO
19h - Cerimônia de abertura e inauguração da Galeria Fotográfica com a exposição ‘Memórias’
20h – Apresentação ORQUESTRA SINFÔNICA PRIMA
20h30 – Exibição do curta-metragem ‘Cajazeiras sitiada’, de Janduy Acedino
20/01 SEGUNDA-FEIRA
17h - Espetáculo Infantil de circo ‘Viva o Circo’
18h - Espetáculo Infantil de dança ‘Raxa’
21/01 TERÇA-FEIRA
17h - Espetáculo Infantil de dança ‘Raxa’
18h - Espetáculo Infantil de circo ‘Viva o Circo’
22/01 QUARTA-FEIRA
17h - Contação de história Infantil ‘Meio mundo de histórias’
23/01 – QUINTA FEIRA
19h – Show musical ‘Senhor Cordel’
19h30 - Repente com Jonas Bezerra e Felipe Pereira
20h – Recital com Jessier Quirino
24/01 – SEXTA-FEIRA
19h – Homenagem in memorian Eliézer Rolim
19h30 - Espetáculo teatral ‘Beiço de estrada’
21h - Show musical
25/01 – SÁBADO
19h – Espetáculo teatral ‘Oh! Terrinha boa’
20h30 – Show musical com Flávio Leandro
26/01 – DOMINGO
19h30 – Grupo Dança de Rua da Paraíba - DRP
20h – Show com Seu Pereira & Coletivo 401

 


quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Espelho Rachado - Uma história de final de ano

 porJoão Batista de Brito

Escultura, título: Cabeça Construida nº 2. Autor: Naum Gabo's

Não tem jeito: todo final de ano lembro meu amigo Baxter. Um cara legal, talvez meio bobão, mas gente boa. Sua única mancada na vida foi aquela de se passar para emprestar seu apartamento de solteiro aos seus superiores no trabalho. Entendam: era naquele tempo em que não existia essa coisa prática chamada Motel, e, funcionário de uma grande Empresa de Seguros, ele achava que esses empréstimos escusos de seu modesto lar podiam lhe trazer promoções ou subidas de cargo.

Por causa disso, coitado, vivia debruçado sobre a agenda, marcando encontros para os outros. Nos dias e horários dos tais encontros, tinha que, depois do expediente, permanecer na rua por horas, mal acomodado nos bancos das praças, sujeito a frio e chuva, enquanto velhotes safados traçavam garotas de programa na sua cama. Negócio de doido.

E ele próprio, sem ninguém. A não ser que se diga que era meio caidinho pela ascensorista da Empresa, uma moça bonita e simpática que, se não correspondia ao flerte, ao menos era super gentil com ele.

Pois um dia, o que aconteceu? Baxter foi chamado ao último andar do arranha-céu da empresa, falar com o chefão. Sua tramoia havia sido descoberta, e quando ele estava para pedir perdão, foi o chefão quem falou: ao invés de condená-lo, pediu a duplicata da chave do apartamento, pois queria ser, a partir daquele dia, o único “freguês”.

E aquela foi, pra Baxter, mais uma metade de noite na rua. Ao voltar pra seu apartamento, achou no assoalho, um espelho de mão rachado. Devia ter havido briga entre o chefão e sua garota, fosse ela quem fosse. Guardou o espelho rachado e, no dia seguinte, teve o cuidado de entregá-lo ao chefão.

A recompensa pelo uso do apartamento desta vez veio rápido: Baxter foi promovido e mudou de sala, do andar em que estava para um outro, bem mais alto – e, na empresa, quanto mais alto o andar do prédio, mais prestígio.

Por coincidência, ele estava na sua nova e charmosa sala de trabalho, comemorando a promoção, quando a bela ascensorista apareceu. Provando um chapéu novo, ele perguntou a ela se combinava com sua postura, e aí, ela tirou da bolsa um espelho de mão e lhe deu pra que ele mesmo se mirasse. Foi nesse momento que o mundo de Baxter desabou: era o mesmo espelho rachado que ele encontrara no seu apartamento e devolvera ao chefão, ou seja, a amante escusa do chefão era ela, sua tão adorada e supostamente inocente ascensorista.

O baque foi grande, mas Baxter tentou se segurar. A carreira profissional de um homem não era mais importante que sua vida amorosa? Engoliu em seco e foi adiante. Quando o chefão solicitou seu apartamento no dia de natal, ele, claro, cedeu. Naquela noite, ficou pelos bares, tristonho, mas terminou arranjando uma paquera casual, que aceitou ir, sim, para o apartamento dele. Naquela hora, mais de meia noite, Baxter sabia que o chefão e a ascensorista já haviam encerrado o rendez-vous.

Ao chegar em casa, não prestou não. Abrindo a porta do quarto tomou o maior susto de sua vida: lá estava a moça, sim, sua linda ascensorista, em sua cama, desfalecida. Tentou acordá-la, mas que nada: na cabeceira da cama estava um frasco de comprimidos para dormir completamente vazio. E aí, foi um deus nos acuda. Telefonou imediatamente para o chefão, mas este alegou que tinha esposa e filhos e que não podia fazer nada; e sugeriu que Baxter, ele mesmo, resolvesse o problema. Assim, o pobre do Baxter se acudiu de um médico vizinho e amigo, e foram horas e mais horas de arrastar a moça desfalecida pelo apartamento, de lhe empurrar café goela abaixo, e de muitas outras providências e cuidados.

Quando a moça melhorou, terminou ficando uns dias no apartamento dele, e puderam conversar um bocado e à vontade sobre as coisas da vida e as dores do amor.

Voltando ao trabalho, Baxter foi chamado pelo chefão, que agradeceu suas providências e pediu, de novo, a chave do apartamento, desta vez uma cópia exclusiva. E foi aí que veio a redenção moral do nosso amigo Baxter: ele se negou a ceder a chave. O chefão ameaçou demiti-lo, e ele, impávido e altaneiro, aceitou a demissão de bom grado.

Na Noite de Ano, estavam a jovem ascensorista e o chefão num salão festivo de bar quando foi anunciado o nascer do novo ano. Ele virou-se de lado para brindar com todos, e ao voltar-se pra brindar com ela, a moça havia desaparecido. Vocês não vão acreditar, mas conto assim mesmo: não sei o que deu nela, que saiu correndo feito uma louca, e foi bater na porta do modesto apartamento de Baxter, o qual, no meio dos móveis empacotados para mudança, tinha, por coincidência, acabado de abrir uma garrafa de champanhe para comemorar o seu desemprego e desalento. Brindaram os dois e foram muito felizes depois daquele brinde. Creio que para sempre.

O espelho rachado? Ela jogou fora e comprou um outro, novinho em folha, como o ano que se iniciava.

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